Do paraíso ao caos: o que mudou no Fluminense desde o título inédito da Libertadores em 2023

  • Tricolor Carioca celebrou a maior conquista de sua história em 2023
  • Ano seguinte à "temporada dos sonhos", no entanto, está sendo marcado por frustrações
Fluminense foi de campeão da América em 2023 à candidato ao rebaixamento em 2024
Fluminense foi de campeão da América em 2023 à candidato ao rebaixamento em 2024 / CARL DE SOUZA/GettyImages
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4 de novembro de 2023 pode ser uma data qualquer para muita gente. Mas para o torcedor do Fluminense, trata-se de um dia eterno, catártico, para sempre associado a uma das maiores alegrias já vivenciadas pelo clube das Laranjeiras (e sua gente) em sua centenária existência: há exatamente um ano, o Tricolor Carioca conquistava a América pela primeira vez, exorcizando em definitivo o "fantasma" de 2008 e erguendo a tão sonhada Conmebol Libertadores.

Marcado por grandes exibições coletivas, duas taças conquistadas (Carioca e Libertadores) e o vice-campeonato no Mundial de Clubes, o ano de 2023 ficou gravado, nas mentes e corações, como a "temporada dos sonhos" para o torcedor tricolor. Contudo, apenas 365 dias depois de alcançar a Glória Eterna, o Fluminense se vê em um contexto completamente oposto e contrastante ao dia quatro do mês onze passado: eliminado das copas e ameaçado pelo rebaixamento no Brasileirão, o único objetivo remanescente para o clube em 2024 é a permanência na elite, ambição modesta que não faz justiça à quem ostenta, ao menos até dia 30/11, o status de atual campeão da América.

Mas como explicar uma mudança tão drástica de realidade? O que aconteceu nas Laranjeiras desde o título inédito da Conmebol Libertadores, celebrado no Maracanã há exatamente um ano? A seguir, o 90min tenta encontrar respostas para este Fluminense "de contrastes", que foi do paraíso ao caos, do céu ao inferno, em apenas 365 dias.

Erros de avaliação no mercado de janeiro

Renato Augusto
Renato Augusto foi contratado pelo Fluminense ao final de 2023 / Wagner Meier/GettyImages

Por ter vencido a Conmebol Libertadores da temporada anterior com um elenco de alta média etária e recheado de jogadores "desenganados", o Fluminense tentou repetir a receita em 2024, envelhecendo ainda mais o seu plantel com as chegadas de Renato Augusto (36 anos), Douglas Costa (34), Felipe Alves (36), Gabriel Pires (31) e Antônio Carlos (31), investidas modestas para quem pretendia competir por títulos em 2024.

O primeiro mercado de transferências do campeão da América acabou, com o passar do tempo, se comprovando como um fracasso retumbante: dentre os nomes citados, nenhum conseguiu vingar ou se estabelecer como titular, e alguns deles já até deixaram as Laranjeiras.

Dentre os muitos erros de avaliação e atuação do Tricolor Carioca na janela inaugural do ano, o principal deles foi, sem sombra de dúvida, não ter investido em uma reposição de peso para Nino. O clube parece ter subestimado o enorme impacto do zagueiro e seu papel para o bom funcionamento do time no estilo de jogo de Diniz. Somente oito meses depois, com a chegada de Thiago Silva, o Fluminense voltou a ter, em campo, um defensor de peso técnico e qualidade no passe.

Pré-temporada tardia e All-in pela Recopa Sul-Americana = lesões em profusão

Keno
Keno conviveu com lesões em 2024 / Etsuo Hara/GettyImages

Em virtude da disputa do Mundial de Clubes ao final de 2023, o elenco principal do Fluminense se reapresentou tardiamente (última semana de janeiro) para a realização da pré-temporada em 2024, tendo apenas um mês para se preparar para a primeira grande final de seu calendário no ano: a revanche contra a LDU, de Quito, valendo o título da Recopa Sul-Americana.

