Por que Benfica e Ajax pode ser considerado um dos confrontos mais ricos, em história, desta Champions?
Por Lucas Humberto
Quando Benfica e Ajax entrarem em campo nesta quarta (23), em duelo da Champions League, estaremos testemunhando a mais antiga das histórias sobre futebol moderno. Claro que você pode deve ficar de olho nos goleadores Antony, Sébastien Haller, Darwin Núñez etc. Não restam dúvidas acerca disso. Contudo, os livros da modalidade mais popular do mundo reservam páginas muito mais preciosas sobre o embate entre holandeses e lusos.
Benfiquistas e Ajacieden foram dois gigantescos expoentes do que nós conhecemos hoje como futebol europeu. Se nos dias atuais somos pautados pelo que é feito nos gramados do Velho Continente, devemos muito aos anos de 1960 e 70. Não por acaso foram décadas de afirmação dos dois clubes. Muito antes da conhecida Champions League, havia a Copa dos Campeões. E, claro, havia Johan Cruyff e Eusébio na vanguarda.
Sobre luz, França e flores holandesas
Antes de qualquer avançarmos para qualquer outro ponto precisamos retornar aos longínquos anos de 1968/69. Quartas de final da Copa dos Campeões. Cruyff, Piet Keizer, Sjaak Swart de um lado. Eusébio, Mário Coluna, António Simões do outro. Sob a cortante neve do rigoroso inverno europeu, os encarnados foram mais gélidos que a sensação térmica: 3 a 1 em Amsterdã.
Da colorida capital holandesa para o Estádio da Luz sob o olhar de 60 mil espectadores. A missão de Rinus Michels e seus comandados não poderia ser mais complicada. Ainda bem que Cruyff já era Cruyff. Um recital do futuro ídolo do Barcelona garantiu outro 3 a 1, levando a decisão ao Estádio Olímpico de Colombes, na França.
Sob olhares de quantas pessoas estivessem vivas na época, os ajacieden venceram por 3 a 0 na prorrogação, após 90 minutos duríssimos. No fim, o status físico de Cruyff e demais companheiros pesou diante do mais experiente (ou envelhecido, caso você prefira) plantel luso. Semifinalista, o Ajax superou o Spartak Trnava. Na grande decisão, o Milan venceu.
Não tinha problema, a consagração dos holandeses no torneio europeu viria logo em 1971. E em 72. E novamente em 73. Sim, de forma consecutiva. Aliás, a vitoriosa geração neerlandesa enfrentou os encarnados outra vez na semifinal da temporada 1971/72. À época, a classificação do Ajax foi mais tranquila, mas não menos equilibrada: 1 a 0 na ida, empate sem gols na volta.
As equipes só se enfrentaram novamente na década passada. Pela campanha 2018/19, uma das mais memoráveis da história recente do clube da Eredivisie, ainda na fase de grupos, Noussair Mazraoui garantiu a vitória por 1 a 0, na Johan Cruyff Arena. Posteriormente, já nos domínios do Benfica, empate em 1 a 1, gols de Jonas e Dusan Tadic.
Agora. Século XXI. Década de 2020. Um novo encontro de dois praticantes do futebol moderno muito antes de virar moda. Vitória, empate, classificação? Claro que você deve ficar de olho nisso. Por Deus, são as oitavas de final da Champions League. Todo mundo está de olho nisso. Mas o embate pode proporcionar algo que vai além: arte. A mais pura arte.