A coragem de ser Joshua Cavallo em um mundo de Maurício Souza
Por Lucas Humberto
Joshua Cavallo, do Adelaide United, time da primeira divisão australiana, assumiu ser homossexual. Se o mundo fosse um lugar verdadeiramente justo, talvez ninguém precisasse passar anos reunindo coragem para ser algo tão natural assim. Mas a gente está falando do futebol. E nós precisamos assumir (no sentido literal da palavra) que a modalidade ainda enxerga a homossexualidade enquanto transgressão digna de coros inteiros para reafirmar que pessoas LGBTQ+ não têm espaço ali.
Não recomendamos que você desbrave as redes sociais tentando entender como o mundo enxergou a ação de Cavallo. Mas, caso você insista nessa prática pouco saudável, certamente vai encontrar dezenas de pessoas que alegam não haver problema no posicionamento de Joshua - como se coubesse a qualquer de um nós avaliar -, desde que o "cara jogue bola". O problema está justamente no quão isolado é o caso.
Há 100 times somente nas primeiras divisões das cinco principais ligas europeias. E adicionamos outros 40, se contabilizarmos Brasileirão Série A e B. Você consegue enumerar um jogador homossexual nesse universo tão gigantesco? Nós também não. Mas eles existem. E essa é uma afirmação. Acontece que o mundo futebolístico nada mais é que um espelho da sociedade. E nosso mundo, infelizmente, tem muito mais Maurício Souza do que Joshua Cavallo.
Curiosamente ou não - até porque o mundo funciona de formas misteriosas -, o jogador australiano de 21 anos "saiu do armário" em meio ao burburinho envolvendo o atleta de voleibol, recentemente demitido do tradicionalíssimo Minas Tênis Clube. Sem entrar muito nos meandros do acontecimento e seus múltiplos desdobramentos, tudo começou quando o central se manifestou contrário à decisão da DC Comics de retratar o novo Super-Homem enquanto bissexual.
"Ah é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar", foi a legenda da postagem que iniciou as discussões. Então, quando ironicamente questionarem o que tem demais na decisão de Joshua, como se fosse um feito pequeno, a resposta está tão escancarada que por vezes até esquecemos dela: parte da humanidade ainda morre de medo de ser morder do fruto proibido da homossexualidade.
Por essa e um milhão de outras razões o ato de Joshua é tão gigantesco. E nossa esperança é que, depois de tantos anos do mais absoluto silêncio no armário, ele não esteja machucado demais para lutar pelo seu próprio espaço e pelos que virão em seguida. Ao jogador, nós só temos a agradecer e dizer: seja muito bem-vindo. Infelizmente, não vamos conseguir te recepcionar melhor, afinal, o mundo ainda está cheio de Maurícios. E essas pessoas sempre têm mais voz do que deveriam...