Faltou Jesus ou Guardiola em Domènec? Catalão não deu certo no Flamengo, mas a culpa não foi só dele
Por Antonio Mota
Com mais de uma década de convívio com o lendário Pep Guardiola, dedicado, estudioso, super aplicado, ‘gente fina’ e com muitas outras qualificações e características, Domènec Torrent chegou ao Flamengo com muito reconhecimento, mesmo que ainda como aposta, e sob muitos holofotes, mas, por inúmeros fatores, não deu certo. Ele não atendeu às expectativas – inclusive próprias. Mas a culpa não é apenas dele.
Torrent nunca foi a primeira opção do Mais Querido. É bom lembrar. Ele foi contratado após o clube não conseguir avançar em outros nomes, como Leonardo Jardim, por exemplo. E, apesar disso, foi respaldo e bancada – o que, de fato, deveria acontecer –, mas aí veio o problema: colocaram o ex-auxiliar de Guardiola como o substituto ideal de Jorge Jesus. A sombra foi pesada demais. Erro de Braz, Spindel e demais responsáveis pelo futebol do Flamengo.
E aí entrou a torcida. A Nação colocou nas costas de Domènec Torrent o peso do trabalho do JJ, e isto foi um grande equívoco. É verdade que as comparações seriam inevitáveis, mas faltou paciência e sobrou resistência. Os flamenguistas queriam um “Mini Mister com pitacos de Guardiola”. Equívoco total. Nenhum treinador no mundo, especialmente devido ao cenário global, seguiria com os trabalhos do luso sem maiores complicações. Isto não existe. Mais uma parcela da culpa vai aqui.
Por fim, mas não menos importante, o momento do mundo, com a pandemia da Covid-19, também prejudicou o catalão. A falta de tempo para treinar, o calendário maluco – o Flamengo chegou a jogar dois jogos em menos de 72h –, as lesões, as convocações das seleções e todo o ambiente não foram favoráveis aos trabalhos do Dome. Uma pena para ele, para o clube e para o futebol brasileiro. O universo não contribuiu.
Dito isto, Domènec Torrent não tinha mais como ficar no Flamengo: o elefante fez estragos que o catalão não conseguiu reparar, e aí chegou a hora de mudar. Uma história repetida, mas, infelizmente, sempre comum no Brasil. O profissional não deu certo e ficou longe das expectativas criadas, mas o erro não foi só dele. E, mais, o futebol brasileiro também perdeu. E muito.