Conmebol endossa o racismo toda vez que escolhe se calar diante dele
Por Lucas Humberto
Quantos casos são necessários para que a adjetivo isolado deixe de ser utilizado? Na visão de quem sofre, certamente não mais que um. Na visão de quem pune, aparentemente todos. Somente na atual edição da Copa Libertadores - nada menos que o principal torneio de clubes da América do Sul - três situações de racismo vieram à tona. Isso, claro, sem contar as centenas de violências ideológicas que estão em erupção em cada um dos crimes.
A primeira das situações aconteceu no duelo entre River Plate e Fortaleza. Na ocasião, um homem foi filmado sorridente enquanto lançava uma banana em direção aos torcedores do Leão do Pici. Nos outros dois casos, em Corinthians x Boca Juniors e Emelec x Palmeiras, o modus operandi foi o mesmo: adeptos dos clubes fazendo gestos de macaco em direção aos brasileiros presentes nos respectivos estádios.
Há ainda duas trágicas coincidências nos nada isolados eventos. Ao redor dos três criminosos que não mostraram nenhum pudor em bradar seu racismo, havia dezenas de outras pessoas rindo em aprovação. Encontrar ali um rosto de indignação é uma missão mais complexa do que finalmente localizar o famoso Wally de suéter vermelho e branco. A completa ausência de reações negativas cria, para quem vocifera o preconceito, o palco perfeito.
Para completar o show de horrores, mais silêncio. Esse por parte da Conmebol, que deveria ser o órgão mais ativo no combate aos crimes. A entidade, contudo, escolhe deliberadamente falar através da multa cobrada pelos casos de racismo: 30 mil míseros dólares. A quantia é irrisória, não importa o quão cambaleante estejam as finanças dos clubes sul-americanos. Não há perda de pontos, mudança do mando de campo ou portões fechados.
Aliás, a moderação para tratar dos crimes é tamanha que a entidade faz parecer demais escrever uma nota de repúdio de 10 linhas. Em contrapartida, não são medidos esforços para negociar os direitos de transmissão dos seus principais campeonatos. Dois pesos e duas ações completamente diferentes. Na visão de quem vê se fora, o silêncio da Conmebol endossa o racismo. Na visão de quem vê de dentro, quem será que vai pagar mais para transmitir a Libertadores, hein?