Corinthians e homofobia, uma combinação difícil de acreditar ser verdade e que pede as devidas consequências

Corinthians deverá ser punido por homofobia
Corinthians deverá ser punido por homofobia / Alexandre Schneider/GettyImages
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Como torcedor apaixonado do Sport Club Corinthians Paulista, sinto em ter de dizer: o time que tanto amo foi duramente derrotado no dia 22 de maio de 2022. E quando afirmo isso, estou fazendo uma referência para além do resultado de igualdade que se estabeleceu ao final dos 90 minutos da partida diante do São Paulo, no imponente clássico paulista conhecido como Majestoso.

Isso porque, neste episódio do rico e histórico confronto entre os rivais paulistas, refiro-me não à disputa sempre tão acirrada entre as partes propriamente dita, mas, sim, com pesar, aos gritos homofóbicos proferidos de forma vergonhosa e irreconhecível pela torcida do time que sempre prezou, sobretudo, pela democracia e pela liberdade, mas que, em um momento de deslize impensado e atitude irresponsável e criminosa, acabou reproduzindo o que não cabe mais ao futebol - nem fora dele: a homofobia.

O mesmo Corinthians engajado nas pautas sociais e cuja torcida entende o peso das circunstâncias e como elas reverberam foi vítima de um duro golpe. A Fiel, como poucas vezes, não correspondeu ao sentimento de fidelidade à ideologia que tanto defende. E, por isso mesmo, será julgada junto à instituição que tanto idolatra e a quem tanto se dedica genuinamente. Caberá, portanto, ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) dizer, na manhã da próxima quinta-feira, 21, o preço a ser pago pelas atitudes já mencionadas, as quais serão somadas ainda ao fato de objetos terem sido arremessados em campo em direção ao lateral Reinaldo. 

Financeiramente, o custo ficará entre R$100 e R$100 mil. Desportivamente, a perda de pontos no Brasileirão é outra possibilidade real. Moralmente, a atitude só pode ser vista com muito arrependimento e vergonha, numa tentativa de olhar para atrás e aprender com o erro cometido, tal qual diria George Santayana, poeta e filósofo: "Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo".

Relatados na súmula por Wilton Pereira Sampaio, os gritos "Vai pra cima delas, Timão, da bich....." e "Vamos! Vamos Corinthians! Que dessas bic..., teremos que ganhar" conflitam com as mensagens de conscientização que circularam nos telões e no sistema de som da Arena Neo Química naquele mesmo dia. Uma pena, uma pena!

No final das contas, o resultado pouco importou, afinal. Depois de consolidado o resultado, o empate em 1 a 1 com gols de Calleri e Adson não tivera a urgência maior, que era, a saber, outra: combater o preconceito. E foi isso que o perfil oficial do clube fez nas redes sociais após a partida, uma vez que reprovou as ações verbais da sua torcida, afirmando que não cabem à identidade do que é ser Corinthians tais atitudes. O presidente Duílio Monteiro Alves, inclusive, comentou o acerca do episódio:

"A gente é totalmente contrário a este tipo de cântico, da mesma forma que falei do racismo. A gente vem conversando com os torcedores, fazendo campanhas contra a homofobia. [...] O futebol está mudando no próprio jogo, hoje depois dos avisos a torcida mudou o canto. Temos que insistir, vocês [imprensa] são importantes nisso para que a gente acabe com qualquer tipo de discriminação. Estamos em 2022, isso não faz sentido."

afirmou Duílio Alves em entrevista.

Como diz-se no senso comum: quem ama, corrije. E meu desabafo é senão como numa tentativa - e espero que muito bem sucedida - de dizer basta e de corrigir a quem, como um familiar por quem tenho apreço, muito quero bem. E como afirma categoricamente o hino do clube: que teu presente seja, de fato, uma lição. Para todos e todas alvinegros(as).