Operação Penalidade Máxima: após mensagens divulgadas, Santos decide afastar zagueiro Eduardo Bauermann
Por Antonio Mota
Poucas semanas após ser apontado como um dos alvos da investigação da Operação Penalidade Máxima do Ministério Público de Goiás, no final do mês de abril, e de se declarar inocente, o zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos, teve revelados trechos de uma conversa sua com um apostador, que teria lhe pago R$ 50 mil para que levasse um cartão amarelo em jogo contra o Avaí, pelo Campeonato Brasileiro de 2022.
Após a publicização do bate-papo com o apostador, Bauermann se reuniu com a diretoria santista nesta terça-feira, 9 de maio, para falar sobre o caso. O fato de ele supostamente ter recebido dinheiro da quadrilha investigada pelo MP-GO por manipulação de jogos no Brasil é extremamente sério e pode gerar severas punições dentro e fora do esporte.
De forma preventiva, o Peixe optou pelo afastamento do atleta enquanto as investigações avançam, divulgando comunicado oficial ainda na manhã de hoje: "O Santos Futebol Clube informa que o atleta Eduardo Bauermann foi comunicado que está afastado preventivamente dos treinos com o elenco profissional, a partir desta terça-feira (9), diante dos novos desdobramentos divulgados na Operação Penalidade Máxima 2, do Ministério Público de Goiás. O jogador permanecerá fazendo atividades físicas no CT Rei Pelé. O Clube aguardará se a Justiça aceitará a denúncia para definir novas ações, sempre com o pensamento voltado a preservar a instituição. O Santos FC não tolera desvios de conduta e de ética."
Entenda o caso
No bate-papo que teve com o apostador, Bauermann foi cobrado por não ter recebido um cartão amarelo contra o Avaí, pelo Brasileirão 2022. O zagueiro teria recebido R$ 50 mil para levar tal punição. Porém, como não cumpriu o combinado, o defensor passou a ser cobrado por expulsão contra o Botafogo (jogo da rodada seguinte), algo que aconteceu, mas apenas após o apito final.
De acordo com informações do “ge”, Eduardo Bauermann pode ser punido tanto desportiva quanto criminalmente. O defensor do Peixe pode responder aos seguintes crimes: associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção em âmbito esportivo. Veja, primeiro, o que diz o Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que prevê desde multa até exclusão do esporte:
- Artigo 243: atuar, deliberadamente, de modo prejudicial à equipe que defende. Pena: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e suspensão de 180 a 360 dias.
1º parágrafo: se a infração for cometida mediante pagamento ou promessa de qualquer vantagem, a pena será de suspensão de 360 a 720 dias e eliminação no caso de reincidência, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).
2º parágrafo: o autor da promessa ou da vantagem será punido com pena de eliminação, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais). - Artigo 243-A: Atuar, de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida, prova ou equivalente. Pena: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e suspensão de seis a 12 partidas, provas ou equivalentes, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, ou pelo prazo de 180 a 360 dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código; no caso de reincidência, a pena será de eliminação.
Parágrafo único. Se do procedimento atingir-se o resultado pretendido, o órgão judicante poderá anular a partida, prova ou equivalente, e as penas serão de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e suspensão de 12 a 24 partidas, provas ou equivalentes, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, ou pelo prazo de 360 a 720 dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código; no caso de reincidência, a pena será de eliminação.
Em outro artigo do CBJD, o 242, há a previsão de multa – de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais) – e até de exclusão do esporte direta, sem necessidade de reincidência por “dar ou prometer vantagem indevida (...) de qualquer modo influencie o resultado de partida, prova ou equivalente".
Ainda conforme a fonte citada, os clubes (o Santos e o Avaí, por exemplo) são colocados como vítimas e é pouco provável que alguma partida venha a ser anulada. As casas de apostas também entram nessa condição. Os possíveis julgados e penalizados serão os jogadores, aliciadores e apostadores.
No caso de Eduardo Bauermann, o Santos deu respaldo ao jogador após o anúncio das investigações. Porém, o clube agora vai realizar uma nova investigação para definir o futuro do defensor de 27 anos.
A conversa entre Eduardo Bauermann e apostador (transcrição do ge)
Eduardo Bauermann: "Mano, só me avisa antes se realmente vai dar pra fazer, senão nem tomo cartão a toa, entende".
Apostador: "Fica em paz, irmão. Vai dar certo. Nois (sic) sempre dá um jeito. Mano se você falou pra alguém (da) aposta manda não apostar mais, demoro (sic). Tmj vamos pra cima".
Eduardo Bauermann: "Não, não, nem falei nada mano... quem comentou que faria uma aposta também foi o Luiz Taveira (empresário do zagueiro), mas ele falou brincando.. acho que não iria fazer. Mas se alguém me chamar aqui pra fazer vou cortar já".
Apostador: "Truta, o que você fez da sua vida, mano? Qual a fita? Truta, você foi pago para fazer o que, mano???? Você vai pagar todo meu prejuízo, mano. E aí, truta?????".
Apostador: "Olha a porra da merda que você fez. Mano, pq você não fez a porra que eu te falei. Mano, pq não tomou essa porra no primeiro tempo. Pq não deu uma porra de uma cutuvelada (cotovelada). Mano, pq você não me escuta, mano. Você me fudeu de novo mano. Mais (sic) dessa vez você vai resolver. Mano, você vai me pagar, tudo. Eu te pedi, eu confiei em você mano. E você me desonrou. De novo mano. Não tô acreditando nisso. Não deu certo porque você não escuta os outros. Era uma porra de uma curuvelada (sic), um tapa na cara do jogador. Só isso, você não fez mano, pq você não quis".
Eduardo Bauermann: "Mano, de coração, não foi porque eu não quis, eu te juro! Senão não tinha tomado nem no final e teria inventado uma desculpa para você...".
Apostador: "Pq você não deu uma cotovelada no cara???? O barato vai ficar louco para você".
Eduardo Bauermann: "Mas estou correndo atrás pra conseguir te pagar esses 800 mil que você falou".
Apostador: "Cadê os 50 (mil) que eu já te mandei mano?".
Eduardo Bauermann: "Tá aqui, nem mexi nesse dinheiro".
Apostador: "Já vê aí pra já mandar esse dinheiro mano".
O empresário de Bauermann, Luiz Taveira, que foi mencionado em conversa com o apostador, foi procurado pelo “ge” e afirmou que jamais fez apostas e também mostrou confiança no zagueiro. Ele ainda declarou que não sabia de qualquer conversa entre o defensor e apostadores.