Adeus, Cacalo! Um gremista marcado por títulos, mas também por gestos de gratidão
- Dirigente faleceu neste sábado, 24 de agosto, aos 73 anos
- Luiz Carlos Silveira Martins era um apaixonado pelo Tricolor
Por Fabio Utz
Era um dia qualquer de semana, em que eu estava no shopping com meus pais quando avistamos, sentado em uma das mesas da praça de alimentação, Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo, à época vice-presidente de futebol do Grêmio. O ano era 1995, mas nós não podíamos imaginar que, meses depois, ele estaria em Medellín comandando o vestiário bicampeão da América.
Voltando ao shopping...eu tinha dez anos, e junto com meu pai, me dirigi à mesa do Cacalo. Pois com seu afago tradicional nos recebeu como gremistas e conversou como se fôssemos íntimos amigos - sim, ele era um agregador. Ao final da rápida conversa, meu pai perguntou se ele não poderia me presentear com uma camiseta do Grêmio, daquelas que saem diretamente do vestiário.
Cacalo não titubeou e disse, simplesmente, 'sim'. Pediu, apenas, que fôssemos ao Olímpico alguns dias depois procurar por ele. Lá fomos, eu e meu pai, em uma sexta-feira pós-colégio. Chegamos, adentramos à área exclusiva de passeio para jogadores e dirigentes. O treino estava por se encerrar e, pouco depois de colher um autógrafo do zagueiro Rivarola, fui à cerca do campo suplementar. Do outro lado, estava Cacalo, junto com seus pares de diretoria, comissão técnica e alguns funcionários.
Ele nos avistou, nos reconheceu e pediu que atravessássemos o campo em sua direção. De lá, entramos no seu carro e fomos, conduzidos por ele, até a sala do departamento de futebol gremista. Entramos e, de um envelope pardo, ele tirou o meu presente: uma camiseta celeste (aliás, a celeste mais bonita de todos os tempos), número 7 (à época vestida por Paulo Nunes, mas cujo número perpassa a história).
Me lembro, como se fosse hoje, do sorriso que dei. Óbvio, eu era pequenino, e a camiseta ficou gigante. Mas, mesmo assim, dali em diante nunca mais parei de utilizá-la, vesti-la e, por vezes, admirá-la. Naquela mesma noite, em um churrasco em casa de famílias amigas, meu assunto era a camiseta, já tratada como um amuleto.
Bom, a história tratou de condecorar Cacalo com tudo o que ele mereceu: títulos e mais títulos. Ele foi, sem dúvida alguma, o maior vice-presidente de futebol da história do Grêmio. Depois, seria presidente. Mais no fim da vida, patrono do clube. O Grêmio era a sua vida, e a vida do Grêmio, com certeza, foi maior com Cacalo - por conta de seus grandes atos, mas também pelos pequenos, como narrei.
Neste sábado, 24 de agosto, Luiz Carlos Silveira Martins faleceu aos 73 anos. Ele vinha doente há alguns anos, mas nunca deixou de estar ao lado do clube do coração. Esta história que contei mostra quem era Cacalo. E, no coração de nós, gremistas, ele nunca deixará de ser reverenciado. Vai em paz, Cacalo. Não existe gremista maior que tu. E nunca existirá.