LeBron James mostra a Ibrahimovic que todo grande atleta deve, sim, falar sobre política
Por Breiller Pires
Nesta semana, o atacante sueco Zlatan Ibrahimovic deu entrevista à Uefa criticando LeBron James por seus posicionamentos políticos. Para o craque do Milan, jogadores e atletas não devem se dedicar ao ativismo. "Ele [LeBron] é um fenômeno, mas eu não gosto quando pessoas com status falam sobre política. Faça o que você é bom fazendo", argumentou o centroavante. "Esse é o primeiro erro que pessoas famosas fazem quando ficam famosas. Para mim é melhor evitar certos tópicos e fazer o que você é bom fazendo, senão corre o risco de cometer algum erro."
Além de ser o maior jogador de basquete da atualidade, o astro da NBA também é reconhecido por sua postura ativista fora das quadras. Como militante em defesa dos direitos de minorias étnicas, LeBron sempre externou seu repúdio a políticos ultraconservadores como Donald Trump. Participou de comícios do Partido Democrata e doou recursos para a campanha de Barack Obama. Em 2017, teve a casa atacada por pichações racistas. Nada que o intimidasse em sua jornada combativa.
“Não importa quanto dinheiro você tenha, o quão famoso você seja ou quantas pessoas te admirem. Ser negro nos Estados Unidos é difícil”, disse o jogador em um pronunciamento. “O ódio contra afro-americanos acontece todos os dias. Temos um longo caminho a percorrer como sociedade até nos sentirmos realmente iguais.” Na última eleição, incentivou uma campanha de incentivo ao voto para desbancar Trump. É uma das principais vozes do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos, usando sua visibilidade para denunciar a violência policial contra a população negra.
LeBron não vê problemas em ter sua carreira esportiva associada ao ativismo político. Pelo contrário, quer ser reconhecido como "mais que um atleta". Está disposto a se expor aos críticos e opositores de suas ideias. Ainda assim, continua sendo o jogador mais bem pago e com o maior número de patrocinadores da NBA. O líder do Los Angeles Lakers prova que é viável atrelar uma trajetória lucrativa no esporte à militância antirracista.
Em resposta a Ibra, o jogador de basquete se pronunciou na noite da última sexta-feira, explicando que, como um atleta de destaque, não pode se omitir do debate político. "Nunca vou calar a boca sobre as coisas que estão erradas", disse LeBron. "Eu prego sobre meu povo e prego sobre igualdade, justiça social, racismo, repressão eleitoral. Vou usar minha plataforma para continuar a lançar luz sobre tudo o que está acontecendo neste país [EUA] e ao redor do mundo. De jeito nenhum eu iria me limitar ao esporte, porque eu entendo o quão poderosas esta plataforma e minha voz são."
Mantendo a serenidade de sua réplica, lembrou que o próprio Ibrahimovic, filho de pai bósnio e mãe croata, já se posicionou politicamente - ainda que não tenha se dado conta disso - quando criticou a xenofobia contra imigrantes na Suécia. "Ele sentiu que havia algum racismo acontecendo", afirmou Lebron, antes de ressaltar como a política impacta seu trabalho filantrópico. "Eu tenho mais de 300 crianças na minha fundação que precisam de voz e eu sou a voz delas. Eu sou o cara errado para se bater de frente porque eu faço minha lição de casa."
Na verdade, Lebron é o cara certo para bater de frente com as injustiças sociais. Tem prestígio, poder econômico, visibilidade e, sobretudo, consciência de classe. Por outro lado, Ibra foi recentemente acusado de ofender um companheiro de profissão negro (Lukaku) com termos racistas. Em vez de se desculpar, preferiu seguir provocando o rival, como se racismo fosse aceitável dentro de uma rixa esportiva. Embora também seja um ídolo global, o sueco tem muito a aprender com LeBron, que calou sua crítica rasa mostrando que todo grande atleta deve, sim, falar sobre política.