Simbiose, resgate do orgulho, afeto e títulos: a história de Jürgen Klopp no Liverpool foi completa

  • Treinador alemão se despede de Anfield neste domingo, 19 de maio
  • Contratado em outubro de 2015, Klopp recuperou o orgulho do torcedor dos Reds
Klopp está entre os maiores treinadores da história do futebol mundial
Klopp está entre os maiores treinadores da história do futebol mundial / Matthias Hangst/GettyImages
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"Não vou me chamar de nada. Sou um cara normal da Floresta Negra, e minha mãe está assistindo à entrevista em casa. Se forem me chamar de alguma coisa, me chamem de 'Normal One' [risos] Não sou um sonhador, mas um romântico. Eu amo as histórias, e o Anfield é um dos melhores lugares no mundo do futebol. Se ficar aqui por quatro anos, acho que podemos conquistar um título. Estou certo disso."

Klopp, em outubro de 2015

A primeira entrevista coletiva de Jürgen Klopp como treinador do Liverpool, concedida no dia 9 de outubro de 2015, era o "cartão de visitas" perfeito do que seria o seu longo tempo em Anfield. Entre brincadeiras e sorrisos largos, mas também falando sério quando necessário, o alemão revelou à sociedade inglesa, quase de imediato, uma de suas maioridades virtudes: a autenticidade.

Em um futebol cada vez mais robótico, plastificado e glamourizado, o filho de dona Elisabeth era e ainda é "rompedor" e revolucionário simplesmente por se manter fiel ao seu jeito de ser: carismático, honesto e genuíno, um oásis de simplicidade em meio a um universo em que os grandes egos e a vaidade parecem dar o tom.

Jurgen Klopp
Klopp foi anunciado pelo Liverpool em outubro de 2015 / Alex Livesey/GettyImages

Mas ninguém se torna ídolo de um clube apenas pelo estilo despojado e pelas gargalhadas que arranca, não é mesmo? A camaradagem abriu portas, aproximou Klopp das exigentes arquibancadas vermelhas, mas para conquistá-las em definitivo, o treinador alemão sabia que precisava de títulos. E alcançá-los seria tarefa ingrata, afinal, se deparava naquele momento de chegada com um Liverpool abatido, carente de referências e sem perspectivas de feitos grandiosos a curto prazo.

O primeiro ano de Klopp em Anfield foi o primeiro ano do clube sem Steven Gerrard. O artilheiro Luis Suárez havia se despedido uma temporada antes, rumando ao Barcelona. Além do adeus de ídolos, o Liverpool ainda digeria a perda do título da Premier League 2013/14, edição que os Reds lideravam até a antepenúltima rodada, mas que acabou "caindo no colo" do Manchester City graças ao vacilo do time vermelho no momento mais agudo da competição.

Tratava-se, portanto, de um projeto de reconstrução profunda e recuperação do orgulho ferido de uma torcida machucada. Missão tranquila, não é mesmo? A contrapartida recebida por Klopp, além do privilégio de comandar um clube histórico, foi o tempo – este fator fundamental no esporte de alto rendimento, infelizmente tratado como irrelevante no futebol brasileiro.

Agora retorne ao parágrafo inicial desse artigo, mais especificamente ao trecho final da fala de Klopp em sua primeira coletiva: "Se ficar aqui por quatro anos, acho que podemos conquistar um título". Alguns vão falar em profecia, outros em confiança no processo, mas o fato é que três anos e meio depois da entrevista, o alemão, enfim, ergueu seu primeiro troféu em Anfield: a Champions League 2018/19, batendo o rival Tottenham na grande final. Na temporada seguinte, liderou a equipe ao fim da incômoda seca nacional, celebrando a primeira conquista histórica do clube na "era moderna" da Premier League.

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Klopp conquistou a Premier League em 2019/20 / LAURENCE GRIFFITHS/GettyImages

Sob seu comando, o Liverpool voltou a competir no topo, voltou a ser candidato em toda e qualquer competição. Sob sua regência, o torcedor do Liverpool voltou a sorrir – a desesperança deu lugar ao otimismo, e os domingos em Anfield voltaram a ser motivo de euforia. Em uma das histórias de simbiose mais bonitas que o futebol contemporâneo nos permitiu acompanhar, Klopp e Liverpool foram, um para outro, exatamente o que eles precisavam naquele momento de suas respectivas existências.

Por isso, o adeus jamais poderia ser triste – será um agradecimento em uníssono, uma ovação ao "Normal One", que mudou os rumos do jogo com seu jeito singular de ser e viver o clube de Anfield. E mesmo que esteja longe de Merseyside, Klopp sabe: ele nunca mais caminhará sozinho, onde quer que vá.


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