Pertencimento negado e silenciamento: o futebol ainda agride mulheres, mas nós não desistiremos dele
Por Nathália Almeida
Depois que o atacante Marco Asensio anotou o segundo gol da vitória do Real Madrid por 3 a 1 sobre o Liverpool - pelo jogo de ida das quartas de final da Champions League -, a goleira Maria Isabel, do time feminino merengue, utilizou uma rede social para celebrar o triunfo e ao mesmo tempo passar uma importante mensagem: com os dizeres 'Misma Pasión' ['Mesma paixão'] e duas fotos em que ela e Asensio estão em poses bem semelhantes de celebração, a arqueira quis mostrar que o amor pelo futebol independente de gênero, classe, raça e orientação sexual. Uma publicação valiosa e necessária nos tempos atuais, mas que infelizmente acabou sendo apagada pela autora após uma série de ataques machistas.
Ao longo desta quarta-feira (7), diversos jogadores do Real Madrid e, posteriormente, atletas de outras equipes e até mesmo contas oficiais de clubes, viralizaram a hashtag "#MismaPasión", transformando a frase de Maria Isabel em uma espécie de campanha pelo tratamento igualitário no futebol. Marco Asensio, por sinal, foi um dos primeiros a aderir e deixou uma mensagem de apoio carinhosa para a companheira de trabalho: "Que nada e nem ninguém te impeçam de dizer o que pensas", publicou.
Oprimidas nas arquibancadas, questionadas dentro das quatro linhas e menosprezadas nos microfones e nas cabines de transmissão, mulheres convivem desde sempre com o silenciamento no meio esportivo. Infelizmente, é raro encontrar uma de nós que não tenha passado por algum tipo de constrangimento, como os "clássicos" questionamentos sobre a origem do nosso interesse por futebol e profundidade do nosso conhecimento sobre o clube que amamos. Uma violência que parece sutil, mas que é cometida conscientemente pelo interlocutor, com a intenção clara de marcar uma posição de superioridade: mulheres nunca gostarão ou entenderão de futebol como homens.
O futebol ainda agride mulheres, de múltiplas maneiras. Nosso entendimento, nossa bagagem e sentimento de pertencimento estão sempre sob ataque ou desconfiança. Condições igualitárias e protagonismo também nos são negados. Contudo, mesmo diante de tantas condições adversas, nós não desistiremos dele: sejamos nós mulheres da imprensa, atletas, árbitras, torcedoras, narradoras, sejamos nós Maria Isabel, Marta, Sissi ou Edina Alves, o futebol é o que nos move e o que faz nosso coração bater mais forte. E continuaremos lutando para transformá-lo em um espaço mais acolhedor, que abrace igualmente todos aqueles que quiserem amá-lo.