Dulce Rosalina, a pioneira torcedora que transformou em 'marco' o seu amor pelo Vasco da Gama

Dulce Rosalina é um símbolo do Vasco e da cultura de arquibancada
Dulce Rosalina é um símbolo do Vasco e da cultura de arquibancada / Divulgação/CRVGfotos.com
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O direito ao voto feminino não tinha completado nem 30 anos de existência quando uma mulher "ousou" o impensável - presidir uma torcida organizada -, em um espaço onde sua presença ainda era incomum: o futebol. Predestinada a romper barreiras, Dulce Rosalina transformou o seu amor infinito pelo Vasco da Gama em um Marco de Resistência. E por isso, neste Dia Internacional da Mulher, o 90min conta um pouquinho de sua bela história.

Nascida no dia 7 de março de 1935, Dulce, filha de pai português apaixonado pelo Cruzmaltino, tornou-se sócia do Vasco da Gama quando ainda aprendia a falar as primeiras palavras. O amor de berço só se intensificou com o passar dos anos, e a identificação com os valores do clube de São Januário, partidário da igualdade e do combate ao preconceito racial, entrelaçou ainda mais essas duas "histórias paralelas" que em certo momento se transformariam em uma só.

Presente onde o Vasco estivesse, Dulce transformou São Januário em sua casa em um tempo onde a relação entre mulheres e futebol definitivamente não era simples: ocupar as arquibancadas como torcedora era uma espécie de "contravenção nos costumes", que apesar de não render retaliações diretas, definitivamente não era algo bem visto por diversos setores da sociedade. Já a prática do futebol feminino sofria com repressão do governo, com a modalidade sendo oficialmente proibida durante o Estado Novo de Getúlio Vargas.

Mas as "adversidades morais" não eram barreiras para Dulce Rosalina: além de fincar o pé em São Januário, a apaixonada torcedora cruzmaltina queria ser e fazer mais, desejo que a levou, em 1956, ao posto de primeira mulher a presidir uma Torcida Organizada no futebol brasileiro. Com apenas 22 anos, liderou a "Torcida Organizada do Vasco", a TOV, implementando medidas e mudanças que revolucionaram a cultura de arquibancada do clube e do esporte como um todo.

Dulce Rosalina e a arquibancada como conhecemos hoje

Você pode não saber, mas há um tanto de Dulce Rosalina em muito das festas que acompanhamos hoje nos estádios pelo Brasil. Isso porque a pioneira torcedora cruzmaltina foi a responsável por introduzir elementos marcantes na cultura de arquibancada do time de São Januário, influenciando inúmeras outras torcidas pelo país: a bateria regendo os cânticos e a "chuva" de papel picado para recepcionar a equipe em campo são algumas das inovações implementadas por ela durante sua gestão à frente da TOV, entre os anos 50 e 70.

Em uma das histórias de arquibancada mais conhecidas da torcedora-símbolo do Vasco, o papel picado esteve no epicentro, sendo o argumento de um policial para a retenção do material e veto da entrada de Dulce no estádio. O episódio chegou ao conhecimento do elenco cruzmaltino, que se recusou a entrar em campo enquanto Rosalina não fosse liberada. E assim ela adentrou o seu lugar de direito, não sem antes "acusar" o policial de ser torcedor do rival Flamengo.

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o 90min presta homenagem a uma mulher de luta que abriu caminhos para tantas outras mulheres serem protagonistas no mundo do futebol, seja nas arquibancadas, no campo, nos cargos administrativos, nas cabines de transmissão. O amor pelo Vasco, clube que lutou por negros e operários, levou Dulce Rosalina a quebrar obstáculos visíveis e invisíveis. Por isso, seu legado é marco de resistência. É eterno.