Pacaembu: as etapas de uma reforma complexa e polêmica às vésperas da reabertura
- Decisão da Copinha 2025 entre Corinthians e São Paulo marca retorno do Pacaembu
- Reabertura ocorrerá com liminar provisória e público reduzido para 20 mil
Um gigante do futebol brasileiro está prestes a retornar com a promessa de um espetáculo inesquecível. Após quatro anos de reforma e muitos adiamentos, o Estádio Paulo Machado de Carvalho (atualmente nomeado Mercado Livre Arena Pacaembu) finalmente reabre suas portas justamente no ano em que completa 85 anos de história.
Neste sábado (25), o clássico São Paulo x Corinthians valendo o título da Copinha 2025 marca esta data especial para comemorar os 471 anos da maior metrópole do Brasil. Para deixar você mais informado com o retorno de um dos maiores palcos do esporte nacional, o 90min preparou um artigo especial destacando todo o processo envolvendo a reconstrução do complexo esportivo, desde suas modificações às polêmicas, destacando pontos que necessitam de maior atenção.
- Definição da concessão do Pacaembu para iniciativa privada
- Tobogã marcou início das obras e das polêmicas
- Novo Pacaembu: estádio de futebol ou centro de conveniência?
- Sucessíveis adiamentos com finalização das obras do Pacaembu
- Taça das Favelas: Pacaembu falhou em evento teste no fim de 2024
- Corinthians x São Paulo com alvará provisório
Definição da concessão do Pacaembu para iniciativa privada
Todo o projeto ganhou esboços iniciais a partir de 2017, quando o então prefeito João Dória incluiu o estádio em seu programa de privatizações alegando custo de R$ 40 milhões a cada quatro anos. No ano seguinte a Câmera Municipal aprovou a concessão do estádio - sem contar a Praça Charles Miller e o Museu do Futebol - para uma empresa privada durante 35 anos.
Após todo o processo de chamamento público, o ex-prefeito Bruno Covas assinou e a empresa Consórcio Patrimônio SP, renomeada posteriormente Allegra Pacaembu, assumiu a gestão em janeiro de 2020. A ideia prometia instalação de cadeiras nas arquibancadas e demolição do tobogã, reduzindo a capacidade do estádio para apenas 26 mil torcedores.
Tobogã marcou início das obras e das polêmicas
O início do processo de reforma ocorreu no dia 29 de junho de 2021, deixando os mais saudosos tristes com a imagem da demolição do tobogã, que concentrava a arquibancada mais popular do estádio e foi responsável por algumas das cenas mais marcantes. Houve resistência inicial por parte dos moradores da região em uma ação judicial movida pela Associação Viva Pacaembu.
Em janeiro de 2020 eles conseguiram uma liminar proibindo que o tobogã fosse derrubado, mas a Justiça recusou o pedido dois meses depois alegando que não havia ressalva específica do setor no registro do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Na época o governo municipal deu razão ao consórcio.
"O tombamento do Complexo do Pacaembu não inclui o tobogã, que, inclusive, não faz parte do projeto original. O argumento foi discutido na Justiça, com decisão favorável pela continuidade do processo de demolição. Como foi destacado, também durante a tramitação judicial, o tobogã foi alvo de críticas à época de sua construção justamente por descaracterizar o projeto original, ao substituir a concha acústica do estádio."
- Prefeitura de São Paulo em 2020
A Allegra Pacaembu seguiu em frente e pretendia a construção de um prédio de quatro andares térreos e outros três de subsolo com objetivo de promover eventos e convenções. Além disso, a área foi projetada para concentrar novos vestiários e sala de imprensa, dentre outros serviços.
Novo Pacaembu: estádio de futebol ou centro de conveniência?
Após seis meses do início das obras imagens que começaram a circular nas redes sociais mostraram um estádio completamente tomado por lama e entulhos, causando a justa sensação de que o "Pacaembu antigo” não existia mais. Ou seja, despertando o mesmo sentimento que muitos cariocas sentiram com a grande reforma do Maracanã para as Olimpíadas de 2016.
Com as chegadas de Neo Química Arena e Allianz Parque, Corinthians e Palmeiras deixaram de utilizar um estádio que sofria com estrutura precária, notabilizada pela falta de água quente em vestiários durante um treino da Seleção Brasileira. No entanto, o desafio assumido pela concessionária começara a ficar mais bem definido com a revelação de detalhes da obra, tendo a expectativa de fluxo de 7.500 pessoas por dia (3 milhões por ano) na região, com expectativa de bastante lucro extracampo.
