Primeiro técnico de Endrick: "Ele é muito diferente dos demais, torço para ser o melhor do mundo"
- Eduardo Alemão treinou Endrick nas categorias sub-11 e sub-13 do Palmeiras
- Técnico foi um dos responsáveis por trazer o atacante ao Verdão
Por Daniel Giro
Não só os palmeirenses e madridistas, mas praticamente todos os brasileiros que amam futebol se perguntam: "Até onde Endrick pode chegar?".
A seleção brasileira – que em outras épocas chegou a ter quatro jogadores que já haviam sido ou seriam os melhores do mundo (Ronaldo, Rivaldo, Kaká e Ronaldinho Gaúcho, em 2002, por exemplo) – hoje vive uma seca.
Kaká foi o último a receber o prêmio, há 14 anos. Neymar, o grande craque da nova geração, figurou entre os três melhores, mas passou longe do topo.
Atualmente, as esperanças estão em Vini Jr., do Real Madrid. E, no futuro, em Endrick.
O 90MIN Brasil conversou com Eduardo Alemão, primeiro técnico da joia alviverde – que se despede do Palmeiras nesta quinta-feira (30), contra o San Lorenzo, pela Copa Libertadores da América.
Atualmente, Alemão coordena a base do Nacional-SP e dá aulas na escolinha do Palmeiras. Ele treinou a Cria da Academia no sub-11 e sub-13 e foi um dos responsáveis por aprovar o nome dele no clube.
CHEGADA DE ENDRICK
"Foi através do vídeo (de Endrick jogando a Go Cup, em Brasília), o João Paulo Sampaio (coordenador da base do Palmeiras) me mandou. É ruim trazer jogadores para o vídeo, mas dá para você ver muitas coisas. E ele tinha esse poder de pegar a bola e não ver quem estava pela frente, e ir para dentro, fazer o gol toda hora, chutar e voltar e tentar de novo, e pegar lá atrás e tentar de novo. E quando ele chegou para fazer a avaliação no Palmeiras, ele fez as mesmas coisas", explicou o treinador.
Alemão conta que o Palmeiras acolheu muito bem Endrick e a família. Inclusive, ele tem uma boa relação com os pais do atacante - Douglas e Cíntia - até hoje: "Eu vejo nos dois uma palavra chamada humildade, isso faz muita diferença. Eu acho que foi passado pra ele humildade e o ambiente familiar", concluiu.
ENDRICK DE ALA? NÃO, CAMISA 9
Humildade também foi o que Alemão teve ao aceitar um conselho do próprio pai de Endrick. Quando estava treinando o sub-13, "subiu" o garoto de categoria antes da idade, mas não tinha espaço para ele jogar de ponta, como estava acostumado.
"Eu coloquei ele de ala, porque eu falei: 'Cara, você vai jogar. Eu vou arrumar um lugar pra você, mas hoje eu não consigo te colocar na frente'".
"Um dia o Douglas me ligou: 'Posso te pedir um favor? Cara, dá uma testada no Endrick de nove'".
O pedido de Douglas transformou o jeito do atacante jogar: "foi um excelente centroavante", segundo Alemão. Posição em que o garoto explodiu e foi escalado em grande parte da passagem dele pelo profissional do Palmeiras, onde marcou, até agora, 21 gols.
"OUTRO RITMO"
Alemão treinou Endrick por cinco anos. Desde as primeiras atividades, o atacante se diferenciou dos demais, principalmente, no aspecto mental - de ter um "foco só".
"Quando ele pega na bola, o ritmo dele é outro. Ele não perde tempo jogando pro lado. Vamos dar um exemplo: você pega dez vezes na bola. Se você tentar fazer o gol as dez vezes, você vai ter mais chances de fazer gol do que um cara que pega dez vezes, controla cinco e tenta cinco. Então, ele (Endrick) aumenta a possibilidade dele de fazer gol, né? Simples assim".
E foi num gol que ele demonstrou também toda sua capacidade técnica.
"Na final do Sub-11, no jogo lá em Santos, o jogo está 1x0 para o Santos, um jogo difícil. Ele já tinha feito muitas coisas no campeonato, mas ele tentar uma bicicleta, fazer um gol de bicicleta numa final, o adversário ganhando, lá em Santos, só de tentar é impactante", relembrou.
Alemão é comedido ao falar do papel dele no desenvolvimento da Cria da Academia, que marcou 86 gols em 121 jogos na base, além de colecionar títulos em todas as categorias.
"O meu papel? Eu vejo assim, dois pontos: coragem e liberdade. Quando você pega uma bola atrás e dribla, sendo que se você perder, você pode tomar um gol. É um risco muito grande. E se eu passar para eles, cara, nessa vai, mas nessa não vai. Se eu der uma dúvida, ele não vai. Então, coragem e liberdade", concluiu.
MELHOR DO MUNDO?
O desempenho sensacional na base logo fez o Real Madrid ir atrás da joia alviverde. Endrick se tornou a venda mais cara da história do Palmeiras, pelo menos até o momento: Foram 72 milhões de euros - entre fixos e metas (nem todas foram alcançadas ainda).
Alemão não gosta de compará-lo a outros atletas nesta idade e sabe que a concorrência no futuro será grande para o prêmio de melhor do mundo da FIFA – sonho de Endrick. Porém, não duvida da capacidade do camisa 9: "Eu não comparo, mas ele é um dos grandes. Ele é potencial".
Mas tem uma certeza: "O que já conseguiu, até agora, é muito diferente dos demais. Eu torço para ele ser o melhor do mundo. Tomara que seja", finalizou.