Fragilidade do rival não desvaloriza virtudes mostradas pela Seleção Feminina em amistosos
Por Nathália Almeida
Nem a total euforia e nem a indiferença. Analisar as goleadas de 6 a 0 e 8 a 0 emplacadas pela Seleção Brasileira Feminina sobre o Equador, nos jogos disputados na capital paulista nos dias 27 de novembro e 1º de dezembro, exige o meio-termo entre esses dois extremos. Levar em consideração o nível do rival é importante, mas também é fundamental entender o contexto dessas goleadas e as virtudes apresentadas pela equipe de Pia Sundhage nos dois duelos.
Em primeiro lugar, é necessário valorizar o entrosamento de um time que não jogava junto desde o mês de março. Nos dois jogos contra o Equador, vimos muitas jogadas trabalhadas, tabelas e ótimo diálogo entre as atletas brasileiras, algo expressivo levando em conta as poucas sessões de treinos que a Canarinho teve desde a 'explosão' da pandemia global de covid-19. Mais do que os resultados avassaladores, a herança mais importante destes amistosos é o forte sinal de que a filosofia de jogo e as ideias de Pia já estão bem assimiladas pelo grupo, ao ponto de uma grande inatividade não atrasar/involuir o ajuste fino desta equipe.
Golear o Equador não é algo raro na história deste confronto, mas muitas das grandes vitórias recentes sobre este adversário aconteciam de forma quase instintiva, pura e simplesmente pela diferença de qualidade individual. Hoje, a diferença de qualidade técnica das jogadoras segue sendo um fator, mas outros aspectos como organização coletiva e disciplina tática falam ainda mais alto e potencializam as individualidades. Méritos da atual comissão técnica, que vem conseguindo construir e consolidar uma identidade de jogo mesmo em tão pouco tempo de trabalho.
Vimos identidade e padrão de jogo contra o Equador, mas também nas partidas contra seleções mais fortes como Holanda, Canadá e Inglaterra, alguns dos amistosos disputados pela Canarinho neste novo ciclo. E é justamente esse novo DNA em solidificação, que se manifesta nos jogos fáceis e nos jogos difíceis, que nos permite vislumbrar uma Seleção Brasileira competitiva diante das principais potências do futebol feminino. O 14 a 0 agregado contra o Equador não é motivo de euforia, mas o caminho que vem sendo trilhado e que culminou nele, é animador.