Quarto rebaixamento do Vasco é fruto de um golpe político selado pelo euriquismo
Por Breiller Pires
Diante do quarto rebaixamento em pouco mais de 12 anos, torcedores vascaínos podem apontar em várias direções em busca de culpados. Elenco aquém da tradição e do peso da camisa, as inúmeras falhas da defesa, promessas da base que não vingaram, a dependência de Germán Cano ou até mesmo o retorno decepcionante de Vanderlei Luxemburgo integram, sem dúvida, o pacote que decretou a queda.
Mas é preciso voltar mais no tempo para entender quando e como o Vasco começou a ser rebaixado. O bilhete para a segunda divisão foi assinado ainda em janeiro de 2018, quando Alexandre Campello protagonizou uma abjeta manobra política para se tornar presidente do clube.
Com o apoio do então benemérito e ex-presidente Eurico Miranda, o médico injetou o pior remédio possível para a instabilidade política da qual o clube padece há vários anos. Rompeu com Júlio Brant no segundo turno da eleição, virou a casaca e, contrariando a vontade expressa nas urnas pela maioria dos sócios, consagrou o modo euriquista de fazer futebol vencendo a votação indireta.
A gestão à frente do clube acumulou vexames esportivos e institucionais. Durante seu mandato, o time não venceu o maior rival Flamengo, algo tão valorizado por seu padrinho Eurico. Não conquistou nenhum título nem se mostrou competitivo nos torneios de mata-mata. Fora do campo, desgastou a imagem de uma instituição que se diz engajada em questões sociais ao tentar fazer média com autoridades, empresários e cartolas de valores opostos aos do clube, como a lamentável homenagem ao Coronel Nunes, ex-presidente da CBF e notório apoiador da ditadura militar.
"Para a história cruzmaltina, ainda sabotada pelos rastros do euriquismo, a assinatura de Campello estará em destaque como um nome a ser lembrado de forma nada saudosa"
Apesar da campanha que angariou mais de 150.000 novos sócios-torcedores, Campello não conseguiu pôr ordem nas finanças vascaínas. Descumpriu vários combinados de parcelamento e acerto de salários com o elenco, aumentando o desgaste das relações internas. Com o baixo orçamento, cometeu o pecado de errar demais na contratação de reforços — Cano e Benítez estão entre as raras exceções que emplacaram.
Pela forma como chegou ao poder, o ex-presidente jamais esteve perto de pacificar o ambiente político do clube. Em vez de atender aos apelos da torcida e desistir de concorrer a um novo mandato, Campello resolveu tentar o improvável. De olho no pleito, demitiu Ramon Menezes e, com uma cartada eleitoreira, trouxe um técnico estrangeiro para acalmar opositores e correligionários. O português Sá Pinto não durou nem três meses no cargo.
Novamente, mesmo após a morte de Eurico, a eleição do Vasco descambou em baixaria, caso de polícia e acusações de fraude. Campello foi um fracasso nas urnas. Apoiado pelo baixo clero euriquista, Leven Siano manobrou na Justiça e nos bastidores, mas não foi capaz de impedir a vitória de Jorge Salgado, que só tomou posse no fim de janeiro, depois de muitos recursos nos tribunais.
Em meio ao caos político, o Vasco perdeu tempo precioso. Primeiro, ao demorar a demitir Sá Pinto. Segundo, por atrasar a renovação com Benitez, que desfalcou a equipe em jogos importantes. Por fim, ao contratar um novo treinador. Luxa não era a primeira opção, mas acabou acionado após o clube não chegar a um acordo com Zé Ricardo. Era tarde demais.
No futuro, Campello dirá que, sob seu comando, o Vasco não foi rebaixado, pois deixou a cadeira antes da queda se confirmar. Entretanto, para a história cruzmaltina, ainda sabotada pelos rastros do euriquismo, a assinatura do ex-presidente estará em destaque como um nome a ser lembrado de forma nada saudosa. A bola cobrou o preço do cartola que desrespeitou sócios e a torcida em troca do poder.