Sanções do governo britânico a Abramovich atingem Chelsea em cheio; trio pode estar de saída
Por Lucas Humberto
Roman Abramovich terá de redirecionar sua rota de fuga dos problemas que vieram à tona assim que o conflito armado entre Rússia e Ucrânia teve início. Nesta quinta-feira (10), o bilionário, dono do Chelsea, bem como outro seis oligarcas russos, tiveram seus bens congelados pelo governo do Reino Unido. E como de costume em momentos de guerra, sentirá o impacto quem pouco tem relação direta com os acontecimentos no campo de batalha literal e figurado: o time e seus torcedores.
De imediato, Abramovich terá de interromper o processo de venda do clube. As sanções, amplas e claras, evidenciam o que não será tolerado: proibição de transações com indivíduos e empresas do Reino Unido, proibição de viagens e sanções de transportes. "Não pode haver refúgio seguro para aqueles que apoiaram o ataque de Putin à Ucrânia", destacou Boris Johnson, primeiro-ministro britânico após anúncio do congelamento de bens do grupo de oligarcas.
Em termos práticos, isso significa que os Blues não poderão: a) renovar o contrato dos seus jogadores; b) operar no mercado de transferências; c) vender produtos relacionados ao clube nas lojas oficia; e d) comercializar ingressos. A partir desta quinta, só irá poder acompanhar a equipe in loco quem tiver comprado o carnê de toda a temporada 2021/22.
Apesar da série de proibições, as equipes masculina e feminina seguirão o curso de compromissos normal da temporada. Em nota emitida também nesta quinta, o Chelsea explicou que irá argumentar com o Reino Unido em prol da alteração da licença para "permitir que o clube opere o mais normal possível".
Veja o comunicado na íntegra:
Em virtude da sua participação total no Chelsea e entidades afiliadas, o Chelsea FC estaria normalmente sujeito ao mesmo regime de sanções que o Sr. Abramovich. No entanto, o governo do Reino Unido emitiu uma licença geral que permite ao clube continuar certas atividades.
Cumpriremos nossos jogos de equipes masculinas e femininas nesta quinta-feira (10) contra Norwich e West Ham, respectivamente, e pretendemos nos envolver em discussões com o governo do Reino Unido sobre o escopo da licença. Isso incluirá a solicitação de permissão para que a licença seja alterada para permitir que o clube opere o mais normal possível. Também buscaremos orientação do governo do Reino Unido sobre o impacto dessas medidas na Fundação Chelsea e seu importante trabalho em nossas comunidades.
O clube atualizará mais quando for apropriado.
Segundo Nadine Dorries, ministra do Esporte da Grã-Bretanha, governo e liga irão trabalhar juntos para que as sanções não prejudiquem mais o atual campeão da Champions League: "Os clubes de futebol são bens culturais e a base de nossas comunidades. Estamos comprometidos em protegê-los", explicou através do Twitter.
O iceberg de Stamford Bridge
Em poucas palavras, o Chelsea está proibido de realizar operações financeiras - de todo o tipo -, mas esta é apenas parte de um problema muito maior. O que acontece quando uma empresa fica sem capital? Ela perde seus funcionários antes mesmo de se perder. Pensando no curto prazo, três rostos conhecidos podem não ter permanência assegurada em Stamford Bridge: Andreas Christensen, Antonio Rüdiger e César Azpilicueta. Dos três, dois são pilares de Thomas Tuchel. Eles têm contrato válido somente até junho deste ano.
Aliás, o processo de extensão contratual do trio era tópico constante das entrevistas do treinador alemão. Christensen, por exemplo, está sendo fortemente ventilado no Barcelona nos últimos dias. De acordo com apuração da imprensa estrangeira, o zagueiro deve assinar por cinco anos com os culés. Sobre os rumores, Tuchel foi enfático: "Está claro e não estamos felizes com isso. Temos que considerar a possibilidade de ele nos deixar. Vamos gostar? Não…"
Azpilicueta, por sua vez, também apareceu diversas vezes na lista de desejos da equipe blaugrana, embora a situação do polivalente espanhol seja um pouco mais delicada, uma vez que ele não só detém a faixa de capitão como é um dos atletas mais queridos do elenco. Por fim, Rüdiger, que está entre os melhores zagueiros da atualidade, está entre os alvos do Real Madrid. Todos eles podem deixar o Chelsea de graça.
É improvável que a situação permaneça assim nos próximos meses, mas o problema pode ficar ainda maior numa perspectiva de longo prazo. Thiago Silva, Jorginho, Marcos Alonso e N'Golo Kanté só têm mais um ano de contrato. Isso sem contar que novas contratações não estão autorizadas por enquanto.
Em meio às turbulências, os Blues se preparam para entrar em campo nesta quinta-feira (10), contra o Norwich, fora de casa, pela Premier League. Parte da torcida, que sequer conseguiu se despedir do seu time do coração pessoalmente, vê o iceberg da geopolítica internacional mais próximo de atingir o orgulho londrino. A torcida, hoje, está sendo punida pelos pecados de Abramovich.