Corinthians 111 anos: quando o Timão teve seus próprios galácticos
Por Lucas Humberto
Antes mesmo de entrar em campo, o Paris Saint-Germain da temporada 2021/22 fez história, afinal, pouquíssimos times foram capazes de reunir tantas estrelas assim. Independente dos títulos, o clube do Parque dos Príncipes se coloca ao lado das gerações de galácticos do Real Madrid.
O futebol brasileiro, terra de grandes revelações, polêmicas com a arbitragem e clássicos inflamados, também teve sua parcela de esquadrões históricos. Isso, claro, se você, leitor, guardas as devidas proporções e deixar sua imaginação viajar.
Nesta quarta-feira, 01 de setembro, data que marca os 111 anos de existência do Corinthians, relembramos a época em que o Timão teve três galácticos no elenco. Para construir a história, recorremos a Kelvin “Mil Grau”, corinthiano, diretor e responsável pela página milgrau777.
Um quê de Zidane, outros dezenove de Danilo
Ele acostumou-se a vencer e nunca mais parou. Formado nas categorias de base do Goiás, Danilo experimentou o sabor dos títulos ainda na temporada de 1998/99, quando sagrou-se campeão da Série B. As glórias das vésperas da virada do século, no entanto, seriam apenas um prelúdio dos troféus que o meio-campista ainda iria levantar.
Do São Paulo ao futebol japonês, mais precisamente no Kashima Antlers, foram sete taças na conta, incluindo Libertadores e Mundial. À época, Danilo já havia dado passos iniciais na construção do seu próprio legado. Então, em 2010, quando o meia desembarcou no Pacaembu, seu currículo contava uma história de sucesso, mas nada que se comparasse aos feitos quase canônicos que viriam no Corinthians.
Diferentemente de tantos outros ídolos do Timão, que fizeram sucesso pela raça, Danilo tornou-se inigualável pela técnica, pela elegância quase europeia e pelo DNA de quem sabia vencer. Em sua estreia, em pleno Majestoso, o camisa 20 foi às redes justamente contra sua antiga equipe. Aquela era apenas uma introdução de quase uma década de serviços prestados, que ainda teria gol diante do Santos na semifinal da Libertadores de 2012 e uma assistência primorosa para Emerson Sheik na final do torneio continental, contra o Boca Juniors.
"Ele é muito calmo, tranquilo, centrado. Então, o respeito que ele tinha pelos clubes que jogou já mostra que era um cara diferenciado"
- Kelvin “Mil Grau” sobre Danilo
No aniversário de 111 anos do Corinthians, dispensaremos títulos e números de Zidanilo, afinal, uma bela história esportiva normalmente é construída de duas formas: estatísticas ou reverências. E nós sabemos muito bem de qual caso estamos tratando aqui. Nas palavras de Kelvin “Mil Grau”, Danilo "fazia o tempo parar".
É mais um pro bando de loucos: a maior honraria recente do Timão
De cabeça, leitor, você consegue enumerar quantos atletas mereciam ter suas carreiras contadas num livro? Não sabemos sua resposta, claro, mas imaginamos que você não tenha levantados tantos nomes assim. Ronaldo Fenômeno merecia. Talvez alguém ainda se arrisque nessa difícil missão algum dia.
Quando o camisa 9 chegou ao Pacaembu, ele portava um status nada silencioso conquistado ao longo da lendária carreira: estrela. Não era necessário repetir, mas todos sabiam que o Timão estava diante de um fenômeno poucas vezes visto no esporte. Não estamos falando de alguém que se transformou em ídolo pelos títulos levantados, afinal, seria fácil demais. Ronaldo conquistou a idolatria da Fiel pelo que representava.
