Opinião: até onde a Seleção Brasileira Feminina pode chegar nas Olimpíadas de Paris?
- Brasil teve ciclo encurtado e mudanças importantes em poucos meses
- Talento para competir no topo existe, mas a Canarinho não é favorita a medalha
Por Nathália Almeida
"Sonhar não custa nada. O meu sonho é tão real (...) Deixe a sua mente vagar, não custa nada sonhar."
- Paulinho Mocidade (1992)
Estes versos marcam a introdução de um dos sambas-enredo mais icônicos do carnaval carioca: Mocidade (1992), vice-campeã daquele ano, derrotada apenas pela Paulicéia Desvairada da Estácio de Sá, uma das maiores "catarses" que a Sapucaí já testemunhou ao longo de sua existência. Mas por qual motivo estamos falando de carnaval mesmo?
O retorno ao emblemático samba-enredo da Mocidade, de 1992, é o prelúdio perfeito na visão da autora deste artigo quando o assunto é Seleção Brasileira Feminina nos Jogos Olímpicos de Paris. Sonhamos, juntas, com o ouro olímpico inédito – mas sabemos que entre o querer e o realizar, há um caminho tortuoso, para o qual outras que também sonham, como nós, se prepararam melhor.
O ciclo da Canarinho até Paris foi encurtado, turbulento, marcado por um importante redirecionamento de curso – a "conservadora" e vitoriosa Pia Sundhage, demitida após o fracasso na Copa do Mundo de 2023, deu lugar ao "revolucionário" e também vitorioso Arthur Elias. O ex-Corinthians teve menos de um ano para trabalhar e preparar seu time visando as Olimpíadas, tempo insuficiente para assimilação total de ideias e construção de um novo DNA, necessário após o desempenho apático e irreconhecível da Canarinho no Mundial da Austrália.
Racionalmente, estes fatores citados anteriormente aliados ao fato do sorteio não ter sido nada "parceiro" da Seleção Brasileira – caímos em uma chave duríssima, com duas campeãs do mundo (Espanha e Japão) e a melhor representante africana, a Nigéria –, pintam um cenário preocupante para a Amarelinha no torneio de futebol feminino: em preparação de longo prazo e consolidação do trabalho em curso, estamos atrás de todas as nossas adversárias de chave. Precisamos compensar essa defasagem no talento individual e na ambição coletiva pelo objetivo de recolocar o Brasil no pódio, como protagonista. Estes, temos de sobra.
No embate entre razão x sonho, sejamos Mocidade
Não somos favoritas em Paris e todo o contexto destrinchado nos parágrafos anteriores aponta para uma jornada bastante desafiadora para Arthur Elias e suas comandadas. Mas, relembrando os versos que inauguraram este artigo, sonhar não custa nada: temos muitas virtudes neste elenco convocado para Paris, deixamos boa impressão nos compromissos que antecederam os Jogos e, segundo apuração de múltiplas fontes, o grande foco da reta final da preparação verde e amarela em solo francês tem sido a finalização, o "ponto fraco" do Brasil nos últimos anos.
As Olimpíadas de 2024 devem marcar a "última dança" de Marta com a Amarelinha, o que certamente traz uma motivação extra para este grupo de jogadoras, que tem a camisa 10 como referência máxima. Seis vezes melhor do mundo, a Rainha tem duas pratas olímpicas no currículo e um vice-campeonato mundial (2007) – o lugar mais alto do pódio, justamente no torneio que pode marcar sua despedida da Canarinho, seria a consagração derradeira de uma das maiores carreiras que o esporte já viu.
Por Marta, por todo o elenco canarinho que está em Paris, pelas pioneiras, por todas as atletas do futebol feminino e por todas as meninas que amam jogar bola, sonhemos. Não custa nada.