Nunca critiquei? Mentira!

Ganso foi o grande nome da decisão do Carioca
Ganso foi o grande nome da decisão do Carioca / Buda Mendes/GettyImages
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Eu poderia dizer - Ganso e Abel? - nunca critiquei. 

Mas seria mentira… Critiquei, muito, inclusive por aqui e, honestamente, não me arrependo de tê-lo feito. Não por orgulho meu, mas porque continuo achando que tinha razão ao criticar ambos.

Critiquei o Ganso ao longo de quase toda a sua passagem pelo Fluminense até o momento. Assim como a maior parte da torcida, me iludi com a sua chegada, achando ser um bom negócio a vinda de um jogador da sua qualidade sem nenhum custo de compra pro clube - pagando “só” salários. Mas, assim como na vida, quando a esmola é demais, o santo desconfia. E o Ganso, aquele Ganso de então, era isso: esmola do futebol europeu. Preterido pelo Sevilla, escanteado no fraco Amiens da 2ª divisão francesa, ignorado pelos clubes onde já tinha jogado no Brasil, nós deveríamos ter nos dado conta de que era “esmola demais”, porque era isso mesmo. Ganso passou os últimos anos como um ex-jogador em atividade nas Laranjeiras, à exceção de brevíssimos lampejos no fracassado esquema do Diniz. E só. Pouquíssimos jogos, pouquíssima entrega quando jogava, disposição zero, preguiça absoluta. O que ele tinha (sempre teve) de qualidade, era totalmente ofuscada pela sua total preguiça em jogar um esporte coletivo. Assistimos à triste - e, pra nós torcedores, irritante - decadência de um refinadíssimo jogador, ladeira abaixo rumo ao seu ocaso. 

Paulo Henrique Ganso
Ganso foi contratado pelo Fluminense em 2019 / Alexandre Schneider/GettyImages

Critiquei o Abel pela sua total desconexão com a realidade do futebol atual. Municiado por um elenco que, se não é brilhante, é sim bastante competitivo para pelo menos chegar bem às fases de mata-mata da Libertadores, abastecido com contratações pontuais (finalmente) bem feitas pela diretoria, o que vimos nesse começo de ano foi um futebol de pouquíssimo brilho e de muito medo, com posturas excessivamente defensivas e batata quente na saída de bola. À exceção, talvez, do jogo contra o (fraco) Vasco, a verdade é que construímos o tal quase-recorde à base de vitórias sobre times semi-amadores do futebol Carioca, além de atuações medrosas como a no primeiro jogo contra o Millonarios. Apesar de absurdamente frustrante, a verdade é que a eliminação pro Olimpia (também fraco, apesar de não tão fraco quanto o Vasco) não foi nenhuma grande surpresa. Jogamos bem o primeiro jogo, sim, é verdade, mas esse sim foi uma exceção.

O jogo da volta foi nojento, horroroso, covarde e, ali, merecemos o destino que tivemos. Pagamos o preço do esquema que não sabia sair de uma mínima pressão na nossa saída de bola, que rifava qualquer bola no meio, que dependia dos lampejos do LH, do Arias e do impressionante Cano, que não desiste de nenhuma bola. Fomos eliminados por um time fraco, porque nos escondemos atrás de uma vantagem, ao invés de jogarmos futebol. Contra o Botafogo, foi quase a mesma coisa, ou até pior, porque, se o time do Olimpia é fraco, o que dizer do time do Botafogo? Pois fomos amassados por esses dois times, dos quais eu não sabia o nome de mais de um ou dois jogadores. A verdade é que chegamos na final do Estadual apesar do medo do Abel. 

Então, sim, critiquei, e muito. 

Critiquei porque não aceito que o Fluminense tenha medo. 

Abel Braga
Abel Braga vinha sofrendo com críticas neste início de temporada / Buda Mendes/GettyImages

Nunca tivemos medo dos temidos River Plate e Boca Juniors - aliás, eles sabem bem que contra a gente o buraco é mais embaixo, pode perguntar lá. Nunca tivemos medo do bilionário rival filho da rede Globo - esse mesmo, o que não ganha da gente. Ganhamos nosso último Brasileiro rebaixando o temido Palmeiras (sim, ainda não era o Palmeiras da neo-Parmalat-DonaLeila, mas não tem tanto tempo assim). 

Enquanto eu tiver sangue correndo nas minhas veias, não aceito torcer pra time que tem medo. Uma coisa é se defender, beleza. Jogar com o resultado, beleza. Passar sufoco de vez em quando (quem dera se fosse só de vez em quando), beleza. Mas tem que querer JOGAR, sempre. Querer ganhar, sempre. Sou realista, sei que não entramos pra ganhar todos os campeonatos - futebol é investimento, e o nosso não é igual ao de alguns outros, ok, justo. Não tô falando em querer ser campeão de tudo. Sou bastante consciente disso. Mas, com 11 em campo, sendo que os nossos 11 vestindo a camisa do Fluminense, eu SEMPRE vou esperar deles que deixem a alma em campo, que queiram a vitória, contra quem for. 

