Escolha de sucessor à Marco Aurélio Cunha mostrará 'reais intenções' da CBF para o futebol feminino
Por Nathália Almeida
Na noite da última terça-feira (2), a Confederação Brasileira de Futebol confirmou o desligamento de Marco Aurélio Cunha do cargo de coordenador das seleções brasileiras femininas. A decisão ocorreu em comum acordo entre as partes, já que o dirigente pretende concorrer à presidência do São Paulo neste ano de 2020, marcado por um aguardado pleito que definirá o sucessor de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, no Morumbi.
Apesar do endeusamento institucional ao trabalho de Marco Aurélio Cunha à frente do futebol feminino nos últimos cinco anos, a gestão do dirigente foi marcada, com boa vontade, por altos e baixos: sob sua batuta, a modalidade teve um pequeno salto em investimento, estrutura e holofotes - vide transmissões do Brasileirão na TV aberta em 2019 -, mas não avançou quase nada no trabalho de base e, especialmente, nas mentalidades.
O dirigente, inclusive, reforçou diversos estereótipos e reproduziu discursos que não cabem mais no século XXI, em entrevistas constrangedoras e ofensivas para qualquer atleta, profissional ou fã da modalidade: "Agora, as mulheres estão ficando mais bonitas, usando maquiagem. Elas vão a campo elegantes. O futebol feminino costumava copiar o masculino (...) Agora, os shorts são um pouco mais curtos, e o estilo dos cabelos mais cuidadosos. Não são mais mulheres vestidas como homens", pontuou durante a Copa do Mundo de 2015.
Caminhando a passos de formiguinha - e dando alguns passos para trás no meio do caminho -, em busca da valorização e do desenvolvimento da modalidade, a CBF tem uma grande oportunidade a partir da saída de Marco Aurélio Cunha: preencher o cargo com alguém que realmente entenda a realidade do futebol feminino, exatamente como a entidade fez na escolha da nova comissão técnica da Seleção, ao buscar a vencedora e experiente Pia Sundhage. Ter somente o 'domínio administrativo' da questão ou a vivência no masculino não basta, por se tratar de uma modalidade recheada de particularidades e demandas específicas, oriundas das décadas de proibição, descaso e preconceito que ainda refletem (e existem) nos dias de hoje.
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