Foram quatro semanas de atividades intensas visando ter o plantel titular em boas condições de jogo diante dos equatorianos, objetivo atingido pelo Tricolor Carioca, mas com um custo alto para o decorrer da temporada: a sobrecarga de treinos e a falta de tempo hábil para uma pré-temporada mais completa culminou na disparada no número de lesões deste grupo de jogadores, que em 2023, teve como grande virtude o fato de ter conseguido se manter saudável.

Acomodação e previsibilidade: Fluminense deixa de ser novidade

Fernando Diniz
Fluminense não conseguiu mostrar repertório em 2024 / Wagner Meier/GettyImages

Janela equivocada, pré-temporada apressada, lesões em profusão... Todos os pontos anteriores colaboraram para um ano difícil para o Fluminense, mas nada foi tão nocivo quanto a acomodação causada pelas conquistas de 2023. Montar um elenco vencedor e erguer troféus ajuda no processo de construção de uma mentalidade vencedora, mas esta terá tempo de validade curto se não for regada e alimentada constantemente – um dos clubes que faz isso muito bem é o Palmeiras de Abel Ferreira, que mantém a fome de taças alta, ano após ano.

Além de "baixar a guarda" em seu espírito competitivo, o Tricolor Carioca perdeu uma das coisas que era sua aliada em 2023: o fator novidade. Adversários passaram a entender como neutralizar todas as virtudes do estilo de jogo de Diniz e aprenderam, também, a como explorar suas vulnerabilidades. Era o momento de fazer adaptações, buscar alternativas e mostrar repertório, algo que o treinador não conseguiu extrair do grupo com 2024 em andamento.

Mas a culpa, obviamente, não pode ser delegada somente ao comandante: a desmobilização de referências do elenco em 2023, como John Kennedy e Marcelo, e a atuação bastante questionável da diretoria na gestão do futebol – com direito ao pedido de demissão de Fred, então diretor de planejamento esportivo do clube, no auge da crise tricolor em 2024 –, também foram cruciais para o desenrolar dramático de ano nas Laranjeiras.

Mano Menezes: movimento tardio e pouco criativo para contenção de danos

Mano Menezes
Mano Menezes não vive os melhores anos de sua carreira / Wagner Meier/GettyImages

De um extremo ao outro: ao decidir pela demissão de Fernando Diniz em 24 de junho, momento da temporada em que a equipe estava afundada na lanterna da Série A, a diretoria do Fluminense optou por uma via conservadora de reposição, apostando no veterano Mano Menezes, conhecido por suas ideias de jogo mais convencionais e pragmáticas. Este "choque de ordem" até mudou animicamente o ambiente nas Laranjeiras, mas a mudança radical de filosofia de futebol, implementada com a temporada em andamento, acabou sendo fatal para o Tricolor nos jogos eliminatórios.

Pressionado pelo cenário desolador no Brasileirão e com uma nova identidade ainda em construção, o Fluminense foi presa fácil no mata-mata da Copa do Brasil e da Copa Libertadores, dando adeus ao sonho de conquistar mais um troféu além da Recopa em 2024. Agora, com apenas seis jogos remanescentes no calendário do clube até o fim da temporada, podemos dizer que o torcedor tricolor tem apenas dois desejos: os 45 pontos e a reformulação geral para 2025.


E a escalação? Mudou muito? Tire suas conclusões...

River Plate v Fluminense - Copa Libertadores
Fluminense viu sua escalação mudar bastante em um ano / Anadolu/GettyImages

Escalação base do Fluminense em 2023: Fábio; Samuel Xavier, Nino, Felipe Melo, Marcelo; André, Martinelli, Paulo Henrique Ganso; Keno, Arias, Cano.

Escalação base do Fluminense hoje (novembro/24): Fábio; Samuel Xavier, Thiago Silva, Thiago Santos, Diogo Barbosa; Bernal, Martinelli, Paulo Henrique Ganso; Lima, Arias, Kauã Elias.


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