15 brincadeiras homofóbicas que deveriam sumir do futebol
Por Nathália Almeida
Estamos no ano de 2021. Porém, infelizmente, ainda temos de explicar o óbvio: o futebol não é um universo paralelo e desgarrado da sociedade, mas sim um recorte dela. O ambiente esportivo, portanto, não é e não pode ser "terra de ninguém" - ele não legitima comportamentos tóxicos e criminosos como racismo, misoginia e, é claro, homofobia.
Nesta segunda-feira (17), o Dia Internacional Contra a Homofobia, listamos uma série de ofensas de cunho homofóbico que foram "naturalizadas" pelas arquibancadas e torcidas de futebol em solo brasileiro, mas que não deveriam existir.
Apelidos pejorativos
Flores: associado ao Fluminense
Marias: associado ao Cruzeiro
Frangas: associado ao Atlético-MG
Moranguinhos: associado ao Internacional
Bambis: associado ao São Paulo
Gaymio: associado ao Grêmio
Poodles: associado ao Athletico
Gaivotas: associado ao Corinthians
Englobamos esses apelidos em uma só categoria, pois todos eles têm a mesma "origem", a mesma intenção e carregam o mesmo simbolismo, ou seja, uma justificativa para todos é suficiente para explicar por que não deveriam existir.
Todos são usados por torcidas como forma de depreciação a um rival específico, estereotipando tal clube e sua torcida como frágeis e afeminados.
Considerar tais características como inerentes a um grupo específico de indivíduos (homossexuais) já é uma violência - afinal, pessoas são diferentes e não devem ser colocadas em caixas. É ainda mais agressivo interpretar tais características como inferiores, e por isso usá-las como ferramenta de ofensa/menosprezo a uma instituição e seus torcedores.
A aversão ao '24'
A ligação entre o número 24 e o universo LGBT, especificamente no Brasil, remete ao popular e contraventor jogo do bicho, em que cada animal representa uma série numérica - o veado é o número 24. Por conta de diversas simbologias (fragilidade é uma delas), este animal passou a ser atrelado pejorativamente aos homossexuais, e tal alcunha é usada de forma ostensiva e ofensiva no trato aos homens gays.
Esta conexão ajuda a explicar o porquê da rejeição de atletas brasileiros a vestir a camisa 24: em janeiro de 2020, um dirigente do Corinthians chegou a se manifestar publicamente contra a utilização do número por parte do volante Victor Cantillo, recém-contratado pelo clube à época.
Parece primário o que vamos dizer, mas não há número ou símbolo que defina uma pessoa ou com quem ela se relaciona. Esse rechaço ao número nada mais é que o próprio repúdio/aversão à homossexualidade, e o temor de ser confundido ou associado a ela. Não cabe mais.
O grito de 'bicha' nos tiros de meta
Prática inexplicável herdada das arquibancadas mexicanas, o grito de 'bicha' direcionado ao goleiro adversário na hora da cobrança do tiro de meta é tão surreal que chega a surpreender por ainda ser uma prática tão comum e intensa no futebol brasileiro, a ponto das instituições/entidades que gerenciam o esporte precisarem intervir e ameaçar punições aos clubes.
Vale tudo para entrar na cabeça e desconcentrar um adversário? Por qual motivo gritos como "macaco" chocam - e de fato devem chocar, pois o racismo é abominável -, mas gritos de "bicha" são tolerados como provocação de jogo? Ambos agridem grupos minoritários e não devem ser repetidos nas arquibancadas: há múltiplos outros jeitos de torcer e provocar rivais sem esse tipo de violência direcionada a uma orientação sexual.
Os cânticos homofóbicos
'Time de viado'
'Arerê, gaúcho dá o c* e fala tchê'
'Dinei desmunhecou, todo mundo já falou, Gavião virou um beija-flor'
'Que palhaçada esse pó de arroz
Tricolor viado, passa maquiagem e dá o c* depois'
'Camisa feia, cheia de cor, todo viado que eu conheço é tricolor'
Não são poucos os cânticos homofóbicos, racistas e classistas que, infelizmente, ainda existem e são entoados a plenos pulmões nas arquibancadas brasileiras. Esses pequenos trechos listados acima, de cinco músicas que circulam por vários estádios nacionais, são bastante agressivos e machucam demais os torcedores LGBTQ+ que amam futebol: tratam a homossexualidade de forma rasteira, pejorativa, depreciativa e imoral, e mais uma vez a usam como ferramenta de ataque a um rival, como se ser LGBT fosse algo ruim, inferior.
Corinthians, Morumbi e a "piada" do Panetone
Não é de hoje que o São Paulo tornou-se alvo constante de piadas de cunho homofóbico proferidas por seus rivais locais, Corinthians, Palmeiras e Santos. Em dezembro do ano passado, um caso que gerou enorme debate e repercussão negativa partiu do Alvinegro, que na tentativa de provocar o Soberano, associou o Estádio do Morumbi a um Panetone: um eufemismo para sugerir que a torcida tricolor é composta de "frutinhas" (homossexuais). Trata-se de mais uma rotulação rasa e depreciativa, que usa a orientação sexual como mecanismo de agressão a um universo gigantesco de pessoas.
Uma torcida, seja ela qual for, é composta de milhões e milhões de pessoas diferentes, de origens diferentes, credos diferentes, etnias diferentes, visões de mundo diferentes. E todas merecem ser respeitadas, nas redes sociais, nas arquibancadas e na vida.