83 dias para a Copa do Mundo: a chance perdida do futebol húngaro em 1954
Ah, o eterno debate: vencer ou jogar bonito? Nem sempre opostos, nem sempre uma dicotomia -- principalmente quando o assunto é futebol. A trajetória de alguns esquadrões são a prova histórica de que é possível fazer os dois, como a Hungria, que encantou o planeta com vitórias emblemáticas, como o 8 a 3 sobre a Alemanha Ocidental no Mundial de 1954. Este é o tema da nossa contagem regressiva hoje, afinal, faltam 83 dias para a Copa do Mundo do Catar!
Imagine um time que está há 32 jogos sem perder. Mais precisamente, uma equipe que não sabe o que é ser derrotada há seis anos. Esta era, precisamente, a seleção húngara da década de 50, comandada por Guzstáv Sébes e com Ferenc Puskás, Sándor Kocsis e Nándor Hidegkuti no elenco. O fantástico esquadrão húngaro havia sido campeão dos Jogos Olímpicos de 1952 e, em crescente evolução, venceu a invicta Inglaterra no ano seguinte, em pleno Wembley, por 6 a 3, na que ficou conhecida como a "partida do século". A Hungria se tornou a primeira seleção da Europa a vencer os ingleses em sua casa.
O destino parecia certo e a maior glória do futebol soava inevitável: a Hungria chegava ao Mundial de 1954, na Suíça, como favorita ao título. Na fase de grupos, um atropelo atrás do outro: 9 a 0 em cima da Coreia do Sul e um surpreendente 8 a 3 sobre a Alemanha Ocidental, que também vinha goleando seus rivais (7 a 1 sobre a Turquia e 6 a 1 contra a Áustria).
Nas quartas de final, vitória sobre o Brasil por 4 a 2 no episódio que ficou conhecido como "Batalha de Berna" - três jogadores expulsos no segundo tempo: Nilton Santos e Humberto Tozzi, do lado verde e amarelo, e Jozsef Bozsik, do lado húngaro. Na semifinal, outro 4 a 2, agora em cima do Uruguai, então campeão do mundo.
Era chegada a hora: final de Copa do Mundo, e os Magiares Mágicos da Hungria reencontravam a Alemanha Ocidental, no estádio Wankdorf, em Berna, capital suíça. Chovia muito, condição que prejudicava o futebol rápido, de passes e transição dos húngaros, que fazia os olhos dos mais de 60 mil espectadores brilhar, e ajudava o futebol de força alemão. Além disso, o craque Ferenc Puskás não se encontrava em sua melhor condição física. Ele havia sofrido uma lesão no tornozelo, ainda na fase de grupos, contra aquele mesmo rival. Mesmo assim, colocou sua seleção à frente no placar aos seis minutos do primeiro tempo. Depois, aos oito, Zoltán Czibor fez mais um. Tudo parecia encaminhado.
No entanto, a resposta veio rápida. Com gols aos 10 e aos 19 minutos, a Alemanha Ocidental empatou, com uma postura totalmente diferente do time que perdeu por 8 a 3 na primeira fase do torneio. No final do segundo tempo, Helmut Rahn anotou para a virada alemã, e Puskas ainda faria um, mas impedido.
Fim de jogo e um milagre tomava do conta do estádio: o Milagre de Berna. A Alemanha conquistava seu primeiro título da Copa do Mundo com a torcida cantando junto o hino nacional. Já a Hungria perdeu a maior chance de sua história e nunca mais produziu jogadores com o nível daquela geração. A derrota foi um desastre e, dois anos depois, em 1956, o país foi invadido pelas tropas soviéticas e os jogadores deixaram o país. A taça ficou com a Alemanha, mas aquela Hungria será para sempre lembrada.
Ah, a magia das Copas!