66 dias para a Copa do Mundo: o ano da Inglaterra, do gol de Hurst e da persistência de uma nação
Por Lucas Humberto
Uma rápida olhada nas arquibancadas da última Eurocopa em dia de Inglaterra em campo e você veria dezenas de cartazes com os dizeres: "Football's coming home!". Na decisão, o troféu acabou indo parar em Roma. Um pequeno erro de tradução, talvez. Outra taça deixada pelo caminho, e mais alguns anos de jejum para os Três Leões.
A sede de títulos dos britânicos atravessa gerações. Literalmente. Em suma, a única conquista relevante da seleção aconteceu em 1966, ano da inédita Copa do Mundo. À época, as torcidas ao redor do globo testemunhavam aquela que seria a oitava edição do campeonato. Sediado na própria Inglaterra, o evento recebeu 16 times nacionais.
A etapa dos grupos aconteceu entre 11 e 20 de julho. Classificaram-se Inglaterra, Uruguai, Alemanha Ocidental, Argentina, Portugal, Hungria, União Soviética e Coreia do Norte. Destaque para a equipe lusa, que contou com o brilho do histórico Eusébio para, em sua primeira participação em Copas, conduzir uma campanha invicta de nove gols anotados e apenas dois sofridos.
Era hora do mata-mata. Nas quartas, os Três Leões bateram a Argentina, por 1 a 0, com gol de Geoff Hurst. Na semifinal, um verdadeiro deleite de futebol. Embalado pelo 4 a 3 diante da Coreia do Norte, com direito a hat-trick de Eusébio, Portugal dava várias pistas de que poderia destronar os donos da casa e garantir a vaga na final.
Mas, dois gols de Bobby Charlton - sim, aquele dos Busby Babes - rechaçaram tal possibilidade. A Inglaterra estava na decisão. Do outro lado, a Alemanha Ocidental de Helmut Haller e Franz Beckenbauer. No centro, 98 mil pessoas em Wembley. Era o enredo dos sonhos de qualquer simpatizante do English Team.
Uma dobra no tempo
Aos 12 minutos do primeiro tempo, Haller abriu o placar para a Alemanha Ocidental. Quatro minutos depois, Hurst igualou. Já na segunda parcial, Martin Peters colocou os Três Leões em vantagem. Restando segundos para o apito final, Wolfgang Weber empatou novamente. Era hora da prorrogação. Mas não seria tão simples assim...
Hurst, incansável, chutou. A bola bateu no travessão e quicou exatamente sobre a linha. Gol validado, mas não sem polêmica. Um estudo realizado em 2016 pelo tradicional Monday Night Football, da Sky Sports, mostrou que o tento foi, de fato, legal. No último minuto do duelo derradeiro, Hurst marcou de novo, sagrando-se o primeiro jogador a anotar três vezes em uma final de Copa.
Curiosamente, em 2010, contra o mesmo adversário, os ingleses viram Frank Lampard mandar a bola no travessão para, em seguida, atravessar a linha. Mas, desta vez, o gol não foi validado. Se houvesse árbitro de vídeo, a história poderia ter sido bem diferente. Uma nova chance perdida de sentir o prestígio do topo do mundo...
Com VAR, artilheiros e uma torcida que nunca deixou de ser apaixonada, a Inglaterra estreia na Copa do Mundo do Catar no dia 21 de novembro, contra o Irã. A seleção de Gareth Southgate está no Grupo B. Estados Unidos e País de Gales completam a chave. Será que desta vez o futebol volta para casa? Roma certamente não está entre os destinos possíveis.