Pertencimento negado e silenciamento: o futebol ainda agride mulheres, mas nós não desistiremos dele

Goleira do Real Madrid foi vítima de ataques machistas nas redes
Goleira do Real Madrid foi vítima de ataques machistas nas redes / Fran Santiago/Getty Images
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Depois que o atacante Marco Asensio anotou o segundo gol da vitória do Real Madrid por 3 a 1 sobre o Liverpool - pelo jogo de ida das quartas de final da Champions League -, a goleira Maria Isabel, do time feminino merengue, utilizou uma rede social para celebrar o triunfo e ao mesmo tempo passar uma importante mensagem: com os dizeres 'Misma Pasión' ['Mesma paixão'] e duas fotos em que ela e Asensio estão em poses bem semelhantes de celebração, a arqueira quis mostrar que o amor pelo futebol independente de gênero, classe, raça e orientação sexual. Uma publicação valiosa e necessária nos tempos atuais, mas que infelizmente acabou sendo apagada pela autora após uma série de ataques machistas.

Ao longo desta quarta-feira (7), diversos jogadores do Real Madrid e, posteriormente, atletas de outras equipes e até mesmo contas oficiais de clubes, viralizaram a hashtag "#MismaPasión", transformando a frase de Maria Isabel em uma espécie de campanha pelo tratamento igualitário no futebol. Marco Asensio, por sinal, foi um dos primeiros a aderir e deixou uma mensagem de apoio carinhosa para a companheira de trabalho: "Que nada e nem ninguém te impeçam de dizer o que pensas", publicou.

Oprimidas nas arquibancadas, questionadas dentro das quatro linhas e menosprezadas nos microfones e nas cabines de transmissão, mulheres convivem desde sempre com o silenciamento no meio esportivo. Infelizmente, é raro encontrar uma de nós que não tenha passado por algum tipo de constrangimento, como os "clássicos" questionamentos sobre a origem do nosso interesse por futebol e profundidade do nosso conhecimento sobre o clube que amamos. Uma violência que parece sutil, mas que é cometida conscientemente pelo interlocutor, com a intenção clara de marcar uma posição de superioridade: mulheres nunca gostarão ou entenderão de futebol como homens.

O futebol ainda agride mulheres, de múltiplas maneiras. Nosso entendimento, nossa bagagem e sentimento de pertencimento estão sempre sob ataque ou desconfiança. Condições igualitárias e protagonismo também nos são negados. Contudo, mesmo diante de tantas condições adversas, nós não desistiremos dele: sejamos nós mulheres da imprensa, atletas, árbitras, torcedoras, narradoras, sejamos nós Maria Isabel, Marta, Sissi ou Edina Alves, o futebol é o que nos move e o que faz nosso coração bater mais forte. E continuaremos lutando para transformá-lo em um espaço mais acolhedor, que abrace igualmente todos aqueles que quiserem amá-lo.