Futebol brasileiro ainda não deveria voltar nem para treinos; medida precoce e que não olha o panorama completo
Por Rodrigo Salomao
No último domingo, uma reportagem trazida pelo Valor Econômico (e reproduzida por aqui) trouxe à tona uma análise dos clubes da Série A do Brasileirão e suas respectivas voltas aos treinamentos. Das vinte equipes, oito já retornarão nesta semana. Mas somente Grêmio e Internacional o farão de maneira presencial. Outro que parece ansioso para isso é o Cruzeiro, só à espera de um aval das autoridades para voltar.
Mesmo que se tomem todos os cuidados possíveis e impossíveis, entendo se tratar de uma medida temerária. Estamos carentes e com muita saudade do futebol? Com toda certeza. Não se trata disso. No entanto, o momento vai além de uma autorização de um decreto ou de uma federação, mas sim de simplesmente olhar à nossa volta. Olhar o Brasil e olhar o mundo. Analisar os números e suas consequências. Vale a pena o risco de se tornar epicentro de uma escala multiplicadora do vírus só para reiniciar os trabalhos antes de todos? Não consigo enxergar como.
Nosso país já passou da fase de olhar com preocupação para o aumento de infectados. Agora já estamos falando de mortes. São centenas por dia. Os jogadores e a comissão técnica vão chegar de carro, entrar e sair direto? Ótimo. E os funcionários que precisam do transporte público? A desigualdade que assola o Brasil em tantos e tantos campos não tem no futebol uma ilha. Se misturarmos ao sistema de saúde desequilibrado e cada vez mais exigido neste momento, as consequências parecem ainda mais aterrorizantes.
Basta olhar que na Europa, onde muita coisa aconteceu antes e onde há menos desequilíbrio no tratamento público de um modo geral, nenhuma liga voltou. Algumas já até encerraram. Treinos são raros. Isso com isolamento um mês antes. É a hora e a vez dos brasileiros seguirem este caminho de afrouxamento? Definitivamente, ainda não. Quem puder, espera. E os clubes podem esperar pra treinar presencialmente, porque não tem ninguém ainda para jogar. Questão de bom senso.
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