“Mostramos que o Bahia é o maior do Nordeste”, diz Gilberto ao revelar motivação extra em triunfo sobre o Ceará
Por Antonio Mota
Homem-gol do Bahia e um dos centroavantes de maior destaque do Brasil e do Nordeste nas últimas temporadas, Gilberto bateu em um papo exclusivo com o 90min. Aos 31 anos, o camisa 9 abre o jogo sobre suas passagens anteriores por grandes clubes do país, destaca o sentimento que desenvolveu com o Esquadrão de Aço e a Nação Tricolor e relembra a conquista de seu primeiro título da Copa do Nordeste.
Cascudo no mundo do futebol, com passagens por clubes como Santa Cruz, Internacional, Vasco e São Paulo, o popular Gibagol faz um balanço das experiências que viveu no Beira-Rio, em São Januário e no Morumbi. O atacante frisa que enfrentou muitas dificuldades ao longo da carreira, mas, ao mesmo tempo, exalta sua capacidade de evoluir com cada uma delas. “Eu acho que você acaba aprendendo em cada lugar que você passa, e eu aprendi muito”, diz.
Ao falar sobre o Colorado, onde foi bicampeão gaúcho, o camisa 9 exalta o nível da concorrência e a necessidade de ter que atuar em outra função naquela época.
“O Inter tinha um excelente. Excelente, não... O melhor centroavante do Brasil, que era o Leandro Damião. E eu tive que ser colocado em outra posição para ter uma oportunidade. Então, já não estava jogando na minha posição de origem, onde eu me identifico mais... Por um bom motivo, né? Não tinha como tirar o Damião. Não mesmo”, explica.
Já em relação ao Vasco, ele lembra da situação contratual e da decisão que precisou tomar. “Eu tinha contrato para voltar para MLS [pertencia ao Toronto, do Canadá]. No meio de junho, eu perguntei se seria comprado ou não, e o pessoal falou ‘Olha, não sabemos’, e eu preferi voltar.”
Por fim, Gilberto analisa os tempos em que passou no São Paulo e indica que queria ter recebido mais chances. “Foi um pouco diferente, né? No São Paulo, eu não acho que fui mal. Pelo contrário, fui muito bem. No primeiro ano, talvez, eu não tenha ido tão bem no Brasileiro, mas, depois da chegada do Rogério [Ceni], eu fui artilheiro do Paulista, fiz muitos gols...”, iniciou o atacante.
“Mas, assim como em outros clubes, às vezes o cara contrata uma pessoa e tem que colocar pra jogar. Na época, contrataram o [Lucas] Pratto e ele tinha que jogar. E eu tinha que esperar. Então, eu esperei a minha oportunidade, queria ter jogado mais para mostrar ainda mais o meu talento, mas elas não apareceram e eu decidi sair.”
Já em relação ao Bahia, Gilberto sublinha um ponto que foi determinante para o seu sucesso na Fonte Nova: o Esquadrão apostou em seu futebol e deu lhe confiança para trabalhar. “Eles acreditaram em mim. Eu acho que era o que eu mais necessitava. Claro que eu tive um amadurecimento enorme. Quando cheguei ao Bahia, eu fiquei um mês treinando separado, trabalhando parte física e o que mais o clube achava necessário para que eu pudesse fazer o melhor.”
"Me deram todo o respaldo e isso fez com que eu me sentisse importante, né? E quando você se sente importante, confiante naquilo que você tá fazendo, eu acho que é uma mistura muito boa para o sucesso. Você tem de querer bastante e ter talento. No caso, eu consegui", completa.
O camisa 9 também aborda relação com a torcida do Tricolor e a linha que alguns torcedores acabam ultrapassando quando confundem o profissional com o pessoal. “Sempre foi uma relação de muito respeito... Em determinados momentos, eu errei. Em outros, eles erraram. E assim vai. Assim é a vida. Eu nunca tive problemas com cobranças. É normal no meio do futebol. Eu tô falando do erro na questão mais pessoal, de você confundir o atleta profissional com o pai de família e acabar fazendo coisas que não devem”, pondera o atacante.