Apesar do óbvio prestígio, sua contratação foi recebida com desconfiança por parte da torcida, em razão dos aparentes problemas físicos. "Foi meio que um misto de 'da hora o Ronaldo estar aqui', mas de insegurança de tipo, 'será que vai render?'. Tanto que quando teve o primeiro jogo dele contra o Itumbiara, foi um jogo antes dele fazer o gol contra o Palmeiras, ele não estava tão bem assim. Você via que, dentro de campo, ele estava pesado", contou Kelvin “Mil Grau” ao lembrar dos primeiros passos do jogador no Alvinegro. "Aí depois que ele fez o gol contra os Porcos ali, a gente falou: 'é, não tem como não, o bicho é embaçado'", completou.
Do simples: "É mais um pro bando de loucos" durante apresentação ao gol de cobertura contra o Santos, no Campeonato Paulista de 2009, o centroavante foi absolutamente memorável. Ainda que as 69 partidas do jogador pelo Alvinegro tenham resultado em "apenas" duas taças - Estadual e Copa do Brasil -, ninguém jamais ousaria menosprezar tamanha eternidade.
9 de dezembro de 2008. Data que marcou a chegada de um dos membros dos galácticos do Real Madrid ao Parque São Jorge. Ronaldo talvez não soubesse naquele momento, mas a história do Corinthians jamais seria a mesma. Aguardaremos os próximos 111 anos. Quem sabe, assim como os cometas, os fenômenos também apareçam somente de tempos em tempos.
2009: Uma Odisseia no Pacaembu
Se Isaac Newton estivesse assistindo ao duelo entre Brasil e França, em 1997, certamente ele teria formulado uma equação inteira para tentar entender como Roberto Carlos fez aquele gol. A batida de três dedos, a curva, a reação dos adversários... nenhum movimento daquele lance foi calculado. E ainda assim, teve tudo a ver com a física. Ou ausência dela, no caso.
Depois de mais de 500 jogos pelo Real Madrid, títulos com a seleção brasileira e um lugar cativo entre os melhores e mais ofensivos laterais da história, o camisa 3 resolveu acompanhar Fenômeno no Timão. Estávamos completos. Os galácticos haviam chegado. Acontece que os deuses do Timão tinham outros planos para Roberto Carlos.
Quem diria, aliás, que o homem que desafiou a física sairia por problemas extracampo, certo? "Tenho medo, sim. Se fosse um clássico paulista, estaria mais tranquilo, mas o Tolima jogou muito bem e agora decide em casa". A declaração não chegou bem aos ouvidos dos torcedores. O fato do lateral não estar presente no decisivo jogo de volta inflamou ainda mais uma relação que já não via mais seus melhores dias. A rescisão era iminente.
"A gente só fica chateado que ele não conseguiu jogar. Jogou pouquíssimo aqui no Corinthians, conseguiu fazer uns golzinhos ali, mas já não era o mesmo "
- Kelvin “Mil Grau”
Roberto Carlos não ficou muito no Timão. Não levantou taças, não saiu carregado nos braços da torcida e talvez não tenha deixado tantas marcas quanto os outros dois galácticos daquela geração. De qualquer maneira, durante 64 jogos, a Fiel testemunhou um dos melhores representantes da posição defendendo as cores do seu time. Quantas pessoas têm esse privilégio? Pouquíssimas.
Tudo o que é interessante custa um pouco de dinheiro: o Corinthians de 2021
Depois de longas janelas da mais discreta participação, o Corinthians investiu na chegada de quatro reforços de renome: Giuliano, Renato Augusto, Róger Guedes e Willian. As chocantes investidas de Duilio Monteiro Alves devolvem ao torcedor o sentimento de grandiosidade às vésperas dos 111 anos de existência. Diante de tantos problemas financeiros, a grande aposta do presidente é, sim, passível de questionamentos. A comoção do bando de loucos, por outro lado, jamais caberá nas cifras de um contrato.
"As maiores contratações do Corinthians nos últimos anos foram Luan, Jô e só. O resto a gente só vendeu pra China. Então, as chegadas de hoje eu acho mais impactante do que daquela época talvez. Chegou muito mais gente que tá jogando muita bola ainda"
- Kelvin “Mil Grau”