38 dias para a Copa do Mundo: 1938, o ano em que a Itália foi bicampeã e Leônidas da Silva colocou o Brasil no topo

Copa do Mundo de 1938 teve boicote, recordes que ainda persistem até hoje e o Diamante Negro que mudou a história da Seleção Brasileira
Copa do Mundo de 1938 teve boicote, recordes que ainda persistem até hoje e o Diamante Negro que mudou a história da Seleção Brasileira / Arte: Eduardo Fricks
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Faltam 38 dias para a abertura da Copa do Mundo do Catar. Então vamos voltar até 1938, para entrar no clima de TBT (Throwback Thursday) desta quinta-feira (13), com a história de um Mundial pioneiro em diversos aspectos. Um deles envolve Leônidas da Silva, atacante do Flamengo e da Seleção Brasileira que foi o artilheiro e eleito craque daquele torneio.

A intimidade com a bola para balançar as redes e a habilidade fizeram com que ele fosse imortalizado na figura que popularizou o gol de bicicleta e renderam apelidos como Homem Borracha, como é conhecido internacionalmente, e Diamante Negro, o que despertou atenção da marca de chocolates Lacta para batizar um novo produto com o nome daquele que era um fenômeno de popularidade no país e que, assim, virou um dos símbolos do até então pouco explorado marketing esportivo.

Para entender melhor por que Leônidas foi um divisor de águas na história do futebol brasileiro é preciso viajar no tempo.

As principais potências na América do Sul eram Argentina e Uruguai - este último recebeu e venceu o primeiro Mundial em 1930. Quatro anos mais tarde a Itália repetiu a dose como anfitriã, e logo adiante viria se tornar a primeira nação a conquistar o mundo duas vezes seguidas.

Aquela geração tinha Vittorio Pozzo, até hoje o único técnico bicampeão mundial. E foram eles os responsáveis pela eliminação do Brasil, com gol de Giuseppe Meazza, o mesmo que anos mais tarde virou o nome do principal estádio de Milão, localizado no bairro San Siro, atual casa de Milan e Internazionale.

Nos anos 30, o Brasil vivia uma fase de transição entre o amadorismo e o profissionalismo nas quatro linhas e Ademar Pimenta comandava a seleção canarinho, que na época vestia branco e além de Leônidas tinha craques como Domingos da Guia, Romeu Pellicciari e Perácio, dentre outros.

Realizada na França, país natal do então presidente da Fifa, Jules Rimet, a Copa de 38 aconteceu às vésperas da II Guerra Mundial e um congresso em 1936 definiu a sede, o que irritou os sul-americanos, que reivindicavam um rodízio entre os continentes e boicotaram aquela edição. A exceção foi o Brasil. Aquela Copa teve um predomínio de europeus, que ficaram com 12 das 15 vagas, e marcou a primeira - e única - participação de Cuba no torneio, que virou mais global ao inserir a Ásia, representada pelas Índias Orientais Neerlandesas, atual Indonésia.

O destino verde e amarelo poderia ter sido diferente se o Brasil tivesse em campo Leônidas da Silva, que estava machucado. Afinal, logo na estreia da Copa ele anotou um hat-trick contra a Polônia, que chegou a empatar o jogo e levou para a prorrogação, mas no final os europeus perderam por 6 a 5.

Em seguida veio a extinta Tchecoslováquia, um jogo tenso e violento marcado por entradas ríspidas. Zezé Procópio deixou o Brasil com um a menos, mas Leônidas abriu o placar. Mais tarde ele se machucou e Nejedly empatou, então como o regulamento previa um jogo de desempate para saber quem avançaria de fase, o craque brasileiro foi para o sacrifício. Desta vez os tchecos saíram na frente com Kopecky, mas novamente Leônidas e Roberto viraram.

A classificação veio, mas o artilheiro não conseguiu se recuperar a tempo e o 2 a 1 para os italianos no Vélodrome, em Marselha, fez com que eles disputassem a final.

A Seleção Brasileira sobe ao pódio pela primeira vez

E teve outro show de Leônidas na despedida brasileira da Copa, a vitória por 4 a 2 sobre a Suécia com dois gols dele que renderam o 3º lugar, a melhor classificação do país até então.

No Flamengo, Leônidas tem média de gols superior a Zico

Carioca de São Cristóvão, Leônidas nasceu em 6 de setembro de 1913, iniciou a carreira no clube do bairro e despontou no Bonsucesso, que tem um estádio que leva seu nome localizado na zona norte do Rio de Janeiro. A projeção internacional veio com um cartão de visitas mais emblemático. Convocado para a Seleção Brasileira, estreou em alto nível, marcando os gols na vitória por 2 a 1 sobre o Uruguai, e chamou atenção do Peñarol, que o contratou.

Lesões o impediram de continuar no país vizinho, mas ainda assim se despediu de lá com 28 gols em 25 jogos. Depois atuou no Vasco e Botafogo, mas virou ídolo no Flamengo e no São Paulo. A passagem pela Gávea foi entre 1936 e 1941 e neste período anotou 153 gols em 149 jogos, a maior média de gols da história rubro-negra. O próprio clube fez questão de ressaltar o feito, citando que seu maior ídolo, Zico, tem 0,69 de média.

O maior público da história do Pacaembu

Já no Tricolor do Morumbi ele chegou em 1942, na maior transação do futebol sul-americano da época, e teve recepção de gala, com festa ao desembarcar em São Paulo e recorde de público do Estádio do Pacaembu, com 70 mil torcedores para ver a estreia dele com a camisa são-paulina, um empate em 3 a 3 diante do Corinthians.

Dali em diante foram 212 jogos (137 vitórias, 36 empates, 38 derrotas), 144 gols - até hoje está no Top10 de artilheiros do clube, ajudou o time que ficou conhecido como Rolo Compressor a vencer três edições do Campeonato Paulista em quatro anos (1943, 1945 e 1946) e ainda levantou a taça em 1948 e 1949, dentre outros títulos. O Diamante Negro é lembrado nas paredes e tem estátua no Estádio do Morumbi.

Quando pendurou as chuteiras Leônidas ainda foi dirigente, técnico e comentarista esportivo, estendendo uma carreira que lhe rendeu prêmios como profissional da imprensa. O gênio da bola teve problemas de saúde, foi diagnosticado com Alzheimer e faleceu em 24 de janeiro de 2004, aos 90 anos, em Cotia, região metropolitana de São Paulo.