Opinião: As mudanças (ou não) do futebol brasileiro após dez anos do 7 a 1

  • Brasil teve sua pior derrota na história do futebol há dez anos
  • Poucas mudanças ocorreram desde a goleada histórica da Alemanha
David Luiz e Maicon durante Brasil 1 x 7 Alemanha
David Luiz e Maicon durante Brasil 1 x 7 Alemanha / Laurence Griffiths/GettyImages
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Nesta segunda-feira (8), o futebol brasileiro "comemora" uma de suas marcas mais indigestas com o 10º aniversário da histórica goleada da Alemanha sobre a Seleção Brasileira. Em plena semifinal de Copa do Mundo no Mineirão, o Brasil sofreu cinco gols em 30 minutos e terminou a partida com o placar de 7 a 1 contra, resultando na maior derrota da história canarinho em Mundiais.

O impacto da goleada foi ampliado na sequência com a derrota sofrida para a Holanda na disputa pelo terceiro lugar da Copa do Mundo no Estádio Mané Garrincha, quando a Seleção Brasileira deixou o campo com vaias após derrota por 3 a 0. Ou seja, o Brasil deixou o mundial sem subir ao pódio, mesmo diante dos enormes investimentos em estádios e infraestruturas, considerando também o fato de que nem todas as obras prometidas foram entregues no prazo.

Luiz Felipe Scolari
Luiz Felipe Scolari, ex-técnico da Seleção Brasileira / Jamie McDonald/GettyImages

Diante de um resultado catastrófico, houve uma mobilização imediata em busca de mudanças consideradas urgentes no futebol brasileiro. Neste artigo especial, o 90min reflete sobre quais foram as novidades na modalidade, na CBF e na Seleção Brasileira desde o 7 a 1 e quais situações permaneceram iguais.

Profissionalização de gestão da CBF segue longe de acontecer

Uma das mudanças mais pedidas consistia em pedidos na reforma do comando da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição marcada por diversos presidentes sem capacidade de gestão e mergulhados em casos de corrupção. Em 2015, José Maria Marin deixou o cargo sob investigações da FBI por suspeição de envolvimento em esquemas de corrupção. sendo citado em diversos depoimentos, gravações e documentos, os quais causaram o banimento vitalício no futebol.

Marco Polo Del Nero
Marco Polo Del Nero / Buda Mendes/GettyImages

Com a saída de Marin, tivemos na CBF a chegada de Marco Polo Del Nero para assumir o cargo de presidente, em uma cerimônia que contou com fortes aplausos de presidentes de clubes e federações. No entanto, Del Nero teve o mesmo fim e foi banido do futebol de forma vitalícia pela Fifa por violar diversos artigos, incluindo suborno, corrupção, quebra de regras gerais de conduta, do Código de Ética e pelo fato de oferecer e aceitar presentes pensando em benefícios.

Após o sucessor Coronel Nunes comandar a CBF por dois anos, Rogério Caboclo assumiu a partir de 2019 prometendo forte investimento no futebol brasileiro e uma releitura do calendário. Porém, o ex-presidente da CBF foi afastado do cargo após ser alvo de três denúncias por assédio moral e sexual ocorridos dentro da sede, apagando qualquer envolvimento na conquista na Copa América de 2019, realizada em território brasileiro.

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Rogério Caboclo, Pia Sundhage e Tite / MAURO PIMENTEL/GettyImages

Desde março de 2022, a CBF está sob gestão oficial de Ednaldo Rodrigues, uma gestão muito criticada pela falta de capacidade nas tomadas de decisão. O atual mandatário do futebol brasileiro expôs a Seleção Brasileira ao ridículo no caso envolvendo Ramon Menezes, Carlo Ancelotti e Fernando Diniz. Em sua gestão, a Seleção Brasileira masculina acumula resultados extremamente negativos, enquanto a feminina teve a sua pior participação da história em uma Copa do Mundo.

Os altos e baixos no comando da Seleção Brasileira

Tite
Tite durante a Copa do Mundo 2022 / BSR Agency/GettyImages

Antes bancada com toda a convicção pelo ex-presidente José Maria Marin, a comissão técnica de Luiz Felipe Scolari foi demitida imediatamente após o término da Copa do Mundo. No entanto, a expectativa pela chegada de um novo técnico que reformularia a Seleção Brasileira foi rapidamente quebrada com o retorno de Dunga e a chegada de Gilmar Rinaldi como novo coordenador.

O melhor momento de comando técnico desde o 7 a 1 consistiu na chegada de Tite em junho de 2016, técnico responsável por implementar um trabalho de excelência na América do Sul, deixando a Seleção Brasileira extremamente competitiva em jogos de Eliminatórias da Copa e Copa América Apesar disso, o atual técnico do Flamengo deixou o cargo com duas eliminações para europeus em mundiais.

Fernando Diniz
Fernando Diniz, demitido após Brasil 0 x 1 Argentina / Wagner Meier/GettyImages

Por fim, sob comando de Ednaldo Rodrigues, o Brasil teoricamente estaria sob comando de Carlo Ancelotti neste momento, mas o experiente técnico renovou contrato com o Real Madrid e frustrou os planos da CBF. Diante dos resultados negativos, Ramon Menezes deu lugar à Fernando Diniz, mas o ex-técnico do Fluminense foi demitido após derrota por 1 a 0 contra a Argentina, resultado que deixou o Brasil em 6º lugar após seis jogos disputados.

