Olímpico, 70 anos: como eu me despedi do estádio que marcou a história do Grêmio?
- Ex-casa tricolor segue de pé, mesmo após o histórico 2 de dezembro de 2012
- Tricolor atuou no palco da Azenha por praticamente seis décadas
Por Fabio Utz
Eu me lembro, como se fosse hoje, a primeira vez em que fui a um jogo do Grêmio no estádio Olímpico. Confesso que não saberia dizer o ano, apenas que era contra o Vitória. Agora, se me perguntarem quantas partidas do Tricolor lá eu acompanhei, mentiria com qualquer resposta. Foram infindáveis.
Claro, por exemplo, que tenho imagens na minha cabeça entrando no Monumental para acompanhar o primeiro Gre-Nal da minha vida - o placar e a data ficaram no esquecimento. Obivamente também sei, aí com todas as nuances possíveis, como foi ver in loco, pela primeira vez, o Tricolor ganhar um título - quis o destino que Nildo marcasse bem na minha direção o gol da conquista da Copa do Brasil de 1994. Também é impossível esquecer quando lá estive acompanhando a partida de ida da final da Libertadores de 1995 - foi, simplesmente, demais.
E a ida para ver a equipe de Felipão e companhia ganhar o Campeonato Brasileiro de 1996? Bem, esta partida sempre é alvo de conversas quando me encontro com os amigos que dividiram comigo aquele momento inesquecível e que qualifico, com longa margem de distância, como o dia mais feliz que vivi naquele estádio. Enfim, eu poderia divagar aqui por linhas infinitas para contar esta história. Mas não é este o objetivo.
Neste 19 de setembro de 2024, o Olímpico completa 70 anos. E a gente fala completa por ele, mesmo em ruínas, permanecer de pé, aos olhos de quem passa ao seu redor. E, sim, transitar pela Azenha, Carlos Barbosa ou avistar o Largo dos Campeões, me deixa triste. Afinal, o 2 de dezembro de 2012 vem à mente. A tristeza se dá não pelo fato de apenas termos empatado um clássico com o Inter em 0 a 0, mas por aquele dia ter entrado para a história como a despedida oficial de uma casa que foi de todos os gremistas por quase seis décadas.
O calor era infernal. Eu poderia estar trabalhando no jogo, mas pedi para realizar uma cobertura prévia ao duelo justamente para viver como torcedor aquele momento. Cheguei ao Olímpico mais de três horas antes de a bola rolar, e o trânsito já era atípico. Fiz questão de pedir credenciamento, para poder transitar por áreas que um torcedor comum não teria acesso. Após os devidos trâmites, perambulei pelo pátio antes de dar uma passada pelo túnel que, por diversas vezes, transitei para chegar ao gramado, seja em dias de trabalho ou em pós-jogos em que eu me aventurava, na maioria das vezes com sucesso, em passar pelo segurança que cuidava do portão - e que virou meu amigo.
Já nas cadeiras, ao lado do meu pai, não hesitei em registrar, em fotos, as homenagens que foram feitas aos heróis gremistas do Olímpico. Ali, lágrimas escorreram - o que era algo muito raro de acontecer (muito raro mesmo) em se tratando de futebol. Era o adeus que se aproximava. Era o fim de uma era. E olha que a bola sequer havia rolado para o clássico.
E vamos combinar: o que pouco importava ali era o jogo em si. A atmosfera, a aura do Olímpico precisava ser vivenciada a pleno (ao menos por mim) naquela tarde de domingo. E foi o que fiz. Tão logo o juiz apitou o final do Gre-Nal, desci, praticamente ignorei a coletiva do técnico Vanderlei Luxemburgo, a qual eu poderia, se quisesse, acessar, e adentrei correndo ao campo de jogo.
Ali, cumpri o ritual que planejei. Andei pelos diversos cantos daquela sagrada grama, entrei na goleira, sentei, deitei no chão, tirei foto, acompanhei de uma posição privilegiada a última avalanche - sim, a torcida ficou em peso no estádio horas depois da partida). Ah, e arranquei, sim, uns nacos de grama para botar no meu bolso. Dali, iniciei um longo caminho de volta para casa, de ônibus em ônibus, sempre pensando que 'meu amigo' não faria mais parte da rotina do torcedor gremista.
No fim, vieram mais algumas dezenas de idas ao Olímpico, seja para cobrir treinos que ainda lá ocorreram, ver jogos que precisaram ali ser disputados ou, também, embarcar em caravanas rumo a clássicos no Beira-Rio. Ah, e sem esquecer do dia que lá levei um pedreiro para tirar da parede do portão 1, principal acesso à Social do Velho Casarão, o azulejo que levava meu nome e do meu pai e que seguirá comigo para sempre guardado, assim como todos os detalhes daquele 2 de dezembro.
O Olímpico é eterno. Na nossa história. Na nossa mente. Na nossa vida de gremista.
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