Faces of Football: Estados Unidos – uma carta à seleção nacional
Por Nathália Almeida
Querida Seleção dos Estados Unidos,
Os Estados Unidos não vão ganhar a Copa do Mundo no Catar. Na verdade, os EUA não vão ganhar uma Copa do Mundo em nossa vida, embora eu deva confessar que secretamente guardo uma esperança - sempre fui um pouco sonhador.
Não nos odeie. Esperamos estar errados. Adoraríamos ver nossos meninos erguerem o troféu da Copa do Mundo acima de suas cabeças tanto quanto qualquer torcedor em qualquer lugar.
Mas para amar essa equipe – para segui-los em todo o mundo – não precisamos disso. É a jornada que importa.
A seleção e seus incríveis fãs trilharam esse caminho juntos por mais de 20 anos. Tivemos alguns altos e baixos inacreditáveis em campo. Os EUA são, para a maioria, um azarão no cenário mundial - capazes de resultados incríveis (Itália em 2006 e Inglaterra em 2010), mas também de performances frustrantes.
Dizer que as nossas vidas estão entrelaçadas com o futebol seria um grande eufemismo.
Eu estive em 149 partidas da Seleção dos Estados Unidos em 18 países e em quatro continentes. Até onde sei, fui a mais partidas do que qualquer outro membro do grupo de fãs 'The American Outlaws'. Quando os EUA entraram em campo contra o País de Gales, no Catar, foi meu 150º jogo. Participei das últimas quatro Copas do Mundo, incluindo a Rússia - um caso triste sem os EUA para me fazer companhia.
Minha parceira Amy esteve em 108 partidas da seleção. Seu primeiro jogo de futebol profissional ao vivo foi EUA x México no Estádio Azteca, em 2005. Nosso relacionamento começou durante a Copa do Mundo de 2002. Demos nosso primeiro beijo enquanto ficávamos acordados até tarde para assistir EUA x Portugal na TV.
Alguns anos depois, em 2005, convenci Amy a assistir sua primeira partida na Cidade do México. Foi uma viagem que mudou nossas vidas para sempre. Conhecemos amigos de futebol incríveis e nos apaixonamos pela experiência de viajar para outros países para acompanhar o time.
Depois de um longo namoro e muitos, muitos jogos, eu finalmente pedi a Amy em casamento na Costa Rica, um dia antes de uma eliminatória da Copa do Mundo entre EUA e Costa Rica, em 2009. Mais tarde, Amy foi atacada por uma água-viva, mas isso é outra história.
Depois de nos casarmos, em 2010, nossa lua de mel foi a Copa do Mundo na África do Sul, onde nossa agência de turismo foi enganada e nós ficamos brevemente sem hospedagem ou transporte. Ainda assim, foi uma das melhores viagens de nossas vidas, culminando com o gol de Landon Donovan contra a Argélia.
Então, veio Martin.
Nosso filho, Martin, nasceu - é claro - em um dia de jogo entre EUA e México, em 2 de abril de 2014. Sua primeira roupa foi um macacão de futebol. Eu estava segurando ele enquanto Michael Bradley marcou durante a partida. Meu grito alegre o assustou. Eu lembro dele olhando para mim como se dissesse: 'O que está acontecendo?'
Mas 6 meses depois que ele nasceu, recebemos algumas notícias devastadoras. Martin foi diagnosticado com uma condição cerebral terminal extremamente rara. Disseram-nos que ele tinha semanas a meses de vida.
Mas Martin surpreendeu a todos nós. Ele foi em todos os lugares que fomos. Viajando conosco enquanto assistimos a jogos de futebol em todo o país e no mundo: Irlanda, Inglaterra, Trinidad, Porto Rico. A comunidade de futebol dos EUA e o grupo The American Outlaws nos cercaram de amor e apoio.
Logo após o diagnóstico de Martin, a seleção nos recebeu para uma experiência nos bastidores de um jogo em Miami. Nós visitamos o vestiário. Martin foi fotografado com jogadores, incluindo Clint Dempsey e Jozy Altidore.
Dali em diante, nas festas às véspera dos jogos ou nos portões traseiros, nossos companheiros torcedores apareciam para dar um tapinha na cabeça de Martin ou para dar um beijinho na bochecha. Ele conheceu mais jogadores dos EUA do que podemos contar. E quando ele vinha ao estádio conosco, sempre recebia tratamento VIP.
Martin morreu em 23 de setembro de 2021. Ele tinha 7 anos.
Nas Eliminatórias da Copa do Mundo entre EUA e Jamaica, em Austin, em outubro de 2021, a seleção e o grupo The American Outlaws homenagearam nosso filho. Eles adicionaram Martin à escalação e celebraram sua vida antes do jogo. Seremos eternamente gratos.
Amy e eu nos juntaremos ao nosso time e nossos amigos - nossa família adotiva de torcedores - no Catar. Não poderíamos estar mais empolgados com essa geração jovem e talentosa que entrará em campo.
Queremos ver vitórias e grandes gols. Queremos ganhar uma Copa do Mundo.
Mas vencer não é o que mais amamos na nossa seleção. É a jornada, e são as pessoas que você conhece ao longo do caminho.
E Amy estará vestindo sua camisa da seleção com o nome de Martin nas costas para dar sorte.
Vamos, vamos, EUA!