Para Abel Braga, o meu sincero muito obrigada

Abel Braga anunciou sua aposentadoria enquanto treinador de futebol
Abel Braga anunciou sua aposentadoria enquanto treinador de futebol / Buda Mendes/GettyImages
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Peço licença ao 90min, mas eu preciso fazer um agradecimento. E esse é dos mais especiais.

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Abel Braga e Fluminense: uma história de alegrias, lágrimas e eternidade / AFP/GettyImages

Você não me conhece, Abel, mas o futebol tem dessas coisas: singular e apaixonante - é, afinal, o esporte mais amado do planeta -, ele nos permite construir relações profundas e atemporais com quem sequer imagina que a gente existe.

Por mera formalidade, vou me apresentar: me chamo Nathália Almeida, sou jornalista e torcedora do Fluminense, tricolor de arquibancada desde os anos finais da década de 1990. Tempos difíceis.

As lembranças de 1999 falham por minha pouca idade à época, mas 2005 segue claro e cristalino na cabeça, em todos os seus altos e baixos. Eu estava na extinta geral naquela final do gol redentor de Antônio Carlos, que nos deu o título carioca sobre o Volta Redonda.

É uma das minhas primeiras memórias felizes envolvendo o futebol e você, Abel, estava lá.

Mas o esporte é um mero recorte da vida como ela é, feita de êxtases e agonias, conquistas e decepções, felicidades e tristezas. Então, Abel, você também estava lá na minha primeira grande desilusão como torcedora do Flu: o inesperado vice da Copa do Brasil, naquele mesmo ano. Doeu.

Nossos caminhos se separaram por um tempo, outra coisa natural do futebol e da vida como ela é. Logo te vi sorrindo ao conquistar o continente e em seguida o mundo vestindo vermelho, e apesar desta não ser a minha camisa e o meu destino, eu sorri com você. Estranho, né? Talvez nem tanto.

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Abel conquistou a América e o Mundo em 2006, pelo Internacional / JEFFERSON BERNARDES/GettyImages

Eu sabia que nossa história não tinha terminado, e apesar do longo hiato até a reunião, ela se deu em grande estilo. A volta em 2011 semeou o caminho para um intenso 2012, inaugurado com o Cariocão inapelável e finalizado com o tetracampeonato nacional.

O Brasileirão de Fred, de Diego Cavalieri, e também de Abel Braga. Muito de Abel Braga, aliás.

Nada mal, né?

Bem, houve a eliminação para o Boca Juniors nas quartas da Copa Libertadores. Chorei naquele dia, confesso. Conquistar a América parecia um sonho real com aquele time e contigo à beira do campo. Mas não deu. Maldito Santiago Silva...

Sei que estou me alongando, mas esse amontoado de palavras tem um propósito. Vou chegar lá.

Quando a gente ri, chora, vibra e sente junto, acaba virando simbiose.

Acaba virando família.

Como sua família, Abel, eu e dezenas de milhares de tricolores presentes nas arquibancadas do Maracanã tentamos te abraçar naquela partida contra o Atlético-GO, em 2017. Sentimos a partida do João Pedro como se fosse nosso irmão.

Foi o minuto de silêncio mais profundo e doloroso que o futebol brasileiro já presenciou.

Abel Braga
Abel Braga continuou no comando do Fluminense mesmo após a perda de seu filho, João Pedro / Buda Mendes/GettyImages

"Nós sabemos que é profunda a sua dor, conte sempre com a torcida tricolor", era um dos versos da música que cantamos para você naquele dia.

Dividimos dores e perdas, algumas maiores e mais difíceis de entender, como João.

Dividimos sorrisos e festas, algumas maiores e inesquecíveis, como o tetra em Presidente Prudente.

Dividimos desentendimentos, como o seu "sim" ao nosso maior rival, o Flamengo.

(Não entendi legal não, mas já passou!)

Dividimos pedidos de desculpas, como a ovação pelo Carioca de 2022, após os imerecidos gritos de 'burro' que você escutou no início do ano.

Abel Braga
Abel Braga terminou sua jornada como treinador com título / Buda Mendes/GettyImages

Dividimos lágrimas e celebrações, como família. E família, você sabe: é atemporal. Pra sempre.

Para Abel Braga, o meu sincero muito obrigada.

De sua amiga desconhecida,

Nathália.