A Jô, muito obrigado por tudo, inclusive pelas decepções
Por Lucas Humberto
Jô e Corinthians decidiram rescindir. Depois de ser filmado no pagode enquanto seus companheiros tomavam uma surra moral do Cuiabá, pelo Brasileirão, o agora ex-camisa 77 alvinegro sequer apareceu no treino no dia seguinte. Detalhe: sem justificar. A situação do centroavante atingiu ponto crítico.
Seria mais fácil perdoá-lo se estivéssemos diante de um caso isolado. Mas Jô, sobretudo em sua terceira passagem, é reincidente no âmbito das polêmicas. Sumiço, ausência em treinamentos, chuteira verde - ou azul-turquesa -, resort em meio ao conturbado cenário pandêmico. A junção dos fatores tornou a permanência do atleta insustentável.
"Ao Filho do Terrão, maior artilheiro da história da Neo Química Arena, bicampeão Brasileiro e campeão Paulista, o Corinthians agradece por todos os momentos e deseja o melhor na sequência da carreira de um dos grandes nomes da história do Clube", comunicou o Timão através das protocolares notas.
Cria do Terrão, Jô aprendeu muito cedo o significado de ser Corinthians. Na tenra idade dos 16 anos, ele estava estreando no profissional, Em 2005, sagrou-se campeão brasileiro junto ao histórico time de Carlos Tévez. Seu ápice de protagonismo, contudo, chegaria apenas em 2017, sob comando de Fábio Carille.
Mais experiente, o centroavante talvez tenha sido o grande símbolo da dita quarta força de São Paulo que acabou sendo campeã brasileira. Mais tarde, em 2020, ele retornou em evidente declínio físico e técnico. Ali, o Timão caía novamente na armadilha de vários clubes do nosso tão querido futebol: tentar repetir o sucesso de outro idos em um contexto completamente diferente.
Ironicamente, em sua saída, parece ter faltado justamente Corinthians em Jô. Logo ele, que conheceu o peso do manto alvinegro tão cedo. No citado vídeo, o atacante está de costas para o telão que transmite o confronto. Naquele contexto, qualquer corintiano estaria enfurecido com a performance esdrúxula da equipe de Vítor Pereira. Jô sorri e toca o tantã.
A sensação é de deslealdade, traição. Provavelmente um erro da torcida, claro, afinal, as expectativas são de nossa responsabilidade. Ainda assim, temos também o direito de poder esperar mais. De qualquer maneira, Jô dá adeus ao Parque São Jorge com seu nome marcado na memória. Daqui uns meses, o sabor amargo da mágoa vai passar. Não em todos, mas em parte da Fiel.
E nos lembraremos com carinho dos gols, dos pivôs, do título e do maior artilheiro da Neo Química Arena - e do Timão no século XXI. A falta de profissionalismo, contudo, mancha uma história que poderia ter sido encerrada de outra forma. Ou não. Entre glórias e decepções, Jô talvez não tenha sido nada além de humano. Que sirva de lição. Da próxima, é bom maneirar nas expectativas.