Boateng, ao The Players' Tribune, convoca 'brancos' contra o racismo: "Vocês são os que podem mudar este mundo"
Por Fabio Utz
O orgulho de ser negro está estampado nas palavras de Kevin Prince Boateng. Ao mesmo tempo, fica nítida a decepção com o que acontece no mundo (e não é de hoje) e com a inexistência de ações para mudar o chamado racismo sistêmico, seja no futebol ou fora dele. Em um emocionante texto publicado no The Players' Tribune, o meia-atacante de 33 anos, que atualmente defende o Besiktas, da Turquia, emprestado pela Fiorentina, da Itália, fez um apelo para que as pessoas de pele branca ajudem a alterar este cenário.
Muito embora o movimento Black Lives Matter, que surgiu após o assassinato do negro George Floyd por um policial branco nos Estados Unidos, tenha repercussão nos quatro cantos do planeta, o atleta acredita que a luta contra o racismo necessita dos brancos. Do contrário, ela rapidamente pode, mais uma vez, ficar em segundo plano. "Algumas pessoas pensam: 'Sim, mas todas as vidas são importantes'. Claro que todas as vidas são importantes. Mas a comunidade negra está queimando. Então, se minha casa está queimando e sua casa não está queimando, que casa é a mais importante agora? Então me ajude a apagar o fogo. E então nós dois poderemos morar em casas bonitas.
Todo mundo pode fazer alguma coisa, mesmo que ache que não pode. Um amigo branco me disse que não queria que ele estivesse pulando no trem. E eu disse: 'Mas esse é o trem que você quer pegar! Esse é o trem que vai mudar o mundo!'
Então, eu estou lhe pedindo: pule no trem. Algumas pessoas sempre vão odiar. Algumas pessoas sempre vão criticá-lo.
Mas não se assuste. Não fique calado. Nós ficaremos com você.
Só queremos saber que você está conosco", resumiu.
"Irmãos e irmãs brancos, vocês são os que podem mudar este mundo. Nós precisamos de vocês agora. Especialmente agora. Vocês precisam nos ajudar."
- Kevin Prince Boateng
Ao relatar sua história de vida, dando conta que, quando criança, sofreu com atos de racismo dentro da própria Alemanha, ao sair do lado Ocidental para ir ao lado Oriental jogar um torneio de futebol, disse que segurou aquela sensação de impotência até quando foi possível. Quando atuava pelo Milan, estourou ao escutar gritos contra ele por conta da cor de pele. A partir de então, foi chamado pela própria Fifa para liderar alguns atos, mas se decepcionou com a falta de atitude e de resultados concretos. Agora, pede, também, a parceria de outros atletas para levar adiante a causa. "Quando a Austrália estava queimando no início deste ano, todo mundo estava falando e postando sobre isso e doando dinheiro loucamente. Era lindo de ver. Mas agora? Eu não vejo nada. Não vejo entrevistas, nem jogadores conversando. Onde estão vocês? Onde estão os maiores jogadores do mundo? Existem muitos jogadores que estão assustados ou que não têm alguém para conversar. E sinto a responsabilidade de pedir o apoio deles para se juntar a mim e ao movimento. Só consigo alcançar oito milhões de pessoas nas minhas mídias sociais, mas vou usar cada uma delas todos os dias. Vocês têm dezenas de milhões. Este é o momento de mostrar seu rosto. Não em um outdoor para um perfume ou um anúncio de botas novas, mas para aumentar a conscientização e criar mudanças reais para o movimento Black Lives Matter. Precisamos de todos os jogadores para ouvir, aprender e agir", concluiu. A missão está dada.
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