Cristiano Ronaldo na Juventus: sucesso, decepção ou meio-termo?
Por Nathália Almeida
Chegou ao fim, neste mês de agosto, a passagem de Cristiano Ronaldo pela Juventus. Contratado em meados de 2018 para ser o líder técnico e moral de uma equipe que sonhava com a Champions, o craque luso acertou às pressas sua saída de Turim na reta final da janela de transferências, selando seu retorno ao clube que defendeu entre os anos de 2003 e 2009, o Manchester United.
Entre os torcedores bianconeros, a notícia do adeus de Cristiano Ronaldo teve sabor agridoce, e passou longe de ter sido recebida com unanimidade: muitos se mostraram bastante aliviados com a despedida, ao passo que outros lamentaram bastante a perda do principal artilheiro da equipe nas últimas três temporadas. E essas reações um tanto quanto contrastantes (alívio x tristeza) pintam o retrato do que foi a passagem do astro por Turim.
Analisando apenas os números frios, Cristiano Ronaldo fez o que dele se esperava: foram três anos consecutivos com 35+ participações diretas para gols do time, ultrapassando a marca centenária de tentos em três anos de casa. São estatísticas corriqueiras para ele, afinal, nos acostumamos em vê-lo passando dos 40 ou 50 gols no ano com a camisa do Real Madrid. Contudo, o futebol italiano é consideravelmente diferente do espanhol - em termos físicos, técnicos e táticos -, assim como a Juventus, no momento da chegada do camisa 7, apresentou ao goleador condições competitivas muito diferentes em comparação ao seu tempo vestindo a camisa merengue. E este é o ponto vital para analisarmos o saldo da passagem de Cristiano por Turim.
A Velha Senhora não se preparou para a adição de Cristiano Ronaldo, simplesmente o inseriu em um elenco desequilibrado e desbalanceado em vários setores, esperando que, por sua genialidade, o luso naturalmente emplacaria sua melhor versão. Ao passo em que o Real Madrid soube crescer e se estruturar em torno da figura do camisa 7, a Juventus, mais confusa do que nunca em suas decisões administrativas, não desenvolveu um projeto competitivo para extrair o melhor de sua estrela. Faltou convicção e planejamento por parte da diretoria, e isso não há craque que possa resolver sozinho. A prova disso está no fato de que o clube italiano mudou de treinador três vezes nos últimos três anos, transitando entre ideias e estilos de jogo diferentes neste meio tempo.
Ao perceber que o clube não se movimentava para acompanhar/ajudar suas ambições de fazer história em Turim, Cristiano foi se frustrando aos poucos, e ainda que isso não tenha afetado a sua ética de trabalho, atingiu, sim, o seu rendimento: não vimos a melhor faceta do artilheiro nos seus anos em Turim. Os gols perdidos em momentos críticos e as atuações ruins em partidas decisivas, como a eliminatória contra o Porto na última edição da Champions League, são evidências disso. Mas individualizar a culpa ou tratar sua passagem por Turim como decepcionante é fechar os olhos para o entorno e para a raiz do problema: a Juventus, enquanto instituição, ainda não entendeu o que precisa fazer para voltar a ser um clube continental.