Muralha relembra passagem pelo Flamengo e ‘bebedeira’ no Coxa: “Dormi no carro e fui embora carregado”
Por Fabio Utz
História não falta para Alex Muralha. Atualmente no Mirassol-SP, o goleiro de 31 anos ganhou destaque nacional atuando pelo Figueirense, em 2015. Um verdadeiro cartel de defesas lhe rendeu uma ida ao Flamengo, onde acabou vivendo uma relação de amor e ódio com a torcida. Em entrevista exclusiva ao 90min, realizada em parceria com a Federação Paulista de Futebol (FPF), o atleta relembra momentos importantes da carreira, desde quando virou ídolo e ganhou apelido "pra vida toda" no Comercial-SP, passando por suas vivências no exterior e, claro, sua situação junto ao Mengão.
HISTÓRIA COM O COMERCIAL
Foi um clube onde, querendo ou não, abriu também as portas pra mim e o caminho no futebol nacional e internacional também. Depois de 25 anos, logo no meu primeiro ano, a gente já teve um acesso pra primeira divisão do Campeonato Paulista e isso ficou muito marcado né. Hoje, sempre quando eu vou lá, passo por lá, as pessoas ainda relembram, agradecem. Fico muito feliz por isso, né. É um clube onde eu vou carregar aí pro resto da vida comigo.
O APELIDO DE MURALHA
O apelido Muralha saiu na minha última temporada. No meu último jogo, já ali logo no final do jogo, eles estenderam o bandeirão ali do Alex Muralha. Então foi assim...foi de arrepiar. Algo assim que eu nem imaginava que iria acontecer, né. Até então ali eu era Alex Santana, conhecido como Alex Santana. E, poxa...ali ficou, vai ficar realmente muito marcado pra mim aquele clube e esse apelido também né.
PRIMEIRA PASSAGEM PELO JAPÃO (BELLMARE)
Cara, foi assim...meio surreal, né, porque eu tava no Cuiabá, tinha acabado de chegar no Cuiabá. Fiquei nem um mês no Cuiabá e aí veio a proposta de ir pro Japão. Eu fui o terceiro goleiro a jogar na J-League. Brasileiro. Desde então. E logo no meu primeiro jogo, né, eu já fui escolhido o goleiro da rodada, foi um clássico também. Contra o Frontale. Fazia muito tempo que a Bellmare não ganhava do Frontale fora de casa. Poxa, casa cheia. Eu nunca tinha vivido aquilo. E, poxa, foi especial demais porque acabou o jogo e eu vi o semblante dos meus companheiros de equipe, da comissão, da diretoria, todo mundo muito feliz. O presidente chegou no vestiário com lágrima nos olhos, com um envelopinho...é, um agradecimento, né, pra cada jogador ali. Um dinheirinho extra ali...poxa, foi muito legal.
O INÍCIO NO FIGUEIRA E A PARCERIA COM TIAGO VOLPI
Pra mim foi muito bom porque eu pude aprender muito com ele, com o Tiago Volpi. Tinha o Junior Oliveira também, que acabou se tornando um amigo que vai na minha casa. Futebol é difícil tu fazer amigos assim. Esse cara é um cara muito especial pra mim. E...e eu fiquei um ano praticamente quase sem jogar ali. Eu cheguei, eles tinham acabado de ter o título do Campeonato Catarinense. Fiquei na reserva durante todo ano, e aí iniciou o ano o Tiago Volpi teve a proposta de ir pro México. Foi vendido. O Argel até então tava no comando, ele deu a oportunidade pro Luan Polli começar o Catarinense, e aí...eu pensando comigo... ‘poxa, de novo, vamo...vamo remar de novo, vamo lá, vamo correr atrás, vamo aguardar mais um pouco’. Trabalhei sempre forte, como sempre fiz na minha vida, na minha carreira, e na terceira ou quarta rodada do Catarinense o Argel falou assim: ‘ó, quero ver você jogar, vou te dar uma oportunidade’. E dali nunca mais eu saí, dali comecei a jogar, comecei a ir bem, fomos campeões também novamente do Catarinense e aí começou a minha vida a mudar muito em relação é...profissional, né. Porque ali abriu um leque muito grande de oportunidades pra mim.
