5 medidas que o futebol poderia adotar para ser mais inclusivo à população LGBTQIA+
Por Antonio Mota
Amado no Brasil, o futebol é o esporte mais popular e mais praticado no mundo. Há quatro anos, em meados de 2018, por exemplo, mais de 3,5 bilhões de pessoas – isto é, quase metade da população mundial – ao redor do planeta acompanharam ao menos uma parte da cobertura da Copa do Mundo da Rússia, segundo dados da Fifa. Ou seja, existem torcedores e amantes do esporte em todos os cantos do globo terrestre.
Mas será que esse tão amado "jogo" é feito para todos e todas? A resposta seguramente é não. O futebol nasceu e cresceu em ambientes heteronormativos que repelem mudanças e rejeitam tudo o que foge da sua origem preconceituosa, cujas frases, cânticos e atitudes contra grupos minoritários são vistas como “normais”. A comunidade LGBTQIAP+, por exemplo, é rotineiramente atacada e renegada dentro e fora das quatro linhas do esporte.
Isso, no entanto, não é algo imutável. Ao contrário. Pode e deve mudar! Nesta terça-feira, 28 de junho de 2022, Dia Internacional do Orgulho LGBT, veja 5 medidas que o futebol poderia adotar para ser mais inclusivo à população LGBTQIAP+.
1. Do juvenil ao profissional: o futebol precisa integrar a comunidade LGBTQIAP+ dos mais novos aos mais velhos
Quantas crianças e adolescentes não são repelidos pelo ambiente nocivo e preconceituoso do futebol todos os anos?
O futebol é uma paixão mundial, como destacado acima, mas nem sempre esse esporte tão amado e praticado se mostra apto a receber quem não se encaixa no padrão heteronormativo. Por isso, é necessário que clubes, entidades e demais responsáveis desenvolvam medidas para tornar esse ambiente mais aberto e inclusivo para a comunidade LGBTQIAP+ do juvenil ao profissional.
Ou seja, o meio precisa criar iniciativas e educar crianças e adolescentes acerca da importância e necessidade de se respeitar e incluir esse grupo. E além disso, também é importante que essas ações façam com que a população LGBTQIAP+ se sinta pertencente ao esporte.
Já em relação aos profissionais, aos adultos, é preciso propor o debate, informar e colocar em prática ações concretas para a inclusão dessas pessoas. Os jogadores, além de dirigentes e demais “produtores” do jogo, são peças-chave do esporte e não podem se abster de temas tão cruciais para a construção de uma sociedade melhor e mais inclusiva.
2. O futebol precisa ter mais responsabilidade e atenção com a comunidade LGBTQIAP+
Referência histórica de combate ao racismo e aos mais diversos tipos de preconceito, o Vasco vem levantando cada vez mais bandeiras em prol de “Respeito, Igualdade e Diversidade”. Recentemente, torcidas organizadas do clube assinaram Código de Conduta Ética elaborado pelos departamentos Jurídico e de Integridade da equipe. Nele, as uniformizadas se comprometeram a adotar práticas de transparência e estimular a luta contra violência, assédio e discriminação nos estádios de futebol.
“O Vasco é a comunidade que o acompanha. E essa comunidade faz o que é o correto e não apenas o que é mais fácil. A luta contra a homofobia e contra a transfobia não pode passar ao largo do nosso clube e daqueles que o seguem. Se o futebol é um vetor de mudança da sociedade, a torcida do Vasco decide por se posicionar, mais uma vez, em favor do respeito, igualdade e diversidade. E conclama a todas as torcidas do futebol brasileiro a fazer o mesmo”, diz trecho do Manifesto das Torcidas do Vasco da Gama.
A atitude do Vasco é gigante e aponta caminho para vários outros clubes do Brasil e do mundo. As equipes, bem como entidades, governos e demais envolvidos, precisam se posicionar, chamar responsabilidade e olhar com atenção para as demandas da comunidade LGBTQIAP+. Aliás, muitos times do chamado “País do Futebol”, inclusive muitos que se autoproclamam “Time do Povo”, sequer têm um departamento de Diversidade e/ou políticas ativas de contratação de pessoas desse grupo.
