Da desconfiança ao orgulho: como o futebol feminino virou um dos carros-chefes do Corinthians

Corinthians se consolidou como a maior potência da modalidade
Corinthians se consolidou como a maior potência da modalidade /
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Desde os tempos mais embrionários de desenvolvimento do futebol feminino em solo brasileiro, o Estado de São Paulo despontou e se consolidou como um dos centros de maior apelo e "incentivo" à prática da modalidade. Contudo, um dos clubes mais tradicionais deste mercado demorou longos anos para apostar e investir no esporte de mulheres: o Corinthians.

A fundação oficial da equipe feminina do Corinthians aconteceu em 1997, quando o Alvinegro já era um inveterado campeão no futebol masculino nacional. Contudo, não tardou para o futebol feminino ser descontinuado no Parque São Jorge: sem apoio, sem investimentos e sem contar com a infra-estrutura adequada, a operação acabou antes mesmo da Fiel poder comemorar uma conquista de peso com a modalidade.

Fans of Corinthians of Brazil cheer thei
Corinthians demorou a investir "a sério" no futebol feminino / STR/Getty Images

Quase duas décadas se passaram até que o Timão voltasse a olhar para o futebol feminino com algum interesse, mas ainda desconfiado. Essa desconfiança, por sinal, levou o clube a reativar suas atividades na modalidade através de uma parceria com o Grêmio Audax em 2016, em uma gestão compartilhada com divisão de responsabilidades e recursos. A aposta gerou frutos imediatos, com a equipe conquistando a Copa do Brasil daquele ano e garantindo vaga à Copa Libertadores de 2017.

A competição continental seria um verdadeiro "divisor de águas" para a operação do futebol feminino no Corinthians. Ainda sob a nomenclatura de Corinthians-Audax, as meninas alvinegras dominaram o jogo, sobraram na Libertadores e foram campeãs de maneira invicta, vencendo nas penalidades a grande decisão contra o forte time do Colo-Colo. Foi neste momento que o Timão percebeu o seu potencial esportivo e o potencial mercadológico da modalidade, tendo, enfim, o estalo de assumir as rédeas de um projeto independente. É por isso que escolhemos o título da Libertadores e o ano de 2017 para estampar a foto de cobertura deste artigo como "ponto de ignição" para o Corinthians Feminino que conhecemos hoje.

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Corinthians/Audax bateu o Colo-Colo na final da Libertadores de 2017 / AFP Contributor/Getty Images

Para a zagueira Erika - contratada pelo Corinthians em 2018, ano inaugural do projeto independente -, a profissionalização da gestão do futebol feminino alvinegro e os grandes resultados obtidos logo de cara foram fundamentais para que o presidente do clube à época, Andrés Sanchez, mudasse sua percepção/avaliação acerca da modalidade. Em entrevista concedida ao 90min no último mês de agosto, a defensora deu detalhes sobre esta história.

"Hoje, aqui no Corinthians, nós tivemos todo o apoio do antigo presidente, o Andrés. E ele não gostava, ele deixava super claro no começo… A gente brigava demais, eu e ele o tempo inteiro, porque ele falava: “Eu não gosto de futebol feminino”, pelas coisas que aconteceram antes e tudo mais. Mas ele viu que as coisas mudaram, que a situação foi diferente, que entraram profissionais realmente qualificados pra fazer com que o departamento crescesse. E a partir daí ele começou a se apaixonar por futebol feminino, e eu ainda brinquei com ele, falei: “Um dia você vai se apaixonar e você vai ver, você vai chorar”, e ele: “Não vou não, não vou não” (...) Chorou várias vezes nos nossos jogos! Conversou com a gente, ele mesmo xingava a gente e falava: “Vocês têm que ganhar mesmo, porque vocês são boas!”. E eu falei: “Olha a linguinha, tá vendo?” [risos] E legal isso, porque ele apostou, e isso fez a diferença. E a gente tem um departamento por trás de tudo isso, então diretoria, técnico, comissão completa… Desde assessoria de marketing, tudo, tudo! A gente tem um departamento completo de pessoas qualificadas pra isso, pra fazer crescer"

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Erika é uma das referências do elenco alvinegro / Carol Coelho/Getty Images

Pouco mais de três anos se passaram desde que o Corinthians anunciou a independência de seu projeto na modalidade, pequenino recorte de tempo se considerarmos a história do esporte como um todo, mas muito mais que suficiente para que as meninas alvinegras se eternizassem por seus feitos dentro das quatro linhas: além de dois títulos estaduais (2019 e 2020), dois títulos brasileiros (2018 e 2020) e mais uma Libertadores (2019), o Timão Feminino foi reverenciado ao redor do globo pelos seus 48 jogos de invencibilidade, uma das maiores sequências da história do futebol, obtida entre os anos de 2018 e 2020.

Sedentas por mais glórias, elas vão atrás do tricampeonato nacional neste domingo (26), quando encaram o rival Palmeiras na grande decisão do Brasileirão Feminino. Por terem vencido a ida no Allianz Parque por 1 a 0, as alvinegras precisam apenas de um empate para gritar "é campeão", algo que elas já estão muito acostumadas a fazer.