O atacante também falou do processo de reformulação do Esquadrão nos últimos anos e enalteceu a importância de Rodriguinho para que o clube fosse campeão da Copa do Nordeste.
“Eu cheguei em 2019, e, de lá para cá, a gente vem fazendo um processo de remontagem, tentando uma forma, e chegamos este ano com um cara que, para mim, foi o divisor de águas, né? Que foi o Rodriguinho”, comenta o goleador ao explicar o papel do meia para o grupo e de como eles partilharam a liderança do vestiário.
“Isso fez com que a gente se entendesse muito. Eu passo aquilo que acho pra ele, e ele também passa pra mim. Conversamos com os demais, Lucas, Douglas... O que ajudou para que, em momentos decisivos, a gente crescesse bastante. Tudo isso fez com que o Bahia chegasse a ser campeão”, detalha Gilberto, antes de tocar na rivalidade com o Vozão.
Artilheiro da Copa do Nordeste, com 9 gols, Gilberto relembra o sentimento de ganhar seu primeiro título regional ao bater o Ceará na final. Ele não esconde que o Tricolor foi com ‘algo a mais’ para o Castelão.
“O Ceará é uma equipe que tem excelentes jogadores. Mostrou isso pela campanha que fez. Claro que a gente não gostou de perder para eles o ano passado, mas tiveram várias coisas que aconteceram por fora. Pessoas falando que a gente era freguês e tudo mais. Carreatas, camisas que foram feitas como se já tivessem ganhado o campeonato...”
"A gente viu isso como um desrespeito com a instituição e nós, atletas do Bahia. Então, fomos para o jogo com uma vontade enorme. Não de arrumar confusão, que acabou acontecendo, mas de ganhar aquele jogo e mostrar que o Bahia é, sim, o maior do Nordeste."
- arremata Gilberto
Além da Copa do Nordeste, Gilberto também projeta o que a torcida pode esperar do Bahia na sequência da temporada. O atacante prega calma e foco em metas gradativas para que o Esquadrão siga bem até o fim de 2021. “A gente tem de adotar uma cautela, sabe? Porque, no ano passado, a gente foi com bastante expectativa por ter um time extremamente técnico e as coisas não andaram. Acabamos brigando para não cair [para a Série B do Campeonato Brasileiro]”.
“A gente tem de ir com calma, ver jogo a jogo, definir metas e, se a gente conseguir essas metas durante o campeonato, com certeza a gente vai estar num patamar grande, chegando entre os primeiros”, afirma.
Gilberto também analisa sua situação contratual com o Bahia. Com contrato apenas até o fim do ano, o camisa 9 diz optar por não saber das conversas de seu empresário com o clube. “Eu não estou sabendo de negociação, prefiro não saber. E, assim que tiver uma resolução, eles [presidente e seu agente] vão passar para mim e a gente vai decidir. Por enquanto, não adianta eu falar porque é uma situação chata para mim e para a torcida, e que só gera polêmica”, aponta.
Por fim, Gilberto respondeu ao 90min sobre seleção brasileira. Ele julga que ainda não fez uma temporada boa o suficiente para vestir a amarelinha. Porém, tem o caminho para tentar alcançar esse objetivo. “Acho que a seleção tá bem servida. Independentemente de ter feito bons campeonatos, eu ainda não fiz um que possa me colocar entre os primeiros. Hoje, como centroavante, eu estou entre os primeiros do Brasil. Mas, como os primeiros do mundo para a seleção, eu acho que ainda falta acrescentar mais alguma coisa ao meu futebol. Talvez um campeonato sul-americano, se Deus abençoar. Jogar o mais alto nível no Brasileiro e conseguir chegar a essa Libertadores que o clube tanto quer.”
“Mas, como eu falei, a gente tem de ir com cautela. E continuar ganhando. Eu acho que merecem estar na seleção aqueles que estão jogando o melhor futebol e estão ganhando. Então, quem estiver ganhando vai estar apto à seleção”, conclui o centroavante.