Roger Machado diz que passagem pelo Bahia foi determinante em sua vida e explica por que só assume um time por ano

Em carta ao The Players' Tribune, o treinador revelou que o clube baiano fez com que se sentisse empoderado para falar sobre assuntos além do futebol
Em carta ao The Players' Tribune, o treinador revelou que o clube baiano fez com que se sentisse empoderado para falar sobre assuntos além do futebol / Miguel Schincariol/GettyImages
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Um dos raros técnicos negros a conseguir espaço em clubes de ponta no Brasil, Roger Machado voltou a falar sobre representatividade e inclusão no mês da Consciência Negra. Em carta ao The Players' Tribune, o treinador descreve a passagem pelo Bahia, que comandou entre 2019 e 2020, como um divisor de águas em sua existência como homem negro.

"O futebol também me abriu muitas janelas. Talvez a mais representativa delas, contribuindo para que eu me enxergasse de forma completamente diferente, é a do Bahia. Ou melhor, da Bahia. Ter morado por 18 meses em Salvador foi uma experiência memorável. Não só por ter trabalhado num clube onde eu me senti encorajado e empoderado para falar sobre valores sociais que compartilhamos, mas por ter sido o lugar onde resgatei minha ancestralidade", iniciou o técnico, que diz ter se sentido representado pela maior prevalência da população negra na capital baiana.

"Já tinha visitado e passado férias em Salvador, mas nada se compara ao aprendizado diário de morar numa cidade onde eu me sentia representado nas ruas. De alguma maneira, eu me senti como parte do normal na Bahia. Eu descobri a minha existência ancestral", conta.

Na época em que morou no estado, Roger fez um teste de DNA para descobrir suas origens. O mapa genético revelou que o técnico carrega uma mistura de etnias nigeriana, queniana, italiana e andina.

Na mesma carta, o treinador ainda explica o motivo de só assumir um clube por temporada ao longo da carreira. "Não existe estabilidade para treinadores no Brasil. É comum não durarmos quatro, cinco meses no cargo", argumenta.

"A única vez que levei minha família para morar comigo foi durante o período no Atlético Mineiro, mas percebi que isso não faria bem às gurias. Tiveram dificuldades para se adaptar a Belo Horizonte e à nova escola, sem contar o quanto acabavam afetadas pelos momentos de turbulência e a instabilidade do meio. Depois dessa experiência, entendi que o melhor para elas era ficar em Porto Alegre com minha mulher. Se estou empregado, a gente tenta se encontrar ao menos duas vezes por mês. Se me mandam embora, aproveito o resto do ano para equilibrar a ausência dos últimos meses."

Leia a carta de Roger Machado na íntegra.