As finanças do Barcelona e o plano de recuperação econômica
Por Amir Somoggi
O empresário Joan Laporta voltou oficialmente à presidência do Barcelona. E vai ter muito trabalho. Além da situação de dentro de campo, o mandatário tem que se preocupar com o conturbado momento financeiro do clube – o qual fechou a última temporada com um prejuízo líquido de € 97 milhões. As projeções para o futuro próximo também não são nada boas, com perdas superiores a € 100 milhões em 2020/21.
Laporta retorna ao Camp Nou em um momento ainda mais completo do que o deu seu primeiro mandato, quando recebeu o clube de Joan Gaspart, em 2003, e iniciou um novo projeto com Ferran Soriano, Esteve Calzada e companhia. Se no pré-Ronaldinho, o Barcelona estava longe dos maiores clubes da Europa e tinha um negócio voltado para o mercado espanhol, hoje o clube tem dívidas assustadores a curto prazo.
Quando Laporta assumiu a cadeira máxima do Camp Nou em 2003, o Barcelona tinha uma receita de € 123 milhões – a 13ª da Europa – e as dívidas estavam perto de 190 milhões de euros. Aos valores de hoje, o clube arrecadou € 167 milhões naquela temporada. O cenário atual é muito diferente. Até a instauração da pandemia da Covid-19, o Barcelona era o líder europeu em receita: € 835 milhões. Mas a dívida líquida agora é de € 1,1 bilhão.
O orçamento do Barcelona, que foi projetado sem o conhecimento da pandemia do novo coronavírus, apresentou uma receita operacional de € 883 milhões e 1,06 bilhão considerando as transferências. Porém, a realidade era mais dura do que o imaginado e o clube apresentou uma redução de 15% no resultado operacional – ou de 127 milhões de euros na temporada 2019/20. Houve redução com TV, matchday e marketing.
O que aconteceu com as finanças do Barcelona?
Os números vermelhos do Barcelona em suas últimas contas anuais assustam. Desde a transferência recorde de Neymar para o PSG, o Barça criou um círculo financeiro perigoso. Com os € 222 milhões embolsados com o craque brasileiro, o time foi às compras e agora está pagando o preço de contratações arriscadas, como Coutinho, Dembélé e Griezmann, que não trouxeram grande rendimento e desempenho, como nos tempos de Messi, Suárez e Neymar.
Com as compras desmedidas, o Barça viu seu equilíbrio financeiro depender excessivamente das vendas de jogadores. O Barça começou a gastar muito com contratações e acabou procurando uma receita extraordinária com as transferências. Essa política arriscada explodiu com a pandemia.
Atualmente, o passivo total é de € 1,4 bilhão, com uma dívida líquida de € 1,1 bilhão. Os débitos de curto prazo são de 970 milhões de euros com entidades de crédito, entidades desportivas, salários de jogadores etc.
As dívidas com instituições de crédito de curto prazo são de € 266 milhões, em comparação com € 11 milhões em 2019. As dívidas com entidades esportivas de curto prazo totalizam € 126 milhões, em comparação com € 79 milhões antes da pandemia. No curto prazo, o clube tem € 162 milhões em dinheiro, ou seja, liquidez imediata e mais € 195 milhões em títulos a receber.
A liquidez é muito ruim.
Os débitos de contratos (curto e longo prazo) totalizaram € 323 milhões em 2020.
Outra questão é o “custo de Messi”, já que o salário do craque argentino chega a 130 milhões por ano, segundo o jornal El Mundo. Isso representa mais de 20% dos salários dos funcionários do clube. Por outro lado, Messi gera mais de 30% das receitas, uma máquina de gols e euros.
As despesas com salários de esportes do Barça caíram de € 486 milhões em 2019 para € 430 milhões em 2020.
Qual é o plano de recuperação econômica de Joan Laporta?
Joan Laporta tem um desafio sem precedentes no futebol da atualidade. Um clube gigante, com potencial global único, que precisa de dinheiro para seguir em frente, em um ambiente sem plateia nos estádios e nas incertezas da Covid-19.
O site 2Playbook publicou recentemente em detalhes o plano do novo presidente para o Barcelona. Laporta já estabeleceu que o seu plano é manter Lionel Messi, tido que o considera um pilar fundamental para o desenvolvimento do clube.
Quanto à liquidez do Barça, o grande projeto será a emissão de obrigações, com o objetivo de desonerar as finanças no curto prazo, oferecendo um pagamento de longo prazo para quem investe, com experiências únicas ligadas ao Barça. Outro aspecto será um ‘confronto de gestão’, a fim de reduzir as despesas operacionais do clube – Laporta tomou a mesma atitude em 2003, quando era presidente.
Um dos principais desafios da recuperação econômica do clube será a expansão significativa de patrocinadores. Segundo a 2Playbook, o novo presidente projeta que o número de novos sócios possa ser aumentado em 50%. Eles identificaram que existem 35 setores não atendidos por patrocínios de clube – acarretando em uma receita não gerada de € 275 milhões.
Laporta também acredita que o “Barça Studios” tenha um potencial gigantesco, e pouco conhecido, que pode ser melhor explorado em termos financeiros. Será um dos focos da nova gestão.
Além disso, existem outros projetos como a exploração global dos centros de entretenimento do Barça no mundo e o “Barça Experience”, que são centros poliesportivos com a marca do clube em diferentes cidades e algumas ofensivas nos eSports.
Grandes desafios, com um clube sem recursos, mas com gigantesco potencial de desenvolvimento, em um mundo em profunda transformação. Este é o Barcelona que Joan Laporta herdou.
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