51 dias para a Copa do Mundo: aos 51 anos, Mário Vianna foi o árbitro brasileiro mais velho a atuar em uma Copa
Por Nathália Almeida
Profissão ingrata por inúmeras razões - a começar pelo fato de que, em alguns lugares do mundo, nem profissão reconhecida é -, árbitro de futebol não costuma ser lembrado ou exaltado por bons motivos: quando um deles adentra o imaginário popular ou preenche os noticiários esportivos, é porque errou. Com isso, suas histórias de vida raramente são contadas: são reduzidos apenas às decisões que tomaram enquanto estiveram em ação durante os 90 minutos daquela partida.
Faltando apenas 51 dias para o início da Copa do Mundo do Catar, o 90min rompe este ciclo e conta a história de vida de Mário Gonçalves Vianna, que entre polêmicas e bordões que estão na memória dos torcedores da "velha guarda", dedicou uma vida quase inteira ao esporte mais popular e amado deste país.
Nascido no Rio de Janeiro em 6 de setembro de 1902, Mário Gonçalves Vianna fez "um pouco de tudo" antes de mergulhar no universo da arbitragem: baleiro, engraxate, jornaleiro, empacotador em uma fábrica de velas... Tudo isso até chegar à Policia Especial, unidade militar formada no início dos anos 30 durante o Governo Vargas. Lá, começou a conduzir partidas de futebol entre policiais, sendo essa sua primeira experiência "informal" como árbitro.
Seu estilo um tanto quanto imponente e durão impunha respeito entre os policiais, ao ponto de seus colegas incentivarem sua entrada em um curso de especialização para atuar como árbitro na Liga Metropolitana, espécie de entidade precursora/embrionária do que se tornaria a Federação Carioca. E assim se deu o início da jornada de Mário Vianna pelos gramados do Rio de Janeiro.
Das escalas em jogos do Campeonato Carioca, Vianna foi crescendo e chamando mais atenção, passando a receber oportunidades em partidas importantes do futebol brasileiro. Apesar de sua fama de rigoroso - foi o responsável pela única expulsão da carreira de Domingos da Guia -, tinha o respeito dos atletas e das entidades esportivas, o que lhe rendeu um convite para atuar na Copa do Mundo de 1950, a primeira em solo brasileiro.
No entanto, sua carreira arbitrando partidas do primeiro escalão internacional seria encurtada por um motivo bem simples: seu temperamento. Durante sua participação na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, acusou a FIFA de corrupção, chamando a alta cúpula da organização de "camarilha de ladrões". Como consequência à declaração, acabou sendo expulso do quadro de árbitros da entidade.
Sua presença no Mundial de 1954, competição na qual foi escalado para conduzir a partida entre Suíça x Itália, sacramentou um recorde que perdura até os dias de hoje e que motivou a elaboração desta pílula histórica: com 51 anos, 9 meses, e 11 dias de idade, Mário Vianna se tornou o árbitro brasileiro mais velho a atuar em um jogo de Copa do Mundo. Reza a lenda que, neste mesmo jogo, o juiz carioca chegou "às vias de fato" com Boniperti, atacante italiano que o empurrou enquanto questionava uma de suas decisões.
Em 1957, depois de 25 anos dedicados à arbitragem, Vianna "pendurou o apito" e passou a se dedicar ao futebol de outra forma: chegou a se aventurar como treinador, mas deu mais certo como comentarista, sendo contratado nos anos 60 pela Rádio Globo. Entre transmissões históricas ao lado de lendas do radialismo brasileiro como Jorge Curi e João Saldanha, cunhou diversos bordões que até hoje são lembrados por muitos torcedores "das antigas".
Mário Vianna, com dois enes, está na história das Copas do Mundo.