Nenê x Thiago Silva: o choro agora é aceitável no futebol?
Por Lucas Humberto
As lágrimas de Nenê simbolizaram o dramático fim de temporada do Vasco da Gama. Se durante algumas rodadas Fernando Diniz e comandados sonharam com o acesso, a sequência de três derrotas freou tais possibilidades. A tragédia quase teatral ganhou requintes de crueldade, afinal, cair ante o Botafogo pelo expressivo placar de 4 a 0, em pleno São Januário, não parece a melhor das combinações.
Diante do caótico cenário que se desenha pela frente, incluindo todo o ano futebolístico de 2022, Nenê não conteve as lágrimas. Em meio ao choro, verdadeiras declarações de amor e pedidos de desculpa aos torcedores cruzmaltinos. Se cautelosamente trocarmos os contextos, o enredo não se mostra tão diferente de Thiago Silva em 2014, na disputa de pênaltis entre a Seleção Brasileira e o Chile. Mesmo ausente no fatídico 7 a 1 - estava suspenso -, o zagueiro ficou marcado.
Há pesos diferentes nas duas situações? Claro. Mas a presença do choro, tão pouco valorizado perante a masculinidade compulsória do futebol, marca duas posições distintas da sociedade. E talvez até um leve entendimento sobre saúde mental e suas implicações. A caça às bruxas - ou a qualquer singela ausência do masculino - que tanto perseguiu Thiago Silva dificilmente fará outra vítima.
As mensagens de apoio ao meia-atacante vascaíno vieram de todos os lados. Em contrapartida, os rivais, como esperado, aproveitaram para caçoar, afinal, Nenê também tem sua cota de feitos controversos ao longo da extensa e vitoriosa carreira. No entanto, mesmo diante da dubiedade marcante das quatro linhas, a lição que fica pode ser capaz de nos trazer certo alento: o choro está ficando mais aceitável entre homens.
Infelizmente, o tempo que levou até que os atletas tivessem espaço para mostrar humanidade - e as lágrimas não poderiam ser um traço mais nosso - marcou carreiras inteiras. Thiago Silva, por exemplo, precisou de uma "volta por cima" para ter sua credibilidade de volta. Esse é o preço pago por quebrar as amarras do sexismo. Nenê talvez não saiba, mas suas lágrimas significaram muito mais que um forte desabafo.