Superliga Europeia em detalhes: cifras, gigantes envolvidos, formato de disputa e críticas
Por Lucas Humberto
Grandes clubes da Europa decidiram romper com a Uefa para criar uma nova liga continental, em oposição às ligas nacionais. A nova competição já teria participação de pelo menos 12 grandes times da Inglaterra, Espanha e Itália, incluindo Juventus, Manchester United, Liverpool, Real Madrid e Barcelona, conforme informações do The New York Times.
Embora nenhum clube tenha se manifestado oficialmente, a entidade europeia já ameaçou punir os envolvidos. Por meio de nota, a Uefa afirmou ter apoio da Fifa, além de federações da Espanha, Itália e Inglaterra. "O projeto se baseia no interesse de alguns clubes em um momento em que a sociedade precisa mais do que nunca da solidariedade", afirmou o comunicado.
A nota também rechaça o modelo previsto na chamada Superliga: "O futebol é baseado em competições abertas e mérito esportivo; não pode ser de outra maneira". Ainda não há muitos detalhes sobre esta nova liga, mas o jornal estadunidense revela que seus princípios são mais parecidos com a National Football League (NFL) e National Basketball Association (NBA) do que com o modelo atual do futebol.
A Uefa pretendia, nesta segunda-feira (19), anunciar novidades na próxima edição da Champions League. No entanto, a possível Superliga roubou os holofotes do futebol europeu.
Entidades condenam prática
Embora 12 clubes estejam envolvidos na criação do torneio, outras grandes entidades se posicionaram contra. Times da Alemanha e França se opõe ao conceito, além da própria organização da Premier League, que divulgou uma carta condenando a liga.
"A Premier League condena qualquer proposta que atente contra os princípios da competição aberta e do mérito desportivo que estão no cerne da pirâmide do futebol nacional e europeu. Os torcedores de qualquer clube da Inglaterra e da Europa podem sonhar que seu time pode chegar ao topo e jogar contra os melhores. Acreditamos que o conceito de uma Superliga Europeia destruiria este sonho. A Premier League tem o orgulho de organizar uma competição de futebol competitiva e atraente que a tornou a liga mais assistida do mundo. Nosso sucesso nos permitiu fazer uma contribuição financeira incomparável para a pirâmide do futebol nacional. Uma Superliga Europeia irá minar o apelo de todo o jogo e terá um impacto profundamente prejudicial nas perspectivas imediatas e futuras da Premier League e dos seus clubes membros, e de todos aqueles no futebol que dependem do nosso financiamento e solidariedade para prosperar. "
Chrstian Seifert, diretor da liga alemã, destacou: "A Federação Alemã se opõe a qualquer conceito de Superliga Europeia. O interesse econômico de alguns gigantes europeus de Inglaterra, Itália e Espanha não pode modificar as estruturas estabelecidas do futebol europeu. Seria irresponsável e causaria um dano irreparável às ligas nacionais de futebol profissional. Apoio fortemente o comunicado da Uefa contra as federações nacionais de Inglaterra, Itália e Espanha".
Formato da Superliga
A reportagem afirma que o novo torneio contaria com 16 clubes fixos, semelhante ao modelo das franquias esportivas norte-americanas. Outros quatro times precisariam se enfrentar numa espécie de eliminatória. A Superliga iria dividir os times participantes em dois grupos de 10, sendo que os quatro melhores de cada chave seguiria na fase de mata-mata.
A proposta da competição prevê jogos no meio da semana, sendo que sábado e domingo seriam reservados às partidas de cada torneio nacional, como funcionam atualmente.
O novo torneio geraria centenas de milhões de dólares em receitas adicionais para equipes participantes, que já figuram entre os clubes mais ricos do futebol. As instituições estão em negociações com o JPMorgan Chase & Co., instituição financeira de Nova York, para arrecadar financiamento ao projeto. A empresa não se posicionou.
Oposições
Qualquer tipo de punição, no entanto, também não será simples. A Premier League, por exemplo, se resolver punir e retirar os clubes envolvidos no torneio perderá muito dinheiro e, sem sombra de dúvidas, prestígio.
Os times, por sua vez, deverão enfrentar muita resistência por parte dos torcedores, visto que a competição está sendo vista como "ilegítima e cínica".
De qualquer maneira, é um duro golpe no tradicional futebol europeu. A vinculação de grandes clubes ao conceito da Superliga revela faces de um elitismo que não deveria ser tão escancarado no futebol. Mudanças são válidas e precisam ser pensadas em qualquer instância esportiva. A necessidade criativa urge, mas ela não deve caminhar junto ao interesse dos mais ricos. Pelo contrário, o esporte sempre foi conhecido pelo caráter acolhedor e é nisso que precisa se espelhar. Quanto mais receptivo é um torneio, melhor ele chega ao seu torcedor.
Pelo visto, o Velho Continente ainda tem muito que aprender com a Copa do Nordeste.