Além de corporativista, crítica de Tiago Nunes sobre técnicos estrangeiros é falaciosa
Por Nathália Almeida
Livre no mercado de transferências desde que foi demitido do Corinthians em setembro de 2020, Tiago Nunes já teve seu nome ventilado em diversos clubes da Série A neste meio tempo, mas ainda não selou seu retorno à ativa. O Santos despontava como destino provável para o jovem técnico nesta temporada, mas uma reviravolta de curso acabou colocando o argentino Ariel Holan na Vila Belmiro, algo que parece não ter sido bem digerido pelo ex-treinador do Timão.
"A gente está matando uma geração inteira de treinadores porque agora se instituiu que nenhum treinador brasileiro serve, que é todo mundo ruim, que todo mundo é burro, incapaz, não tem qualificação necessária, e que é bom quem vem de fora. O futebol não pede passaporte. Tem gente boa em todo lugar. Tem gente ruim também em todo lugar. É importante a gente não matar os treinadores por aqui", afirmou Tiago Nunes, em entrevista concedida ao 'Canal do Alê' no Youtube, repercutida pelo UOL Esportes.
Tiago está no seu direito e na sua razão de pensar desta forma, mas a base de seu argumento, além de corporativista, é falaciosa: ainda que treinadores estrangeiros estejam, sim, ganhando um pouco mais de espaço e prestígio no futebol brasileiro, não se trata de um movimento organizado de 'boicote' a uma geração de técnicos nacionais, apenas uma abertura/amplificação de fronteiras, bagagens e ideias que o nosso esporte precisa para evoluir e se reinventar.
Se existisse algum tipo de movimento coordenado de desprestígio aos treinadores brasileiros, teríamos apenas quatro estrangeiros na área técnica de clubes da Série A em 2021? Apenas 1/5 dos técnicos que iniciarão a temporada em times da primeira divisão vieram de fora. Isso não parece uma proporção que indica descrédito ao 'produto nacional', muito pelo contrário: ainda existem muitos clubes/dirigentes resistentes à ideia de contratar técnicos do exterior, muito em função das particularidades do nosso calendário, dificuldades vividas pelos clubes brasileiros, etc.
Ao invés de culpabilizar outros profissionais, talvez seja a hora de treinadores brasileiros se perguntarem o motivo de Jorge Jesus, Jorge Sampaoli e Abel Ferreira terem emplacado os melhores trabalhos do futebol brasileiro das últimas duas temporadas. Vale lembrar que o Flamengo campeão de tudo em 2019 e o Palmeiras vencedor da Copa Libertadores em 2020 começaram as respectivas temporadas com Abel Braga e Vanderlei Luxemburgo. Será que há mesmo uma 'predileção' que está 'matando uma geração de técnicos brasileiros' ou os nossos nomes e ideias não se renovaram da melhor forma e com isso ficamos para trás?