Para ser justo, foi isso que o Ganso fez hoje e também no primeiro jogo da Final. Foi isso que o time do Abel fez hoje, mais do que no primeiro jogo da final. 

Hoje, o Ganso e o time do Fluminense QUISERAM ganhar o jogo. Muito mais do que no jogo da ida, aliás. E, olha que curioso - mesmo que hoje tenhamos só empatado, jogamos MUITO melhor, querendo jogar, querendo ganhar, do que no primeiro jogo.  

Abel Braga, Ganso
Abel e Ganso, de questionados à redentores? / Buda Mendes/GettyImages

Hoje, eu bato palmas pro Ganso. Jogou demais. QUIS jogar demais. Controlou o jogo - não só o SEU jogo, mas o dos seus companheiros, dosando o ritmo, chamando a responsabilidade, voltando pra marcar e buscar a saída de bola, elevando o jogo dos seus companheiros (repara o que estão jogando o André e o Yago ao seu lado). Ao QUERER jogar, o Ganso fez o time INTEIRO querer jogar junto com ele. Querer a bola, querer aparecer pro jogo, querer retomar a posse, querer buscar o passe certo ao invés da rifada. O Ganso, hoje, foi o maestro que esperávamos dele há anos, desde que chegou. Uma pena que não tenha o físico para aguentar a insana temporada do futebol brasileiro, mas, enquanto tiver, que consigamos embalá-lo em plástico bolha e preservá-lo para jogos grandes, como esse, onde aparece a vontade de jogar bola do craque. Ganso hoje foi craque.

E também reconheço a importância do Abel nesse jogo de hoje. Primeiro, por ter a humildade de colocar os dois que entraram pra mudar o primeiro jogo como titulares do segundo - Ganso e Arias. Segundo, por subir a marcação pra tirar um pouco da saída de bola do Flamengo. Dar campo demais pra quem tem qualidade é suicídio (ou burrice) e hoje ele não fez isso, pelo menos não na maior parte do tempo. Terceiro, por fazer o time se sentir como um grupo, onde, pelo menos aparentemente, todos torcem e jogam pelos outros - isso não é fácil num elenco mais rodado, onde ninguém gosta de pegar um banco. No jogo de hoje, gostamos mais da posse, agredimos muito mais, disputamos mais as jogadas, apesar do erro infantil no gol deles. Porque não parar o Arrascaeta com falta? Enfim... 

Ganso e Abel, HOJE, foram muito bem. Te confesso que o Abel deve ter sentido a orelha arder quando colocou o QUARTO zagueiro em campo, mas, até nisso hoje ele acabou acertando mais do que errando. 

Não estou me desculpando pelas críticas que fiz aos dois. Continuo não aceitando ex-jogador em falsa atividade e continuo não aceitando treinador que monta times covardes. Mas, hoje, pelo menos hoje, ambos quiseram jogar, quiseram ganhar, e se sagraram merecidamente campeões. 

Que as tenebrosas atuações recentes e a garra e a qualidade de hoje sejam avaliadas pela comissão técnica com o mesmo critério, para que a gente comemore, sim, muito, mas não se iluda com o título. Mostramos o que podemos fazer quando queremos. O importante agora é continuar querendo, sempre, em tudo o que formos disputar. 

German Cano
Fluminense encerrou jejum de nove anos sem título carioca / Buda Mendes/GettyImages

PS: o que dizer da arbitragem da federação de futebol do Rio de Janeiro? Não bastasse escalar o árbitro que comemorou o gol roubado do Flamengo contra nós em 2017, no primeiro jogo tivemos um gol absolutamente legal pessimamente anulado por um bandeirinha que simplesmente se recusou a acatar o protocolo básico do VAR, que é o de só levantar a bandeira no fim do lance. No segundo, um lance vergonhoso onde o árbitro Sr. Bruno Arleu simplesmente se recusou a dar o segundo amarelo pro David Luiz num lance absurdo, onde não havia NENHUMA dúvida se era pra cartão ou não, sendo que eram só 5 do segundo tempo, ou seja, jogaríamos 40 minutos com um a mais. Se já não bastasse ser complicado jogar contra um time que tem tanto investimento a mais do que você e a flapress do plim plim a seu favor, todo ano passamos pela mesma situação vergonhosa de termos que jogar contra a arbitragem também. Ainda bem que o homem estava inspirado e largou logo três Ls pra não deixar dúvida de que estamos de volta ao #normal. 

Saudações Tricolores,
Do Campeão Carioca de 2022