Sampaoli pode deixar o Flamengo? 'Caso Pedro' tem desdobramentos, e futuro está em xeque; técnico se pronuncia
- Centroavante levou um soco do preparador físico Pablo Fernández
- Flamengo aguarda posicionamento definitivo do treinador argentino
Por Fabio Utz
O soco desferido em Pedro pelo preparador físico Pablo Fernández pode ter influência direta no futuro de Jorge Sampaoli à frente do comando técnico do Flamengo. O domingo tende a ser decisivo para o clube entender a postura do treinador diante deste fato e, a partir disso, buscar um consenso a respeito de como fica a relação entre as partes.
Fernández, até mesmo pela postura rígida do grupo de atletas diante do fato, não seguirá seu trabalho no Rubro-Negro - os jogadores ameaçaram não treinar se este profissional estivesse presente no CT neste domingo. Como o preparador é um companheiro de longa data de Sampaoli, este terá total liberdade para se posicionar, demonstrando desejo de continuar no Fla ou, em solidariedade ao amigo, também se retirar.
Se sabe, de antemão, que a relação do técnico com o vice de futebol Marcos Braz já não é das mais próximas, tanto que no voo de volta da delegação após a vitória por 2 a 1 sobre o Atlético-MG, em Belo Horizonte, pelo Campeonato Brasileiro, tiveram apenas uma rápida conversa. Por sua vez, Pedro e Fernández ficaram na capital mineira.
O caso
Fernández questionou Pedro por ter sentado no banco de reservas após as entradas de Luiz Araújo e Everton Cebolinha. Sampaoli ainda tinha uma substituição a fazer, e o preparador físico não gostou da atitude do atleta. Ambos discutiram, e o centroavante levou um soco na boca. O caso, claro, foi parar na polícia, com queixa prestada e a realização de exame de corpo de delito.
"Após o jogo, o atleta Pedro sofreu um golpe na face após uma breve discussão com o preparador físico. Ele questionou Pedro por não ter aquecido no segundo tempo. Pedro não gostou de ter sido interpelado, disse que não queria fazer o aquecimento e recebeu tapinhas no rosto do preparador. Pedro não gostou e tirou as mãos. Então, o preparador deu um passo para trás e desferiu um soco na face do jogador. Fizemos as oitivas, procedemos o Termo Circunstanciado e vamos encaminhá-lo ao Ministério Público. O jogador, portanto, representou o caso."
- Delegado Marcos Pimenta
O que Pedro escreveu nas redes sociais
Poderia estar aqui falando dos escassos minutos recebidos nos últimos jogos, mas o que aconteceu hoje foi mais grave do que pode acontecer dentro das quatro linhas. Covardemente, sem motivo e inexplicavelmente, fui agredido, com um soco no rosto, por Pablo Fernandez, membro da comissão técnica do Sampaoli.
A covardia física se sobrepôs diante da covardia psicológica que tenho sofrido nas últimas semanas.
Alguém que se acha no direito de agredir o outro não merece respeito de ninguém. Já passei por muitas provações aqui no Flamengo, mas nada se compara com a covardia sofrida hoje.
Que Deus perdoe uma pessoa que, em pleno 2023, acha que uma agressão física possa resolver qualquer problema. Obrigado JESUS pelo ensinamento, dando a outra face.
Pai e mãe, obrigado pela educação que me deram.
A primeira manifestação de Sampaoli
Não acredito na violência como solução. Isso não nos leva a lugar nenhum. Nem na vida, nem no futebol. Ao longo da minha carreira, vi tantas lutas e elas sempre me deixaram com uma sensação de vazio. O que aconteceu ontem me deixou muito triste. Ofuscamos uma vitória impressionante com uma disputa interna cujas razões existem, mas neste momento não importam.
A história me mostrou que a única solução é a conversa. Mesmo quando errei ou vi o erro dos outros. Eu tenho fé na palavra. Que é uma forma de ter fé no ser humano. Porque a violência nos separa e a conversa nos une.
Quando eu era criança e comecei a jogar futebol, as brigas dentro e fora do campo eram muito comuns. Assim como muitas coisas no mundo mudaram para pior, algumas mudaram para melhor. A violência é menos aceita a cada dia como forma de resolver as coisas. É uma transformação que levará tempo. Não será de um dia para o outro. Todos nós temos o direito de cometer erros. Porque temos a possibilidade de nos transformarmos. Para ser melhor.
Eu sou o condutor desta equipe. Me dói muito quando dois colegas de trabalho brigam. Mais do que a violência. Os treinadores não se dedicam apenas à tática e à preparação dos futebolistas. Acima de tudo, trabalhamos para gerir grupos. Tentamos melhorar e cuidar das pessoas.
Não tenho dormido pensando em como ajudar Pedro e Pablo. Sei que vocês dois tiveram uma noite horrível. E que, aconteça o que acontecer, temos a obrigação de nos cuidar. Para nos mudar Para unir. Para ser melhor. E colocar o Flamengo no topo.
Neste momento, nada se descarta. Até mesmo a permanência do técnico sem seu fiel escudeiro.