A IDA PARA O FLAMENGO - SE TORNOU UM BODE EXPIATÓRIO?
Olha...eu de maneira alguma tenho nenhuma mágoa com relação ao Flamengo, nenhuma, só tenho a agradecer ao Flamengo por tudo que me proporcionou. Eu sei do peso da camisa do Flamengo, sabia da dimensão. Quando chegou a proposta, eu até comentei com os meus pais. A minha até me perguntou: ‘nossa, meu filho, é algo muito grande, né?’. E eu falei: ‘é, mãe, isso aqui que eu sempre sonhei. Vamo embora’. E ela meio que ficou preocupada, porque ela sentia que não ia ser fácil. Mas, assim, até de certo ponto eu creio que...não vamos se dizer injustiçado, mas fui...caiu uma culpa muito grande em cima de mim né...por várias situações. Sempre era, o culpado era o Muralha. Às vezes alguns goleiros do Brasil tomavam naquela temporada gols da mesma maneira que eu tomava, às vezes gols defensáveis, que a gente goleiro sabe que poderia ter defendido né. Mas as pessoas não...o Muralha errou, o Muralha falhou. Sempre o Muralha falhava. Não vou omitir as minhas falhas, falhei sim bastante né. Foram esses momentos difíceis, porque eu perdi a minha vó né. Nada justifica, mas é uma coisa que marca muito porque, praticamente, ela ajudou muito na minha criação e as coisas acabavam que não tavam dando certo. Mas aquilo me deu muitos ensinamentos, né? Hoje, com 31 anos, talvez uma pessoa normal com essa idade não tenha vivido coisas assim, experiências assim, e me deixou hoje uma pessoa muito melhor, um ser humano melhor, um profissional muito melhor.
A NECESSIDADE DE UMA NOVA IDA AO JAPÃO (ALBIREX NIIGATA)
Eu precisava naquele momento sair do Brasil. Tava muito pesado pra mim. Não só pra mim, pra minha família também. Tava muito pesado. Muito mesmo. Não foi nem valor financeiro nem nada. Era um momento que eu precisava mesmo sair do Brasil pra espairecer, pra voltar a ganhar confiança e fazer aquilo que eu mais gostava que era...desde criança eu sonho em tornar um goleiro profissional.
O MIRASSOL DE 2014 E O MIRASSOL DE 2021...
Em relação à gestão, continua da mesma maneira. A mesma seriedade, as pessoas que trabalham aqui são excepcionais. Creio que é exemplo pra muitos clubes no Brasil. E fora isso, a estrutura. O clube montou uma estrutura aí que...já passei por alguns lugares aí, já rodei um pouco, e tenho certeza que não tem essa estrutura que tem aqui hoje. O clube tá, assim, muito propício pra...pra poder chegar aí num cenário nacional brasileiro, no campeonato da Série B, quem sabe até na Série A. Sabe que o caminho é difícil, as dificuldades sempre aparecem, mas tem tudo pra que isso aconteça.
A MAIOR COMEMORAÇÃO DA CARREIRA
No acesso do Coritiba (para a Série A de 2020). Cara eu fui embora carregado, velho. Dormi no carro, fiquei um tempão dentro do carro nêgo. Não, eu vou contar porque essa...não devia contar não, mas....cara, tava no banheiro mal, a minha mulher tinha sumido, a minha mulher preocupada. ‘Cadê meu marido?’. Aí os caras traíra, já né. Vamos lá te mostrar onde tá o teu marido. Aí tava lá no banheiro. Os caras me dando Pepsi, Coca-Cola pra tomar, pra melhorar e eu jogando na cabeça achando que era água, veio. Tava mal demais, veio. Aí fui embora, minha mulher conseguiu levar a gente pra casa. Dormi na garagem, dentro do carro. Fiquei, não aguentei subir pra casa, pro apartamento.