A entrevista do CEO Eduardo Barella causou desconfiança em relação aos torcedores por causar a impressão de que o futebol seria tratado em segundo plano. O executivo não negou que terá dificuldades de atrair grandes partidas e dobrou a aposta.
"Por que a gente acredita, por exemplo, que o Flamengo possa vir jogar aqui uma ou duas vezes por ano? Porque vai ter uma experiência diferente. O torcedor vai se hospedar no hotel, vai andar por dentro do estádio e sair já na cadeira dele. Vai acabar o jogo, o patrocinador vai poder fazer uma ativação no centro de convenções, um meet and greet com ex-jogadores. Você tem isso lá fora quando vai em uma Copa do Mundo. É um pouco do que o americano faz na NBA e na NFL."
- Eduardo Barella à revista "Placar"
Sucessíveis adiamentos com finalização das obras do Pacaembu
Primeiro adiamento: junho de 2023
Previsto inicialmente para ser entregue outubro de 2022, o cronograma foi estendido pela primeira vez para junho de 2023, com os responsáveis alegando consequências da Covid-19. Vale destacar que o local foi utilizado para abrigar hospitais de campanha durante os momentos mais agudos da pandemia que causou fortes impactos em todo o Brasil.
Segundo adiamento: janeiro de 2024
Um mês antes do segundo prazo para a reabertura, inspeções realizadas pelos Bombeiros constataram atrasos estruturais. Os responsáveis garantiram que tudo estaria pronto no primeiro semestre de 2024, com a disputa da final da Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Terceiro adiamento: dezembro de 2024/janeiro de 2025
Em dezembro de 2023 tivemos um anúncio foi feito por um secretário-executivo da Prefeitura de São Paulo em entrevista à TV Globo, sem nenhuma divulgação de nota oficial, informando mais um atraso. Com isso, a decisão da Copinha 2024 ente Corinthians e Cruzeiro acabou sendo realizada em Itaquera. Desde então todo o complexo passou por novos ajustes.
Taça das Favelas: Pacaembu falhou em evento teste no fim de 2024
Com objetivo de preparar a retomada definitiva, a concessionária abriu as portas em dezembro de 2024 para a realização das finais da Taça das Favelas. No entanto, o sistema de drenagem não resistiu a uma tempestade que atingiu a cidade de São Paulo provocou alagamento considerável em diversos pontos do gramado.
Além disso, um dos pedaços de tapume (com parte das obras de lojas que ainda estava em andamento) acabou se soltando indo em direção ao gramado graças à corrente da água.
"Uma tubulação de águas pluviais que recebe contribuição dos bairros vizinhos, localizada na Alameda Leste do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, se rompeu devido à pressão das águas. Será conduzida uma apuração para determinar as causas desse refluxo. Destacamos ainda que é uma área que o público do Estádio não acessa, porém, espaços de apoio à operação ficaram prejudicados."
- Nota oficial da Allegra Pacaembu
Corinthians x São Paulo com alvará provisório
Contando com custo total elevado para R$ 800 milhões, o Pacaembu teoricamente está pronto para receber o clássico Majestoso neste sábado (25). Partes fundamentais para o funcionamento do estádio estão prontos, mas há questões que cercam a entrega do complexo.
O consórcio conseguiu um alvará provisório junto à Secretaria de Licenciamento e Urbanismo (Smul) para realizar o evento esportivo caso tenha limitação para apenas 20 mil torcedores sentados. No entanto, vale destacar que este alvará foi concedido antes da definição dos finalistas, levantando preocupações em relação à segurança.
Conforme apuração do site “G1”, a Federação Paulista de Futebol permite que jogos sejam realizados no estado de São Paulo apenas em estádios prontos e com alvará das prefeituras. Porém, o aceite definitivo da obra do Pacaembu está atrasado devido a intervenções não planejadas no contrato assinado em 2019, além da falta de um gesto de fiscalização por conta do remanejamento de cargo do advogado Eduardo Cappellini em janeiro deste ano, após quase cinco anos de obras.
As circunstâncias que envolvem a reinauguração do Pacaembu podem inviabilizar a realização de novas partidas, mesmo que a Portuguesa tenha chegado a um acordo com o Mercado Livre (responsável pelos naming rights) e o consórcio para mandar jogos no estádio durante do Campeonato Paulista porque o Canindé também foi fechado para reparos. Vale ficar de olho para que isso não cause mais constrangimentos para o torcedor do futebol brasileiro.