Torcer por Messi contra o Brasil não significa ser menos patriota que o torcedor da seleção
Por Breiller Pires
Às vésperas da final da Copa América, Neymar recorreu ao apelo ufanista da rivalidade para instigar a torcida brasileira nas redes sociais. "Se tem Brasil, eu sou Brasil, e quem é brasileiro e faz diferente? Ok, vou respeitar, mas vai pro c...", postou o atacante antes de enfrentar a Argentina na decisão deste sábado.
Indiferentes ao clamor patriótico dos jogadores, muitos brasileiros já manifestaram que torcerão pelo maior rival do Brasil no duelo. Uns por birra de futebol, outros por ranço da seleção ou da própria camisa amarela, contaminada por rixas ideológicas nos últimos anos. Mas a maioria deles, provavelmente, estará com a Argentina por causa de Lionel Messi.
Nada anormal que, diante de uma Copa América banalizada, esvaziada e depreciada pela nefasta articulação política que a trouxe novamente para o Brasil, no meio da pandemia de covid-19, fãs do craque argentino prefiram torcer por ele, que outra vez tem a chance de ganhar seu primeiro título com a seleção principal, do que pelo escrete brasileiro, atual campeão do torneio.
Pelo contrário, é até esperado que Messi desperte nos brasileiros o sentimento de idolatria universal, imune a qualquer tipo de rivalidade. O maior craque da nossa geração transcende nacionalismo, ufanismo ou coisa do gênero. Messi não é simplesmente um jogador argentino. Messi é patrimônio do futebol mundial.
"Neymar escorrega ao atrelar a torcida pela seleção a um ato patriótico."
Por motivo semelhante, a morte de Diego Armando Maradona, no ano passado, comoveu a todos os amantes do jogo no Brasil. Da mesma forma, vários argentinos se renderam a Pelé durante o auge de seu reinado.
Me lembro de quando conheci um torcedor da Argentina, na Copa de 2014, que carregava uma bandeira estampada com a foto de Maradona abraçado a Pelé. Ele me disse que, em 1970, torceu pelo Rei na final contra a Itália. E que faria o mesmo caso o adversário fosse a Argentina, pois Pelé era o grande ídolo de sua infância. Para ele, o maior de todos, ao menos até surgir Maradona.
Gênios do esporte têm esse poder. Vão muito além das camisas que vestem. Compreender por que Messi é capaz de fazer um brasileiro torcer pela Argentina é mais produtivo que tachar de antipatriota os que desejam ver o camisa 10 finalmente levantar uma taça com sua seleção em pleno Maracanã.
Neymar vai bem ao atiçar a rivalidade com os argentinos, algo saudável, desde que restrito ao universo da bola. Porém, escorrega ao atrelar a torcida pela seleção a um ato patriótico, como se quem torce contra fosse menos brasileiro que os que compram esse barulho.
Pouco importa se você canta o hino nacional ou veste camisa amarela. Ser patriota é lutar por um país igualitário, não se omitir de tomar posição política, usar privilégios em nome do bem-estar social e se opor a governo genocida. Quem dera se todo jogador ou torcedor da seleção colocasse em prática o tal patriotismo que ostenta no futebol.