Afinal, de qual “povo” em especial esses times estão falando?
3. O futebol precisa ser melhor aproveitado como uma ferramenta de conscientização e mudança
O esporte é uma excelente ferramenta de transformação social e o futebol, por ser tão popular e estar espalhado em todo o mundo, acaba por se destacar também nesta batalha. O futebol faz parte da vida de bilhões de pessoas e poderia fazer uma diferença maior, levando mais conhecimento e dando visibilidade a temas que muitas vezes são negligenciados, como é o caso da violência contra a comunidade LGBTQIAP+ dentro e fora das quatro linhas.
Por ser tão grandioso, o futebol tem fácil acesso aos mais diversos lugares do planeta e poderia facilmente utilizar dessa profundidade e transitividade para levar o tema, informar e, com seu potencial, ultrapassar os limites do campo, bola e arquibancada e ativar diretamente a sociedade. É aproveitar a magnitude desse esporte e explorá-lo como uma ferramenta de inclusão social.
Clubes, federações, confederações e demais envolvidos nos bastidores do jogo podem criar projetos, fomentar debates e realizar diversas iniciativas de apoio à comunidade LGBTQIAP+ por meio de ações no futebol.
4. O futebol precisa olhar para si próprio e quebrar as barreiras do marketing e das frases de apoio
A Fifa e várias das principais organizações do futebol mundial não estão prontas para falar abertamente sobre questões de inclusão social, combate ao preconceito e outras demandas socioculturais. Na Copa do Mundo do Catar, por exemplo, os torcedores não poderão expor bandeiras nas cores do arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIAP+, ou simplesmente demonstrar afeto por outro ser humano em público.
“Se ele (torcedor) levantou a bandeira do arco-íris e eu a peguei dele, não é porque eu realmente quero insultá-lo, mas para protegê-lo. Porque se não for eu, alguém ao redor dele pode atacá-lo... Não posso garantir o comportamento de todo o povo. E eu direi a ele: 'Por favor, não há necessidade de levantar essa bandeira neste momento”, disse o major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari, que é diretor do Departamento de Cooperação Internacional e presidente do Comitê Nacional de Contraterrorismo do Ministério do Interior, em conversa com a AP.
A diretora de responsabilidade Social e Educação da Fifa, Joyce Cook, diz que a postura da entidade não é essa. Quem, afinal, garantirá a segurança da população LGBT+ no país?
Ou seja, estão preparados para receber o dinheiro dessas pessoas, mas não para aceitá-las. E é aí que vive um dos grandes problemas do futebol. As instituições que estão por trás do esporte pararam no tempo e não estão aptas a abordar determinadas questões. É hora de mudar, de transformar e de o futebol olhar para si e se transformar.
Campanhas, imagens e frases de apoio não atendem a real demanda dessas questões. As organizações precisam agir, trabalhar e atingir o alvo de maneira direta. Os cartazes “No to Racism”, da UEFA, por exemplo, são válidos, mas não reduzirão o racismo no esporte.
5. O futebol precisa de punições mais duras e eficientes para atos de violência contra a comunidade LGBTQIAP+
Para além de medidas de inclusão e de campanhas educativas e de conscientização, o futebol também precisa adotar punições mais duras e eficientes contra quaisquer formas de preconceito, como a homofobia e a transfobia. Milhares de casos de violência contra a comunidade LGBTQIAP+ já foram ignorados ou tratados com pouca atenção ao longo da história do esporte e isso não pode mais acontecer.
Os governos e entidades responsáveis precisam elaborar leis mais pesadas e inflexíveis e penalidades que realmente sejam sentidas por clubes, jogadores, torcedores e demais autores de atos de intolerância e desrespeito no meio do esporte. Os times, por exemplo, têm que perder pontos, ser eliminados de torneios etc., e não apenas pagar multas que beiram o ridículo para instituições milionárias.
É necessário mostrar, também em formas de punição, que não há margem para o preconceito no futebol – e na sociedade.