Pensando novamente em agradar determinados setores da imprensa e da crítica especializada, Ednaldo resolveu optar pela chegada de Dorival Júnior para tentar um estilo de jogo menos complexo em relação ao antecessor.

Dorival Junior
Dorival Junior, eliminado da Copa América 2024 / Kevork Djansezian/GettyImages

Entretanto, o técnico que venceu títulos com Flamengo e São Paulo está demonstrando incapacidade tática e estratégica diante de um cenário mais competitivo e de melhor nível técnico, levando à eliminação para o Uruguai nas quartas de final da Copa América 2024. Além disso, a imagem que mostra o treinador não conseguindo se comunicar com os demais jogadores antes da disputa por pênaltis também demonstrou uma falta de comando notável neste início de trabalho.

Fim do Bom Senso FC, chegada das SAFs e a permanência do calendário

Criado por um grupo de jogadores e ex-jogadores pensando em modificar a estrutura do futebol brasileiro, o movimento Bom Senso FC perdeu força quando não aproveitou o vexame na Copa do Mundo para pressionar a CBF por mudanças. O movimento inclusive perdeu força diante da opinião pública quando todos os esforços foram concentrados na Medida Provisória 671/15.

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Tentativa de "limpar" as mazelas da CBF no futebol brasileiro não foram bem sucedidas / DOUGLAS SHINEIDR/GettyImages

A chamada "Medida Provisória do Futebol" tratava do refinanciamento de dívidas fiscais e trabalhistas dos clubes, além de pedir melhoras na gestão esportiva dos clubes. Mesmo com a aprovação e a sanção presidencial, mudanças práticas nas gestões dos clubes apenas com a chegada das SAFs.

O surgimento da Lei 14.193, que instituiu a Sociedade Anônima do Futebol Brasileiro, foi o passo mais importante para a profissionalização do esporte mais popular do Brasil, abrindo a possibilidade para clubes serem comandados por gestores nacionais, internacionais e grupo de investidores, fazendo mais dinheiro circular no futebol brasileiro e menor dependência dos Conselhos Deliberativos, uma característica marcante em clubes associativos.

Porém, o calendário do futebol brasileiro segue com o mesmo formato desde o 7 a 1, com equipes precisando se submeter à viagens longas com intervalos mínimos entre os jogos, principalmente devido à manutenção dos campeonatos estaduais no atual formato, uma necessidade vista por todos os presidentes da CBF para garantir votos em projetos futuros e reeleições.

"Ondas" de técnicos em busca de renovação no futebol de elite

Considerando que tivemos pouca ou nenhuma mudança estrutural no comando do futebol brasileiro, tivemos algumas tentativas em relação à qualidade do nível de jogo praticado entre os clubes, principalmente no Brasileirão Série A, competição de futebol mais importante do país.

O fracasso de Felipão no comando da Seleção e a necessidade de renovação levou à uma "onda" de aposta em auxiliares e técnicos novatos em diversos clubes. O auge deste situação ocorreu em 2016, quando Fábio Carille conquistou o título do Brasileirão 2017 e um tricampeonato paulista pelo Corinthians.

Jorge Jesus
Jorge Jesus, campeão da Libertadores pelo Flamengo / Jam Media/GettyImages

No entanto, o sucesso no Corinthians foi visto como exceção e torcedores de diversos clubes pediram ansiosamente pelo retorno de nomes antigos do futebol brasileiro até a temporada 2019, quando Jorge Jesus conquista o incontestável título do Brasileirão sob comando do Flamengo, enquanto Jorge Sampaoli consegue um surpreendente vice-campeonato com o Santos.

Desde então, o futebol brasileiro vive a sua segunda "onda" após o 7 a 1, com os técnicos estrangeiros sendo cada vez mais bem-vindos, causando uma necessidade de atualização e maior estudo em termos táticos, diminuindo a distância entre o futebol pensado no Brasil e na Europa.

Abel Ferreira
Abel Ferreira, campeão brasileiro pelo Pallmeiras / Pedro Vilela/GettyImages

A forte presença de técnicos estrangeiros no futebol brasileiro foi consolidada graças ao enorme sucesso de Abel Ferreira no comando no Palmeiras, fazendo muitas gestões de clubes e torcedores voltarem suas atenções definitivamente para treinadores argentinos e portugueses. Além dos citados, nomes como Paulo Pezzolano, Pepa, Ramón Díaz, Vitor Pereira, Petit e António Oliveira também passaram pelo futebol brasileiro.

Tivemos mesmo uma grande mudança no futebol brasileiro?

Podemos concluir que o futebol brasileiro avançou taticamente desde o 7 a 1 com um nível mais aprimorado de jogos no Brasileirão e na Copa do Brasil, deixando as equipes brasileiras mais fortes em torneios continentais como a Conmebol Libertadores e a Copa Sul-Americana. Houve também avanço na gestão esportiva com a chegada das SAFs e suas implementações em alguns clubes.

No entanto, tivemos poucos avanços em relação às questões estruturais, com a manutenção de um calendário defasado que deixa centenas de clubes brasileiros sem competições a partir do fim dos estaduais em abril, além da manutenção do mesmo estilo de gestão na CBF.